Por acaso, o leitor já viu um tucano de dois milhões de reais? Mas, por incrível que pareça, ele existe. Não se trata de um tucano qualquer. O tucano ao qual me refiro não tem bico, nem penas, nem mora no mato. Pelo contrário, seu ninho, ou melhor, sua casa, ou melhor, sua mansão, fica localizada no Lago Sul, numa das áreas mais nobres de Brasília, a capital da República.

Bom, já deu para saber que se trata do senador Aécio Neves (PSDB-MG), afastado de suas funções parlamentares, por determinação do ministro Edson Fachin, e do comando da executiva nacional do partido, por livre e espontânea vontade, ou seria melhor dizer, por livre e espontânea pressão?  Aécio é acusado por um dos sócios da JBS de ter recebido dois milhões de reais de propina para pagar o advogado contratado para defendê-lo no escândalo da Lava Jato.

Aécio teria pedido dinheiro exatamente a um empresário que está sendo investigado por práticas delituosas. Quanta desfaçatez! Onde Aécio foi-se meter. A situação, que estava ruim, piorou. O sonho de chegar à presidência da República virou um pesadelo. Na primeira tentativa, ele foi atropelado pela petista Dilma Rousseff, impichada por crime de responsabilidade. Agora, apareceu uma mala recheada de reais em seu caminho.

Aécio entrou na política pelas mãos de seu avô, Tancredo Neves, eleito presidente do Brasil, pelo voto indireto, em 1985, mas morreu antes de tomar posse. Isso depois de passar, incólume, sem nenhum arranhão em sua imagem, pelos mais diversos cargos da República.

Aécio costumava dizer que Tancredo era o espelho no qual se mirava. Estava mentindo. Caso contrário, não se teria envolvido nessa trapalhada. A imagem refletida, hoje, mais parece com a de Michel Temer, Lula, Renan Calheiro, Romero Jucá, dentre outras figuras carimbadas da Lava Jato. Se Tancredo fosse vivo, estaria morrendo de vergonha de Aécio.