Situações complexas, escolhas fáceis
É nesse complexo conjunto de situações, que se colocam os diversos candidatos, tendo por trás suas estruturas partidárias, apresentando-se como possibilidades reais, à alternância do poder governamental vigente. Vozes uníssonas, mas com graves dissonantes, à depender do viés político e ideológico que anima os propósito de cada um.
Inicio esta minha abordagem, ilustrando-a com a introdução de um texto produzido pelo economista Fernando Nogueira da Costa, professor da Unicamp. “Complexo é o conjunto, tomado como um todo mais ou menos coerente, cujos componentes funcionam entre si em numerosas relações de interdependência ou de subordinação. É de apreensão muitas vezes difícil pelo intelecto porque geralmente apresenta diversos aspectos. Como o cérebro humano abomina a complexidade, exigente de pensamento em diversos níveis de abstração e gradativa incorporação de elementos antes abstraídos até chegar às decisões práticas, tende a adotar o simplismo.
O propósito, é tentar problematizar uma questão, que liga-se diretamente a todo um espectro de decisões pessoais, mas que tem implicações para além das dimensões meramente do indivíduo, por tratar-se de um acontecimento que envolve toda a sociedade, com consequências substanciais e imprevisíveis, a depender das opções que se faça, e dos resultados alcançados, cujas implicações, podem comprometer gerações futuras.
Trata-se de momento crucial que estamos atravessando, com o processo de eleições presidenciais em curso, no qual é possível perceber, o grau de tensionamento entre as forças políticas que se colocaram na disputa, espraiando-se pelos múltiplos segmentos que compõem as diversas estratificações da sociedade brasileira.
É nesse complexo conjunto de situações, que se colocam os diversos candidatos, tendo por trás suas estruturas partidárias, apresentando-se como possibilidades reais, à alternância do poder governamental vigente. Vozes uníssonas, mas com graves dissonantes, à depender do
viés político e ideológico que anima os propósito de cada um.
Dentro do quadro que está plasmado esse ambiente, considerando os diferentes perfiz das candidaturas, uma em especial chama bastante atenção, pela polaridade que despertou no universo dos eleitores. Polaridade esta, calçada menos pela capacidade cognitiva apresentada pelo candidato, mais pelos factoides criados em seu entorno, ou pelas suas declarações que fogem ao padrão de razoabilidade civilizatória. Trata-se do então deputado, Jair Messias Bolsonaro.
Quem o vê discursando, se posicionando em relação a diversos problemas que circunstanciam a nossa realidade concreta, com algum grau de acuidade, perceberá a incapacidade do cidadão, em tratar questões de difíceis soluções, em função da verve vulgar do seu desconhecimento.
Nos permitimos, dentro de um imenso rosário de eventos, arrolar alguns, que dão a exata dimensão, de como Bolsonaro, do alto da sua inominável truculência verbal, e desprovido do menor senso de racionalidade, é capaz de produzir tamanho desatino, que choca, pela
virulência gratuita em que se expressa.
Escolhi estes, pois nos permite inferir, o quanto o pretenso candidato ao comando da República, demonstra a sua inábil capacidade de lidar com situações conflitivas do cotidiano e da realidade factual, que desafiam os homens públicos e o seu brutal despreparo, para lidar minimamente com essas questões que desafiam a ordem de uma sociedade que se pretende plural, no pleno gozo do exercício democrático.
Isso torna-se emblemático, na medida que desvela duas dimensões de Bolsonaro, dimensões estas ao meu olhar, fundamentais para quem tem a pretensão, de postular o maior cargo da República, a saber: a incapacidade de lidar com as diferenças, a pouca leitura, ou nenhuma, dos graves, profundos e desafiadores problemas que historicamente estão na raiz e se assentam, como obstáculos ao nosso pleno desenvolvimento econômico, social e humano.
Como os componentes dos diversos fatores que constituem uma unidade complexa, funcionam e se articulam entre si, em relações de interdependência, de coesão, de complementariedade ou de subordinação, imperativo se faz, uma maior e melhor leitura dos aspectos transversais que perpassam esses fenômenos, sem o que, não se é possível clareza, percepção, compreensão dessa totalidade dinâmica. Mas como exigir de Bolsonaro tal proeza, face a maneira obtusa com que sempre se manifesta?
Vejamos: 1 – Numa reunião de empresários do setor rural, onde estavam expostas determinadas armas, Bolsonaro de forma desenvolta, em um dado momento, manipulando as armas, apresenta uma pistola e diz que o cidadão de bem, (mostrando a arma), vai ter isso aqui em casa; 2 – Ato contínuo, ergue um fuzil, e com aquele tom que lhe é bem característico, entre o escárnio e a prepotência, afirma que o produtor rural, no que depender dele, terá um fuzil como cartão de vista para receber os invasores à bala e finaliza com uma “célebre” frase, “povo armado, jamais será escravo”; 3 – Numa entrevista ao programa “CQC”, ao ser indagado porque era contra as cotas, respondeu que todos são iguais perante a Lei o acesso ao ensino de terceiro grau é pelo mérito. Até ai, tudo bem, é um posicionamento que se pode discordar, mas é uma questão de como cada um vê esse problema. O que há de se lamentar foi a sua brilhante conclusão: eu não entraria num avião pilotado por um cotista, nem aceitaria ser
operado por um médico cotista. Eu quero um médico competente e um piloto que realmente decole e pouse com segurança; 3 – Na mesma entrevista, foi-lhe perguntado pela cantora Preta Gil, o que ele faria se seu filho casasse com uma negra, ele se saiu com essa: “oh Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados, e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o seu”.
