Um bunker terrorista no QG do Exército
"O entendimento difundido entre os participantes de que 'o único local seguro para o grupo seria a área sob responsabilidade das forças militares'", diz Miola
Bolsonaristas acampados em frente ao QG do Exército (Foto: Reprodução)
O relatório da intervenção federal na área de segurança do DF traz detalhes esclarecedores sobre o acampamento golpista na área do Quartel-General do Exército, em Brasília.
O acampamento é descrito detalhadamente no item 4 [páginas 17 a 33] como um dos “eventos relevantes para a compreensão dos fatos” ocorridos em 8 de janeiro.
O relatório menciona o entendimento difundido entre os participantes de que “o único local seguro para o grupo seria a área sob responsabilidade das forças militares”.
“Desde o início, o acampamento apresentava uma complexa e engenhosa organização, com distribuição das tendas em setores específicos”, cita o texto.
As tendas eram “destinadas à cozinha e despensa, a medicamentos e/ou atendimento médico, ao fornecimento de energia por geradores”. Na área “havia acesso à internet, [setor de] informações, local para realização de cultos religiosos e diversas outras organizações internas”.
Existia uma organização “urbanística” profissional, com barracas de camping e de lona, tendas, cozinhas coletivas, banheiros químicos, banheiros com chuveiro quente, atividades de comércio, suporte logístico e fornecimento de mantimentos. Uma frota de centenas de caminhões e ônibus ficava com frequência estacionada no local.
Havia uma estrutura complexa e onerosa com geradores de energia, placas solares e suprimento com som mecânico, caminhão para palco e trio elétrico, onde aconteciam comícios com a presença de “dezenas de milhares” de pessoas procedentes de vários Estados e, também, de militares e seus familiares.
Equipes de segurança portavam rádios-comunicadores e tinham a tarefa de “identificar possíveis infiltrados”.
Nos 69 dias de vida do acampamento foram registrados 73 crimes no local, uma média de um crime por dia: furtos, crimes contra a honra, lesão corporal e vias de fato, dano, ato obsceno, injúria, ameaça e outros.
O relatório lista os atos criminosos que foram planejados e preparados dentro da área do QG para serem posteriormente executados em Brasília, como a invasão da área de embarque do Aeroporto Internacional [2/12], a violência, terror e destruição nas ruas da cidade em 12 de dezembro, a bomba-relógio no caminhão-tanque em 24 de dezembro e, logicamente, os atentados contra os três Poderes em 8 de janeiro.
Estão relatadas, também, as circunstâncias em que os comandos Militar do Planalto e geral do Exército recuaram e desfizeram os compromissos estabelecidos com a Secretaria de Segurança do DF para dissolver o acampamento, realidade que confirma a leniência institucional – e/ou cumplicidade – do Exército com a aglomeração criminosa.
Reforça esta hipótese o ato sedicioso do general Arruda, então comandante do Exército, que na noite do 8 de janeiro se recusou a cumprir ordem de prisão dos terroristas expedida pelo STF, peitou o ministro da Justiça Flávio Dino e ameaçou o comandante da PMDF com enfrentamento de tropas.
O relatório registra outros aspectos da intervenção federal, e identifica as responsabilidades, por ação ou omissão, de autoridades do governo do DF nos bárbaros acontecimentos de 8 de janeiro.
Mas o documento conclui, no entanto, que o acampamento “foi elemento crucial para o desenvolvimento das ações de perturbação da ordem pública que culminaram nos atos do dia 08 de janeiro de 2023”.
O interventor federal Ricardo Cappelli classificou o acampamento como uma “minicidade golpista”. É uma descrição coerente com a “estrutura urbanística” profissionalmente montada no local, mas cuja definição atenua a característica extremamente grave, da existência de um verdadeiro bunker terrorista no QG do Exército.
Mais do que “citadinos comuns” que habitavam aquela “minicidade”, o acampamento também congregava incitadores de violência, vândalos e terroristas que planejaram e executaram o mais grave e destrutivo atentado à República e ao Estado de Direito.
Tudo o que acontecia no acampamento, o que inclui os planos e preparativos das bombas e armas empregadas nos ataques à democracia, era do conhecimento das cúpulas fardadas.
Jeferson Miola
Articulista
Lula acerta na economia?
"Basicamente, sim, ainda que não em alguns pontos mais específicos.Em resumo, Lula está batendo um bolão como economista", diz Paulo Nogueira Batista Jr
Fernando Máximo e a coincidencia de empresas goianas
Ex-secretário de Saúde de Marcos Rocha tem uma estranha proximidade com empresas de sua terra natal
TSE abre Ano Judiciário de 2023 na próxima quarta-feira (1º)
Sessão plenária será realizada a partir das 19h, com transmissão ao vivo pelo canal do Tribunal no YouTube e pela TV Justiça
Comentários
Seja o primeiro a comentar
Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook