Temer e Rondônia: encantos mútuos
Michel Temer, o atual presidente golpista do Brasil, que já se livrou duas vezes pelo Congresso Nacional de ser investigado por sérias e graves acusações de corrupção, está em Rondônia.
Michel Temer, o atual presidente golpista do Brasil, que já se livrou duas vezes pelo Congresso Nacional de ser investigado por sérias e graves acusações de corrupção, está em Rondônia. É muito difícil para um mandatário da nação querer viajar para este fim de mundo. A última vez foi a presidente Dilma Rousseff, que veio durante a enchente histórica de 2014 e praticamente não desceu do avião. Devido a pouca ou nenhuma importância de Rondônia no cenário nacional, geralmente Brasília manda assessores de terceiro ou quarto escalão, mas devem ter dito a Temer que Rondônia, também conhecida no anedotário nacional como Roubônia, é uma das 27 unidades da federação e que cinco dos seus oitos deputados federais votaram pela permanência dele à frente do Planalto. O eleitor comum das “terras de Rondon” deve amá-lo e venerá-lo.
Com a absoluta certeza, Temer e sua gente ficarão encantados com a “capital da lama nacional”. Cidade suja, fedorenta e podre, Porto Velho, guardadas as devidas proporções, até que se parece com o governo do peemedebista. Além de muita merda, sujeira, lixo, ratos, urubus, tapurus, falta de esgotos e água tratada, pontos turísticos não faltam na “urbe rondoniana”. Aqui, ele pode visitar a ponte escura e ainda inacabada, aquela que liga o nada a coisa alguma. É preciso, no entanto, que seus assessores não o deixem pular de lá. O Brasil inteiro e também Rondônia chorariam tal desgraça. Ainda no rio Madeira, nossa maior autoridade poderia ver a mortandade de peixes que desce da hidrelétrica de Santo Antônio ou então o galpão da EFMM todo destroçado e ainda fedendo a fezes humanas e lama, resquício da última enchente. Temer ficaria encantado.
Ali mesmo, no meio da sujeira, da imundície e da fedentina, ele poderia descer o barranco liso, íngreme e escorregadio enquanto apreciava o porto rampeado que foi doado pela Santo Antônio Energia e que hoje está lá parado sem nenhuma serventia. “Cuidado, para o senhor não cair, excelência!”, diriam os mais chegados e sorridentes aduladores já cientes de que ele nunca cai. A “comitiva de ouro” ficaria eufórica com tantas opções de turismo da “cidade do lodo”. Visitar o “campo de extermínio de pobres” situado na zona sul da cidade seria o máximo. Ver pobres morrendo à míngua sem precisar mexer na previdência nem ter que brigar com a oposição seria uma experiência encantadora. Trabalhar apenas seis meses, tirar férias normalmente e viajar para o exterior ou então governar usando um blog. Onde ele aprenderia estas inovações?
E tudo isto sendo filmado e exibido pela TV Rondônia com uma hora de atraso em relação ao fuso horário de Brasília. Poucos podem ter esta incrível volta no tempo e assistir duas vezes ao Jornal Nacional no mesmo dia. O presidente poderia visitar o curso de Medicina da UNIR e entender por que lá nunca existiu um Hospital Universitário. Poderia também ir à zona leste à noite para se divertir ou então “navegar” na Rua Barão Rio Branco atrás da Praça Jônatas Pedrosa num dia de chuva. Se Michelzinho e Marcela aqui viessem iriam adorar. Nos debates políticos ele aprenderia a não usar ideologia de gênero nas escolas e o porquê da militarização das mesmas em Rondônia. Será que ele distribuiria livros didáticos para os alunos? A comitiva presidencial só não iria à Câmara de Vereadores de Porto Velho nem à Assembleia Legislativa do Estado para não contaminar aqueles ambientes de honestidade e candura.
*É Professor em Porto Velho.
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