Uma nova ópera-bufa: a volta do golpista
A diferença agora é que ele não está conseguindo mais amedrontar nem as emas do Alvorada - aquelas coitadas que foram obrigadas a tomar cloroquina
Jair Bolsonaro havia aposentado temporariamente a persona golpista depois da chumbregada do 7 de setembro, quando, além de não reunir os apoios necessários ao golpe que pretendia dar, ainda acabou ameaçado de impeachment e prisão de seu filho pelo STF. Comportou-se uns meses, mas, assim como ferroar é da natureza do escorpião, a aversão à democracia é da natureza de Bolsonaro. A diferença agora é que ele não está conseguindo mais amedrontar nem as emas do Alvorada - aquelas coitadas que foram obrigadas a tomar cloroquina.
A volta das ameaças boçais à eleição não fez ninguém se mover um centímetro. A crítica aos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes de que seriam "lulistas" provocou, na verdade, risos nos bastidores do STF - como se Moraes não fosse unha e carne com Michel Temer e como se Barroso, ao longo da Lava Jato, não tivesse votado sistematicamente contra o petista.
Agora, a nova tentativa de golpe anunciado de Bolsonaro tem tudo para se transformar numa ópera-bufa. Os militares, que em grande número estão trocando o presidente por su ex-ministro Sergio Moro, estão deixando claro, antes de qualquer coisa, que não vão compactuar com tentativas de questionar o resultado das eleições, ganhe quem ganhar.
Todos os seus últimos movimentos - e é desnecessário repeti-los - estão sinalizando o respeito das Forças Armadas às eleições. Vai ser difícil ver esse pessoal tolerando algo na iinha de uma invasão ao capitólio tupiniquim. A presença de um de seus líderes numa diretoria do TSE, o ex-ministro demitido da Defesa Fernando Azevedo, não foi um gesto de submissão ao poder militar, como pensam alguns ingênuos. Foi, acima de tudo, uma jogada de mestre dos ministro do STF, que também presidem a Corte eleitoral.
O Centrão, sugando do governo seus últimos recursos e partindo para a eleição, também já avisou que não está no golpe - já será muito se seus dirigentes apoiarem o presidente até o fim da campanha de reeleição.
Restou a Bolsonaro, portanto, esbravejar e ameaçar - mais ou menos como um leão desdentado e preso na jaula.
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