Thiago Brennand caiu porque não tinha gangue
"Todos os bandidos com quadrilha, que escapam sempre, estão rindo da cara de todos nós, inclusive da cara de Thiago Brennand", aponta
Thiago Brennand chega ao Brasil escoltado pela Polícia Federal - 29.04.2023 (Foto: Reprodução/TV Globo)
Thiago Brennand é há muito tempo um homem perigoso, mas estava solto. Os grandes golpistas articuladores e financiadores do golpe de 8 de janeiro são perigosos e estão soltos.
São perigosos os 79 listados no relatório da CPI do Genocídio, cujos nomes foram enviados ao Ministério Público com pedido de indiciamento, e todos estão soltos.
Brennand só está preso porque foi exposto no Fantástico numa sequência de domingos como agressor de mulheres.
O milionário sempre escapou da polícia, do Ministério Público e do Judiciário, mesmo enfrentando oito processos por todo tipo de agressão, desde 2013.
Autoridades envolvidas nas questões criminais devem saber como ele escapava. Duas delegadas são investigadas por suspeita de favorecimento ao sujeito.
O que MP e Judiciário, além da polícia, teriam a dizer sobre as trancas que seguravam ações contra Brennand?
Quem responde sobre o que protege grandes sonegadores, tanto quanto são protegidos predadores sexuais, que nunca são condenados?
Por que os vampiros da vacina ainda estão impunes? E os grandes financiadores do golpe? E os processados por racismo, todos perigosos?
E Bolsonaro e os filhos dele, os civis e militares do entorno de Bolsonaro? E os grandes grupos garimpeiros da Amazônia?
Brennand encarcerado não acalma o sentimento de que não há reparação quando o agressor é importante e milionário e tem a proteção do poder.
É um clichê gasto, mas abandonado num canto. Brennand não teria sido preso se não fosse a denúncia no Fantástico.
Mas sua prisão só o expõe como exceção, porque teve o azar do flagrante das câmeras da academia onde agrediu uma moça.
Teve o azar de virar pauta na Globo, o que encorajou as outras mulheres agredidas.
Mas talvez não caísse tão facilmente se não tivesse um lado fraco. Ele tem dinheiro, tinha condições até de comprar impunidade, mas não tinha poder político e de turma.
Foi onde falhou. Brennand é um predador solitário, um lobo avulso, um sujeito sem o sentido do gangsterismo coletivo, e por isso caiu.
Faltou uma quadrilha a Brennand. Faltou o que os grandes financiadores do golpe têm. Ele não tinha uma gangue.
Não teve o que protege todos os impunes. Turmas, gangues, quadrilhas, organizações, articulações, influências, e não só poder financeiro. Faltou até um grupo de tios agressores do zap.
Brennand poderia tentar comprar autoridades, como sugerem as investigações, mas não comprava proteção institucional.
Atuava no varejo, quando deveria agir no atacado, como agem os financiadores do golpe e como agiam os vampiros das vacinas e as corporações garimpeiras da Amazônia.
Todos os bandidos com quadrilha, que escapam sempre, estão rindo da cara de todos nós, inclusive da cara de Thiago Brennand.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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