Videoaulas e materiais impressos atendem alunos para continuidade dos estudos

O secretário estadual de educação, Swamy Vivecananda, conheceu na semana passada a rotina de alunos do Ensino Médio e Fundamental em Costa Marques, na fronteira Brasil-Bolívia

Montezuma Cruz Fotos: Frank Néry Secom - Governo de Rondônia
Publicada em 13 de outubro de 2020 às 10:17
Videoaulas e materiais impressos atendem alunos para continuidade dos estudos

Márcio sai de casa meia hora antes do início das videoaulas: rotina se repete diariamente desde o início da pandemia

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, em março de 2020, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) planejou o atendimento online com modernas plataformas e treinou equipes de professores para videoaulas. Porém, o Governo de Rondônia constatou que grande parte dos alunos matriculados na rede pública também teria que receber conteúdos impressos, pois nem sempre há telefones celulares disponíveis na família, pessoalmente, tampouco, tablets ou notebooks.

Márcio Augusto Pinheiro Alves, 15 anos, aluno do 9º ano, almoça às 12h30, se despede da avó Sônia Maria Néris, 55, e atravessa um quilômetro da floresta da Comunidade Canindé para receber videoaulas, de segunda a sexta-feira, ao lado da base da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental (Sedam), na Reserva Extrativista Rio Cautário, em Costa Marques, a 700 quilômetros de Porto Velho.

Não faltarão pedagogos, nem monitores, com certeza, porém, os próximos anos reservam novo cenário na educação brasileira. Rondônia também aguarda o momento em que diversas aulas continuarão sendo dadas com apoio da mediação tecnológica, e outras, presenciais.

A prática de Márcio é também a de outros dez colegas da turma dele, desde março passado, quando as aulas foram suspensas pela Seduc – por causa da Covid-19 – na Escola Pública Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Hilton José Martins, no km 58 da rodovia BR-429, Distrito de São Domingos do Guaporé.

O sinal de internet é compartilhado para alunos da Resex pela base da Sedam, onde também se reúnem regularmente castanheiros, farinheiros e seringueiros da região de 147 mil hectares formada por sete comunidades.

Das 13h às 17h, Márcio e a turma estudam os conteúdos, levam lições para casa, e ainda têm a oportunidade de acessar sites e redes sociais.

“Foi muito diferente para mim e pra todos este ano, fico pensando como será em 2021”, comenta Márcio.

Márcio diz que gosta muito de História e Matemática. O ambiente no barracão da Sedam é o mesmo de qualquer escola onde se aplicam videoaulas. A diferença é que os alunos já saem de casa alimentados e, ao se reunirem no ponto da internet veem transitar vizinhos e conhecidos, com os quais conversam após absorver o conteúdo.

O isolamento de aproximadamente mil pessoas desafia a educação, que colhe experiências e começa a vislumbrar o cenário do próximo ano. Cláudio José Pereira, 13, acredita nas transformações do ensino, em “aulas supermodernas”, e sonha com um smartphone.  “Ele é top e sei que é caro, mas vou ajudar o meu pai e quero merecer um”, confessa. “Eu também quero um desse”, emenda Cleide Alves, 14.

 

No barracão da Sedam, com bom sinal de internet, alunos da Comunidade Canindé acompanham aulas da Seduc

No entanto, todos eles vivem o início da recuperação da Reserva Extrativista Rio Cautário, ao perceberem e ouvirem agora, diariamente, conversas a respeito da produção do crédito de carbono, algo que certamente irão estudar nas aulas de ciências e ambientais.

“O telefone celular chegou para nós só em 2018”, conta a diretora da Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental General Sampaio, a maranhense Maria Sônia Vieira Rodrigues. A escola funciona dentro dos limites do Forte Príncipe da Beira, a maior edificação militar portuguesa construída fora da Europa no Brasil Colonial, a partir de 1776.

Avó de 15 netos e trabalhando há 27 anos ali, a secretária escolar Flora Chianca Politis comemora o ensino multisseriado para 40 alunos de famílias quilombolas. “Logo teremos outra escola fora do aquartelamento”, diz.