Qual a transversalidade existente entre esses fenômenos, que escapam aos olhares pouco críticos, para ser benevolente, do candidato Bolsonaro? Temos neles, alguma centralidade, no que tange a aspectos da segurança pública, da segurança alimentar, da exclusão social e do
preconceito muitas vezes disfarçado.
O problema da violência, não requer soluções tão simples assim. Arma-se a população e resolve-se o problema. Nada mais enganoso. A violência em nosso Pais, tem raízes profundas, fincadas nas brutais desigualdades, nos desequilíbrios intra e inter regionais. Arme-se toda a população, construam-se todos os presídios, e se as condicionantes não forem eliminadas, a violência em seus diversos níveis, será reproduzida com mais e maior intensidade.
Munir o latifúndio de rifles para resolver o drama agrário em nosso país, é de uma sandice tão inominável, que só cabe numa inteligência “brilhante” como a de Bolsonaro. O seu obscurantismo não permite perceber, que o problema agrário brasileiro, com os seus atores em conflitos, movimento dos trabalhadores sem terra e os donos do agronegócio, são faces da mesma moeda. Uma grave questão que só será minimamente resolvida com implementação de reformas estruturais no campo, de maneira a estabelecer determinados marcos civilizatórios, no que tange ao convívio, e ao papel que cabe a cada um, com as especificidades e as peculiaridades que os cercam, no alcance e dimensão que cada uma das suas atividades representam. Uma no micro a outra no macro universo. Importante ressaltar que do ponto de vista da segurança alimentar, o micro, o pequeno e médio produtor rural, são quem abastece a mesa do cidadão e cidadã brasileiro. Ao grande latifúndio, cabe a especulação e a produção de grão para exportações, as chamadas commodities e que tem sua importância também para a economia na obtenção de divisas, mas que servem obviamente, a determinados interesses.
Em relação ao problema de cotas, se faz uma relativização reducionista, desconsiderando o contexto histórico mais global em que a questão se insere. Bolsonaro fala de mérito, como se a cada negro desse país, lhe fosse dada as mesmas chances em condições de igualdade em relação aos filhos das elites melhores colocadas em nossa estrutura piramidal. Falta-lhe como presidente que se quer, uma visão mais sensível dessa dura realidade. Pior, aprioristicamente, já infere que o negro formado oriundo das cotas, já será um incapaz derrotado. Isso parece em muita medida, uma condicionante preconceituosa.
Para coroar as pérolas bolsonarianas, a sua resposta lapidar à cantora Preta Gil. Que grosseria! Que falta de sensibilidade para com a alma feminina. Qual a ofensa cometida na sua pergunta? Depreende-se da sua resposta, que o cidadão não tem o mínimo neurônio, para discernir a
formulação de uma pergunta, condicionado pelo seu preconceito homofóbico, e racistas, ao precipitar-se numa resposta, com gratuita e deselegante agressividade.
O que causa espécie, decepciona e imprime uma dose de angustia, considerando alguns princípio basilares que consubstanciam valores que integram o caráter e a personalidade dos seres humanos, pautados inclusive numa fé cristã como muitos fazem questão de ressaltar, é ver as pessoas, eufóricas, vibrantes, colocando-o num patamar de um estadista, como única saída para a resolução da crise em que nos encontramos. Mas com que expertise? Com qual visão mais cuidadosa das questões sistêmicas que compõem toda a estrutura complexa da nossa sociedade, com esse raso nível de compreensão e formas truculentas de responder aos desafios desse universo conturbado.
O Brasil vive uma situação delicada, que exige de um governante, muito mais sabedoria, inteligência e capacidade de aglutinar forças convergentes, para saber lidar com as demandas da sociedade nas suas variadas manifestações, levando em conta os seus grupos, suas classes, suas etnias, suas instituições, seus movimentos sociais, procurando a unidade nas formas mais diversas de existir, evitando o maior acirramento e desarmando os espíritos mais indômitos, para uma convivência mais harmônica e ações mais pacificadoras entre as pessoas.
Bolsonaro, com o seu obscurantismo tosco, querendo resolver as coisas na base da pistola, do fuzil e da ofensa virulenta da fala, certamente de todos os candidatos, é o que menos, do pondo de vista das aspirações de um povo que requer patamares mais civilizatórios de convivência, reúne essas condições, considerando que o seu cérebro, abomina as situações complexas, e se vê tentado a resolver problemas, situações ou questões que se colocam no cotidiano de cada um e de todos, buscando decisões práticas, fáceis e simplificadoras.
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Comentários
Mestre Lobo parabéns. Apesar de submeter seu couro cabeludo ao ´´chapeuzinho``, seu cérebro ainda funciona. Continue sempre: Um Homem Livre. A maçonaria enquadra a sociedade como profana (exceto a si mesma). Embeleza e dignifica suas mentiras e erros como um porco que veste as melhores roupas.
Argumento relevante que a sociedade ainda não procuram ver o real o que estamos passando.Meu abraço Franklin.
Com esse altíssimo grau de acuidade, conhecimento, informatividade, coerência analítica, coesão textual e sensibilidade, que é inerente a sua verve de intelectual, como autêntico pensador conceitual e pragmático que é, o discreto e simpático prof. Lobo, brinda-nos mais uma vez, com um texto agregador de valores, que repercute profundamente nas mentes de seus simpatizantes leitores. Incontroversas certamente são as suas palavras, já que com pertinência e propriedade, capta a débil essência "propositiva" do candidato Bolsonaro. Ou seja, de fato esse político é desprovido de mínima "capacidade cognitiva" e suas declarações, em indiscutível rota de colisão com a Carta Cidadã, "fogem ao padrão de razoabilidade civilizatória". Estamos então, alertados das consequências de possíveis "escolhas fáceis". Valeu!!
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