Tribunal faz homenagem a precursoras do Judiciário brasileiro

Magistradas, procuradoras e defensoras relembraram suas carreiras

Por Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil 
Publicada em 10 de março de 2020 às 08:14
Tribunal faz homenagem a precursoras do Judiciário brasileiro

O Tribunal Regional Federal da 3ª Região fez ontem (9) uma homenagem a 22 mulheres que foram precursoras no Judiciário brasileiro. Na cerimônia, as magistradas, procuradoras e defensoras tiveram a oportunidade de relembrar suas trajetórias.

A primeira ministra do Superior Tribunal de Justiça (1999-2013) e também a ocupar o cargo de corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, lembrou que sempre manteve posições firmes, ainda que isso pudesse criar dificuldades em sua carreira. “Quando ninguém esperava que uma magistrada tão contestadora como eu chegasse ao Superior Tribunal de Justiça, eu fui escolhida. Ali, eu fui escolhida corregedora nacional de Justiça, que foi a atividade que mais me realizou”, relatou.

Para Eliana Calmon, o período à frente da corregedoria deu a oportunidade de fazer um trabalho ainda mais próximo da população. “Eu consegui mostrar para a sociedade brasileira a importância do Poder Judiciário e a existência de um órgão que era capaz de organizar e corrigir todos os desvios da magistratura”, acrescentou.

Primeira a ocupar a posição de procuradora-geral da República (2017-2019), Raquel Dodge, destacou a importância de que mulheres estejam também nos espaços de decisão da sociedade. “ As mulheres, quando ocupam espaços de poder no cenário nacional, emitem um poderoso sinal de que todas as mulheres devem ser respeitadas”, enfatizou.

Dodge lembrou que conseguiu alcançar os lugares a que chegou devido ao trabalho de muitas outras que vieram antes dela. “ Compreendo a trajetória que me levou a ser a primeira mulher a ocupar o cargo de procuradora-geral da República do Brasil, primeira presidente do Conselho Nacional do Ministério Público e também primeira procuradora-geral Eleitoral, como um processo do qual participaram muitas outras mulheres”, disse.

Um dessas mulheres foi Zuleika Sucupira Kenworthy, primeira mulher a ser promotora de Justiça em São Paulo e na América Latina. A história dessa pioneira foi lembrada pela procuradora Tereza Exner. Ela ressaltou como deve ter sido difícil o trabalho de Zuleika, falecida em 2017, que iniciou a carreira em 1948.

Tereza Exner, por sua vez, é a primeira corregedora-geral do Ministério Público de São Paulo, cargo que assumiu no ano passado. A procuradora disse que apesar de “ser branca” e vir de uma família bem estruturada economicamente, enfrenta diversos desafios só por ser mulher. “Mesmo assim, é inegável dizer que assimetrias da cultura de tratamento entre gêneros cobra muito mais de nós do que dos homens. Mas eu sempre acreditei na força da paixão que motiva todos os indivíduos na direção de seus desejos, de seus objetivos”, disse.

Desigualdade

Um levantamento divulgado em 2019 pelo Conselho Nacional de Justiça mostra que o Poder Judiciário ainda é majoritariamente masculino, com 38,8% de magistradas em atividade. Nos cargos mais altos, a desigualdade é maior. Em dez anos, apenas 13,1% das presidências e 20,2% das corregedorias dos tribunais estaduais forma ocupadas por mulheres.

Na Justiça Federal, situação é parecida. Em uma década, 19,4% das presidências e 23,3% das corregedorias estavam sob o comando de magistradas. Do total de desembargadores federais, 24,5% da carreira foi ocupada por mulheres em dez anos.

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