Em período regular, alunos do 1º, 2º e 3º anos estudam com um professor; o 4º e o 5º são multisseriados, e do 6º ao 9º cada qual tem sua sala.

Os alunos do Ensino Médio deslocam-se para estudar na cidade de Costa Marques, até que a nova escola seja construída – ainda não tem nome, mas o terreno que a Seduc já possui fica na mesma rua ao lado de uma das laterais do Forte.

Para a secretária, no período regular de ensino o aprendizado é grande, e atualmente, ainda maior: “Somos servidores do Estado a serviço do município”. Direção e professores trabalharam presencialmente até o dia 16 de março deste ano.

Plataforma no Google e aulas impressas começaram a ser adotadas no dia seguinte. “Distribuímos às famílias dos alunos as atividades complementares”, diz.

No final de setembro, a Seduc informou possuir 190.846 alunos matriculados no Ensino Regular e Ensino de Jovens e Adultos. Desse total, atendia com o ensino online 112.936 alunos, e com o atendimento off-line, 42.768 alunos, 81,58% do total.

A diretora Maria Sônia reconhece que os 40 alunos “são poucos”, porém, alerta: “O trabalho se apresenta igual, dentro do mesmo ritual de cobranças”.

A experiência com equipamentos digitais para aulas online mexeu com o costumeiro e antigo método que ali vigorava. Devido a carências, diretora, secretária e professores notaram famílias numerosas enfrentando, em casa, problemas que misturam o poder aquisitivo e o desejo de aprender sem possuir equipamentos suficientes.

Secretário Swamy ouve a diretora Maria Sônia; ao lado, a secretária escolar Flora Chianca, atrás, o coordenador regional Wanilson

Essas famílias fazem parte dos 28,42% que não conseguiram acompanhar bem a videoaula em tempos pandêmicos.  “Um exemplo: pai e mãe com três filhos tiveram que dividir com eles o único telefone celular, e cada um teve que aguardar o outro concluir sua pesquisa e fazer as lições”, explica Maria Sônia. “Outros, nem dispõem de um bom celular, ela diz”.

Ao mesmo tempo, aulas remotas redobraram o trabalho dos professores. É que diversos pais não são suficientemente alfabetizados para aplicar as lições, e em consequência disso transferem a tarefa para os professores, que suprem e tiram dúvidas.

Maria Sônia espera melhorias em 2021, “para diminuir o sofrimento” dos mais necessitados. “É por isso que eu agradeço do fundo do coração ao governador Marcos Rocha a construção da nova escola aqui bem perto de nós”, acrescenta.

Costa Marques, um dos cartões brasileiros na Amazônia, é também um dos municípios assistidos pela Seduc na fronteira brasileira com a Bolívia, a 700 quilômetros de Porto Velho.

MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA 

Em cinco escolas estaduais do município situado na margem direita do Rio Guaporé estudam 1.670 alunos, quase todos beneficiados por videoaulas desde o início da pandemia.

“Noventa por cento foram atendidos em casa”, informa o coordenador regional Wanilson Neile Mendes.

Pessoalmente, ele e a equipe pedagógica entregaram conteúdos impressos aos pais e alunos.

Outro lugar isolado é o Distrito de Pedras Negras, onde funcionam quatro escolas rurais e duas quilombolas, com o total de 212 alunos matriculados, e 331 alunos indígenas, assistidos por 26 professores.

A Coordenadoria Regional de Educação (CRE) recebeu 29 notebooks quinta-feira (8), com a presença do secretário Swamy Vivecananda Lacerda Abreu. Segundo a gerente de Mediação Tecnológica na Seduc, Daniele Braga Brasil, sete aparelhos serão entregues a professores presenciais de Costa Marques e 17 a professores de São Francisco do Guaporé.

Três aparelhos se destinam a coordenadores do Laboratório de Informática e 26 para o Núcleo e Tecnologia Educacional.

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