Vini Jr. e o jogo do racismo

"Vini Jr. passou a ser xingado pela torcida adversária na medida em que multiplicava lances deslumbrantes", diz Paulo Moreira Leite

Paulo Moreira Leite
Publicada em 22 de maio de 2023 às 16:38
Vini Jr. e o jogo do racismo

Vinícius Jr. durante partida do Real Madrid contra o Valencia pelo Campeonato Espanhol (Foto: REUTERS/Pablo Morano)

Muito mais do que um espetáculo esportivo, as cenas de Valência, neste domingo, 21 de maio,  já entraram para a História do futebol como um retrato didático da opulência e injustiça das sociedades de nosso tempo. 

Herança  de uma história de séculos de exploração econômica e domínio colonial, o racismo é um conhecido instrumento de subordinação social -- e humilhação pública -- de povos e cidadãos historicamente condenados a uma existência miserável no interior das sociedades contemporâneas. 

Alvo frequente de ataques nos estádios espanhóis, onde manifestações racistas se tornaram lamentável rotina, antes deste domingo Vinicius José Paixao de Oliveira Jr já havia reunido oito denúncias formais contra atos racistas que enfrentou desde que seu desembarque no país,  fruto da mais carta transação do futebol brasileiro desde a venda de Neymar para o Paris Saint Germain, em 2013.

Autor do único gol do jogo de ontem, Vini Jr. passou a ser xingado pela torcida adversária na medida em que multiplicava lances deslumbrantes. No final, acabou expulso em meio a baderna entre as torcidas. 

O técnico Carlo Ancelotti denunciou após a partida:

Um estádio gritando 'macaco' para um jogador e nada acontece.  Houve este ano uma dezena de denuncias pelos insultos ao Vinícius. E aí, o que aconteceu? Nada.  Ele não era o culpado. Era a vítima.

Em sua conta no Instragam, o próprio Vini Jr. apontou para a  direção certa e escreveu: "O prêmio que os racistas ganharam foi minha expulsão."

Esta é a lição. 

Além do tumulto e do barulho, o racismo sempre prejudica o mais fraco.

Alguma dúvida?

Paulo Moreira Leite

Paulo Moreira Leite é colunista do 247, ocupou postos executivos na VEJA e na Época, foi correspondente na França e nos EUA

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