Só falta Bolsonaro dizer: agora posso ser preso

Desde o tempo em que esteve no poder, o chefe do golpe é favorecido pela moderação de quem deveria enquadrá-lo, escreve o colunista Moisés Mendes

Fonte: Moisés Mendes - Publicada em 26 de março de 2024 às 15:33

Jair Bolsonaro

Jair Bolsonaro (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Multiplicam-se as notícias sobre o pedido de cautela de ministros do Supremo diante da possibilidade de prisão preventiva de Bolsonaro. Como aconteceu nas muitas vezes em que o sujeito esteve acossado.

São informações dos jornalões, mas sem fontes. Sempre foi assim. Pedem cautela como aflitos que pedem água de melissa. Mas quais ministros recomendam ponderação, se o STF tem 11 integrantes? Kassio Nunes Marques e André Mendonça?

Esses dois diriam que não é hora de prender Bolsonaro. Nem agora, nem daqui a alguns dias ou em momento algum. E os outros ministros?

Está provado que o sujeito treinou para a fuga, preparando-se para o que poderia vir a ser um asilo na casa dos húngaros. Mas prendê-lo agora, é o que dizem, não seria recomendável.

O sistema de Justiça sempre deu uma segunda, uma terceira, uma quarta chance a Bolsonaro. Até que passou a dar infinitas chances de sobrevida ao sujeito.

Começou com as ações no TSE que o acusavam de agir com deslealdade na eleição de 2018. Bolsonaro e Hamilton Mourão foram absolvidos.

Bolsonaro é o primeiro criminoso citado no relatório da CPI da Pandemia enviado ao Ministério Público em outubro de 2021. O pedido de indiciamento foi arquivado pela Procuradoria-Geral da República.

Bolsonaro transformou presentes das arábias em muambas, forjou cartão de vacina, articulou um golpe e fugiu para os Estados Unidos antes do 8 de janeiro. Porque não sofria nenhum tipo de constrangimento e estava livre e solto.

E agora dormiu por duas noites na embaixada da Hungria, para saber se poderia receber asilo de Viktor Orbán, um dos mais furiosos fascistas do mundo. Foi à embaixada fazer um ensaio.

Em todos os casos que envolvem Bolsonaro, nada avança no sentido de contê-lo. Nunca é o momento certo. Só avançaram as ações na Justiça Eleitoral, porque agora ele está fora do poder. Por isso foi tornado inelegível.

Todos os crimes cometidos por Bolsonaro são apreciados com pedidos de cautela. Não é hora de cercar, não é hora de prender, não é hora de fazer nada de mais drástico contra o sujeito que fez o que bem entendeu em quatro anos de governo.

O fato novo é que Bolsonaro foi flagrado recebendo abrigo, mordomias e carinho do embaixador húngaro. Dormiu por duas noites sob a proteção de Miklós Halmai, como mostrou o New York Times.

Alterou toda a rotina da embaixada, que mandou seus funcionários ficarem em casa. Porque de 12 a 14 de fevereiro tudo poderia acontecer ali, se Bolsonaro, um criminoso comum, forjasse um asilo como perseguido político.

E agora o Brasil todo debate, com os mesmos juristas sempre de plantão, se a preparação para uma fuga não é uma afronta à Justiça e não deve provocar prisão preventiva.

E a palavra mais usada é a que aparece lá no começo: cautela. Porque Bolsonaro submeteu os juristas de plantão, a grande imprensa e o sistema de Justiça brasileiro às suas vontades, quando esteve no poder, e tenta prolongar essa submissão, mesmo que esteja mais medroso e acossado.

A hora, o tempo, a oportunidade, tudo ainda é determinado por Bolsonaro, apesar do cerco ao golpismo e da bravura de Alexandre de Moraes. Mas Moraes não pode tudo.

Há duas figuras que driblam polícia, Ministério Público e Judiciário há muitos anos: Bolsonaro e o autoproclamado véio da Havan, o ex-bolsonarista e agora quase lulista que Alexandre de Moraes tentou tirar da toca ao desqualificá-lo como bajulador fantasiado de verde periquito.

Os dois são os mais cercados e são também, pelo conjunto de investigações, os mais impunes. Porque a hora de dar o bote e contê-los nunca é a adequada.

Bolsonaro parece querer informar o MP e o Judiciário, mesmo sob cerco, que ele saberá dizer a hora certa de ser preso.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

741 artigos

Só falta Bolsonaro dizer: agora posso ser preso

Desde o tempo em que esteve no poder, o chefe do golpe é favorecido pela moderação de quem deveria enquadrá-lo, escreve o colunista Moisés Mendes

Moisés Mendes
Publicada em 26 de março de 2024 às 15:33

Jair Bolsonaro

Jair Bolsonaro (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Multiplicam-se as notícias sobre o pedido de cautela de ministros do Supremo diante da possibilidade de prisão preventiva de Bolsonaro. Como aconteceu nas muitas vezes em que o sujeito esteve acossado.

São informações dos jornalões, mas sem fontes. Sempre foi assim. Pedem cautela como aflitos que pedem água de melissa. Mas quais ministros recomendam ponderação, se o STF tem 11 integrantes? Kassio Nunes Marques e André Mendonça?

Esses dois diriam que não é hora de prender Bolsonaro. Nem agora, nem daqui a alguns dias ou em momento algum. E os outros ministros?

Está provado que o sujeito treinou para a fuga, preparando-se para o que poderia vir a ser um asilo na casa dos húngaros. Mas prendê-lo agora, é o que dizem, não seria recomendável.

O sistema de Justiça sempre deu uma segunda, uma terceira, uma quarta chance a Bolsonaro. Até que passou a dar infinitas chances de sobrevida ao sujeito.

Começou com as ações no TSE que o acusavam de agir com deslealdade na eleição de 2018. Bolsonaro e Hamilton Mourão foram absolvidos.

Bolsonaro é o primeiro criminoso citado no relatório da CPI da Pandemia enviado ao Ministério Público em outubro de 2021. O pedido de indiciamento foi arquivado pela Procuradoria-Geral da República.

Bolsonaro transformou presentes das arábias em muambas, forjou cartão de vacina, articulou um golpe e fugiu para os Estados Unidos antes do 8 de janeiro. Porque não sofria nenhum tipo de constrangimento e estava livre e solto.

E agora dormiu por duas noites na embaixada da Hungria, para saber se poderia receber asilo de Viktor Orbán, um dos mais furiosos fascistas do mundo. Foi à embaixada fazer um ensaio.

Em todos os casos que envolvem Bolsonaro, nada avança no sentido de contê-lo. Nunca é o momento certo. Só avançaram as ações na Justiça Eleitoral, porque agora ele está fora do poder. Por isso foi tornado inelegível.

Todos os crimes cometidos por Bolsonaro são apreciados com pedidos de cautela. Não é hora de cercar, não é hora de prender, não é hora de fazer nada de mais drástico contra o sujeito que fez o que bem entendeu em quatro anos de governo.

O fato novo é que Bolsonaro foi flagrado recebendo abrigo, mordomias e carinho do embaixador húngaro. Dormiu por duas noites sob a proteção de Miklós Halmai, como mostrou o New York Times.

Alterou toda a rotina da embaixada, que mandou seus funcionários ficarem em casa. Porque de 12 a 14 de fevereiro tudo poderia acontecer ali, se Bolsonaro, um criminoso comum, forjasse um asilo como perseguido político.

E agora o Brasil todo debate, com os mesmos juristas sempre de plantão, se a preparação para uma fuga não é uma afronta à Justiça e não deve provocar prisão preventiva.

E a palavra mais usada é a que aparece lá no começo: cautela. Porque Bolsonaro submeteu os juristas de plantão, a grande imprensa e o sistema de Justiça brasileiro às suas vontades, quando esteve no poder, e tenta prolongar essa submissão, mesmo que esteja mais medroso e acossado.

A hora, o tempo, a oportunidade, tudo ainda é determinado por Bolsonaro, apesar do cerco ao golpismo e da bravura de Alexandre de Moraes. Mas Moraes não pode tudo.

Há duas figuras que driblam polícia, Ministério Público e Judiciário há muitos anos: Bolsonaro e o autoproclamado véio da Havan, o ex-bolsonarista e agora quase lulista que Alexandre de Moraes tentou tirar da toca ao desqualificá-lo como bajulador fantasiado de verde periquito.

Os dois são os mais cercados e são também, pelo conjunto de investigações, os mais impunes. Porque a hora de dar o bote e contê-los nunca é a adequada.

Bolsonaro parece querer informar o MP e o Judiciário, mesmo sob cerco, que ele saberá dizer a hora certa de ser preso.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Comentários

  • 1
    image
    sebastian 26/03/2024

    As contas do chamado governo central registraram déficit de R$ 58,444 bilhões em fevereiro. O saldo — que reúne as contas do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central — foi o pior desempenho em termos reais para o mês na série histórica do Tesouro Nacional, iniciada em 1997. Os números foram divulgados nesta terça-feira (26). Jornalecos militantes, vcs deveriam questionar esse assunto acima, mas para a turminha que adora esse governo gastador, essa conta bate.

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Winz

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