Venci a Covid: Promotor de Justiça Everson Pini fala como sobreviveu à doença ao Tudo Rondônia

Segunda entrevista da série é com o promotor de Justiça do Ministério Público de Rondônia, Everson Pini.

Felipe Corona/Tudorondonia
Publicada em 19 de dezembro de 2020 às 01:35
Venci a Covid: Promotor de Justiça Everson Pini fala como sobreviveu à doença ao Tudo Rondônia

PORTO VELHO – Ele é Everson Antônio Pini, natural de Nova Londrina (PR), nascido no dia 03 de dezembro de 1960. Atualmente é promotor de Justiça, mas como milhares de brasileiros veio para cá em busca do “Novo Eldorado”, na década de 1980. Aqui trabalhou em uma empresa de exportação de madeira, chamada Bramex.

Após terminar o terceiro colegial (hoje Ensino Médio, no Instituto Carmela Dutra, fez curso superior de Administração de Empresas. Trabalhou na antiga Teleron, Embratel, Cidades Hortigranjeiras e Tribunal de Contas. Após cursar direito, na FARO em 1996, entrou no MP-RO, como promotor de Justiça, cargo que exerce até hoje, além da Presidência da Associação do Ministério Público (AMPRO). Ele conversou com o jornalista Felipe Corona, para o Tudo Rondônia.

Tudo Rondônia - O que o senhor achava dessa doença no começo da pandemia, lá no mês de março, quando ela mal tinha chegado no Brasil?

Everson Pini - Havia, antes de março, muitas informações desencontradas. Uns diziam que o vírus era simples e pouco agressivo. Outros que ele dizimaria a população. Os cientistas não entravam em um acordo. Com a chegada do mês de março deste ano, começamos a perceber a gravidade e o que nos esperava. Já tínhamos algumas respostas, tipo: não haverá dizimação da população, mas muita gravidade em alguns casos. Mas ainda as informações eram insatisfatórias. Eu não conseguia, na época, firmar um entendimento, sequer razoável, da doença. Mas já me causava preocupação.  Adotei as medidas sanitárias, e como presidente da AMPRO, comecei a defender o mínimo de contato social para evitar o contágio.

TR - Como e quando o senhor descobriu que estava com a doença?

EP - Descobri no dia 02 de junho de 2020. Por volta das 14 horas, comecei a sentir forte dor de cabeça. A seguir, corpo dolorido e sensação de gripe. De imediato percebi que era o vírus. A partir dali o quadro só foi complicando.

TR- Como o senhor passou por ela? Como foi o tratamento? Chegou a ficar na UTI? Ser intubado?

EP - Nos primeiros dias, a contar do dia 02 de junho, meu quadro não foi muito grave. Acreditei que, pela medicação precoce que estava tomando, passaria bem. Mas, passados oito dias, a situação começou a complicar. Minha saturação caiu significativamente. Quando chegou a 89, fui internado no hospital 9 de julho. Passados dois dias fui encaminhado à UTI daquele nosocômio. Mais dois dias eu estava intubado. A partir daquele momento não me lembro de nada. Acordei já na cidade de São Paulo. Havia sido transferido, como fiquei sabendo depois, de UIT no ar. Soube que fiquei ainda seis dias intubado e, depois de extubado, permaneci ainda uma semana no hospital.

TR - O senhor chegou a ter medo em algum momento?

EP - Não há como dizer que não houve medo. Sempre há. Mas confesso que procurei manter a calma, deixar na mão de Deus. Isso me ajudou muito. Não me apavorei em momento algum. Criei uma “imagem” que ajuda entender o que senti: imaginei-me em um rio caudaloso, bem no meio dele. Sem possibilidade de nadar para qualquer das margens, restou-me decidir por boiar e aceitar o destino. Se eu fosse levado para a margem direita estaria bom. Se eu fosse levado para a margem esquerda estaria bom. Se eu afundasse estaria bom. Deus no comando!

TR - Como sua família reagiu à doença? Eles também foram infectados?

EP - Agradeço imensamente a Deus por ter sido eu e não um dos meus familiares. Sei que eles sofreram muito e sei que meu sofrimento físico nem chegou perto do sofrimento psicológico deles. Meu filho foi infectado, possivelmente por mim. Mas, minha filha, apesar de ter ficado muito perto, não foi. Ela contraiu o vírus, mas mais recentemente.

TR - Como foi a reação das pessoas, colegas de trabalho? Muitas manifestações de carinho? Orações? Soube de tudo?

EP - O amor é maravilhoso. Meus amigos mostraram-se muito sensíveis ao meu quadro clínico. Foram muitas manifestações de carinho, muitas orações, uma torcida enorme. Soube de tudo, mas depois de já estar de alta hospitalar, que ocorreu no dia 29 de junho.

TR - E após a saída do hospital ou da quarentena? Como foi?

EP - Eu estava muito fraco, mas bastante otimista. Esse otimismo me ajudou muito. Nos primeiros dias, muita dificuldade para fazer pequenos afazeres, mas, com o passar do tempo fui percebendo a melhora. O banho, que logo na saída do hospital exigia muito esforço, foi, aos pouco, tornando-se novamente prazeroso. Com aproximadamente 30 dias, eu me sentia completamente revigorado. Ainda fraco, mas já em franca recuperação.

TR - Teve alguma sequela grave? Ainda está fazendo tratamento após algum tempo de curado?

EP - Não tive sequelas. Apenas o pulmão com algumas cicatrizes que, conforme informação médica é normal e, com o passar dos meses, elas serão absorvidas pelo organismo.

TR - Qual a sua reação com o novo pico de casos em Rondônia?

EP - Sempre é preocupante. Ainda mais com a informação de reinfecção. Mas, agora os médicos estão mais informados, aprendeu-se muito em relação à doença e os protocolos estão mais ou menos uniformizados no âmbito nacional e mundial. Portanto, apesar do sofrimento, das mortes, o número é menor que antes. Isso não nos coloca em situação de conforto, mas ameniza o sofrimento.

TR - Qual o seu recado para quem está enfrentando a doença, já enfrentou, e principalmente, quem não leva à sério o vírus?

EP - Mantenha a calma, você que está enfrentando a doença. Procure se informar e, se possível, um bom centro médico para se tratar. Existem profissionais que estão muito preparados para enfrentar a pandemia. Médicos bem formados e informados. Médicos humanos e comprometidos com o bem estar da sociedade. Aqui em Rondônia, há inúmeros deles. Procure saber quem é, e se você não pode sair para um centro maior, trate-se com quem é referência aqui. A quem não leva o vírus a sério, pouco há o que falar. Espero que não seja acometido de forma grave para se preocupar.

Comentários

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    Isac Soares da silva 11/07/2023

    Promotor serio, competente e humilde, pessoa abnegada e temente a Deus. Com todas estas características o resultado não poderia ser outro que não a Vitória sobre este Rio caudaloso de forma magnifica e surpreendente que só este Deus maravilhoso pode fazer.

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