Sobre o tweet de Haddad para Bolsonaro

No discurso feito na noite de 28 de outubro, o companheiro Fernando Haddad não cumprimentou o presidente eleito.

Valter Pomar
Publicada em 29 de outubro de 2018 às 16:47
Sobre o tweet de Haddad para Bolsonaro

No discurso feito na noite de 28 de outubro, o companheiro Fernando Haddad não cumprimentou o presidente eleito.

Até onde sei, não se tratou de esquecimento, mas de uma decisão coletiva e consensual.

Na manhã de 29 de outubro, o companheiro Fernando Haddad divulgou o seguinte “tuíte”:

“Presidente Jair Bolsonaro. Desejo-lhe sucesso. Nosso país merece o melhor. Escrevo essa mensagem, hoje, de coração leve, com sinceridade, para que ela estimule o melhor de todos nós. Boa sorte!”

Mais do que a “virada” de posição, a banalidade do texto tuitado contrasta tanto com a tragédia histórica, que pensei tratar-se de mais uma fake news, talvez obra de um hacker.

Mas não é fake news.

Não faço ideia dos motivos e argumentos que levaram meu candidato a cometer este gesto.

Apenas quero dizer que, neste caso, Haddad não me representa.

O nominado no tuíte é agora presidente eleito, gostemos ou não.

E ao decidir participar da eleição, mesmo intuindo que ela podia estar sistemicamente fraudada, somos agora levados a ter que reconhecer o resultado.

Mas isso não nos obriga a cumprir certos rituais e protocolos, pois o outro lado descumpriu todos os rituais e protocolos.

Além disso, o “sucesso” e a “boa sorte” de Bolsonaro não serão o “melhor” para a maioria trabalhadora deste país. Nem mesmo para os populares que nele votaram.

Por tudo isto, confesso meu absoluto espanto ao ler o seguinte trecho do tuíte: “Escrevo esta mensagem, hoje, de coração leve, com sinceridade, para que ela estimule o melhor de todos nós”.

Milhões de pessoas “anônimas” e milhares de pessoas “famosas” correram e seguem correndo riscos. Alguns perderam a vida. Outros, inclusive meu candidato à presidência, foram ameaçados com “apodrecer na cadeia”. E o programa neofascista e ultraliberal do vencedor não tem como estimular “o melhor de todos nós”.

Sendo assim, a única mensagem que na minha opinião, como eleitor de Haddad, penso que poderia ser enviada ao eleito seria algo mais ou menos assim: “Cumpra a Constituição. Detenha a violência de seus partidários. Da nossa parte, faremos oposição, como nos faculta a lei, nossa consciência e nossos princípios. Ao povo brasileiro desejamos boa sorte e muita luta!”

Por fim: cada um sabe quanto pesa seu coração.

Claro que está “pesado” o coração de quem pensa nos que foram, estão ou podem ser vítimas de violência.

Claro que está “pesado” o coração de quem nunca usou o termo “fascista” e “ditadura” em vão.

Mas, ao mesmo tempo, sempre esteve leve o coração de quem travou o bom combate, do lado certo, pela causa justa, ao lado de tanta gente que tem um coração vermelho que bate do lado esquerdo do peito.

Nada disto mudou, de ontem para hoje. Nem mudará, a não ser com muita luta. Até porque, em se tratando de Bolsonaro, gentileza não gera gentileza.

*Valter Pomar é historiador e integrante da Direção Nacional do PT

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