Só resta a Bolsonaro melar o jogo
"Resta a opção pela violência. A ideia é provocar uma convulsão social, que lhe permitirá decretar Estado de Defesa ou de Sítio", prevê Eduardo Guimarães
Bolsonaro e urnas eletrônicas (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino | REUTERS/Rodolfo Buhrer)
Chega a ser divertido ver a imprensa bolsonarista e a imprensa independente cogitarem a possibilidade de Bolsonaro reagir nas pesquisas e vencer a eleição. Nem o próprio Bolsonaro acha que tem chance. E os indícios disso são gritantes.
O mais interessante é que até as pesquisas bolsonaristas -- sim, existe isso --, como a pesquisa Paraná ou a DataPoder -- nas quais Bolsonaro é sempre mais forte e Lula sempre mais fraco --, dão qualquer esperança a ele.
Essas pesquisas politizadas mostram um quadro de estabilidade até no tal "empate técnico" que está a anos-luz dos resultados de pesquisas com rigor técnico e metodologia que captam os votos dos mais humildes, ou seja, as pesquisas face a face.
Recente pesquisa Quaest mostrou mais oscilações insipientes de Bolsonaro para cima e Lula para baixo, coisa de dois pra cá, dois pra lá que já acontecem desde quando Lula disparou na pesquisa Datafolha de 12 de maio de 2021 e inciou a trajetória para se eleger em primeiro turno.
Qualquer um dos muitos agregadores de pesquisa que há por aí mostra que nada de relevante acontece na polarização Lula x Bolsonaro e na terceira via há mais de ano.
Com efeito, o risco de Bolsonaro se reeleger contra Lula é tão baixo que chega a ser irrelevante, mesmo com o presidente tendo gasto cerca de 5% do PIB em "bondades" eleitorais.
Ou alguém acha que o "mito" dos idiotas e/ou canalhas estaria agindo como age se sua eleição fosse sequer possível?
Ainda que as bondades eleitorais sejam muitas, elas não começaram agora -- começaram em novembro do ano passado. Agora, mais R$ 200 no Auxílio Brasil. Porém, essa "bondade" já é conhecias pelos beneficiários e é entre eles que Bolsonaro tem a maior rejeição e as menores intenções de voto enquanto Lula tem menos rejeição e mais intenções de voto.
Se Bolsonaro achasse que pode vencer, seus emissários não estariam propondo acordos ao Judiciário para que ele ganhe imunidade contra processos que podem jogá-lo na cadeia, bem como aos filhos.
Se Bolsonaro achasse que pode vencer, não atacaria todo dia as urnas eletrônicas apesar de a maioria esmagadora do eleitorado confiar nelas.
Se Bolsonaro achasse que pode vencer, não promoveria o show humilhante que foi sua palestra insana para embaixadores de dezenas de nações.
Se Bolsonaro achasse que pode vencer, não teria colocado tantas armas nas mãos de seus fanáticos -- muitas de uso restrito das polícias e das Forças Armadas. Não teria ao seu lado um exército de civis e militares armados até os dentes que supera os contingentes militares e políciais.
O máximo que ele pretende com suas bondades eleitorais é tornar a derrota mais apertada, de forma a justificar as ações que prepara com a finalidade de melar a eleição.
É previsível o método que Bolsonaro escolherá para impedir um processo eleitoral que, sendo levado a cabo livremente, culminará com o esmagamento de sua candidatura pela de Lula.
Há, por exemplo, a recusa em aceitar o resultado da eleição sob alegações de fraude. Esse modelo golpista, porém, requer apoio dos militares em um golpe mais tradicional. Porém, a pressão dos EUA sobre nossos militares fez essa alternativa perder força.
Resta, então, a opção pela violência que já se vê que o presidente está insuflando. A ideia é provocar uma convulsão social, de preferência via conflito entre facções bolsonaristas e antibolsonaristas, que lhe permitirão decretar Estado de Defesa ou de Sítio.
Esses “estados” se referem à segurança nacional e são decretados em casos excepcionais, como revoltas populares ou situações de guerra, e servem para aumentar o poder do governo.
A decretação dessas medidas diante de confrontos violentos pelo país é plenamente viável. E esse risco vem sendo maximizado pelo discurso e pelo armamentismo de Bolsonaro.
Claro que o Congresso precisaria aprovar, mas não seria a primeira vez que se vende para Bolsonaro. E, convenhamos, uma medida que prorrogue mandatos de quem está no poder não seria exatamente intragável para um Congresso como esse.
Eduardo Guimarães
Eduardo Guimarães é responsável pelo Blog da Cidadania
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