Zuzu Angel vive. Virou sinônimo de resistência

Conheça o texto que foi produzido para o Relatório Final da Comissão da Verdade do Rio, como conclusão das investigações em torno da morte da estilista, cujo centenário é marcado nesta semana

Denise Assis
Publicada em 10 de junho de 2021 às 15:37

Estilista Zuzu Angel (Foto: Divulgação)

Nesta semana, que marca o centenário da estilista Zuzu Angel, ou Zuleika Angel, seu nome de batismo, é importante lembrar que Zuzu levou o nome do Brasil para o exterior com a delicadeza dos modelos criados em seu ateliê, em Ipanema. Eles incluíam as peculiaridades e o talento de nossa gente. Era ela também, e principalmente, talentosa. Arrebatada pela dor da perda do filho Stuart Angel Jones, para a tortura na ditadura (1964/1985) que calou e subjugou o país durante 21 anos, Zuzu viveu para gritar contra o silêncio imposto sobre o desaparecimento do filho. E morreu por ele, assassinada na saída do túnel Dois Irmãos, na Gávea, no Rio. Zuzu virou nome de túnel, nome de resistência e nome de coragem.

O texto a seguir foi produzido para o Relatório Final da Comissão da Verdade do Rio, como conclusão das investigações em torno da sua morte (dezembro de 2015). 

Zuzu Angel Jones

“Quem é essa mulher/ Que canta sempre esse lamento?/ Só queria lembrar o tormento Que fez o meu filho suspirar”...

(Chico Buarque e Miltinho – MPB-4) 

O ex-delegado da Polícia Federal Claudio Guerra, autor de “Memórias de Uma Guerra Suja”, escreveu em seu livro que, quem tivesse acesso às fotografias do local do acidente que matou criminosamente a estilista Zuzu Angel, em 14 de abril de 1976, teria diante de si a foto do mandante do crime, pois ele, tal como na máxima dos romances policiais, foi à cena dos acontecimentos.

Sem querer abandonar nenhum aspecto da investigação em torno da morte de Zuzu, a CEV-Rio foi buscar as fotografias no jornal O Globo. A sequência, feita no calor do fato, mostra os curiosos em volta do carro, alguns profissionais de imprensa e policiais e peritos, provavelmente, fazendo o trabalho de exame do local, como é de praxe.

Outras fotos feitas pela perícia foram encontradas pelos assessores da Comissão, no arquivo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). Embora desorganizado e exposto a traças e goteiras, foi possível encontrar os negativos, no fundo de uma gaveta enferrujada.

Para extrair do cenário o possível mandante, a CEV-Rio enviou por e-mail as fotos de O Globo, em melhores condições visuais, para o ex-delegado, solicitando que ele apontasse qual seria o possível personagem responsável pelo acidente. Claudio Guerra selecionou uma das fotos em que aparecia um homem de calça escura e camisa clara, com uma sacola plástica nas mãos. 

Sua convicção era de que aquele seria Freddie Perdigão, chefe da Agência do SNI no Rio, temido oficial do Exército. Claudio contou que teria ouvido dele sobre o plano de execução de Zuzu, que com suas denúncias no Brasil e no exterior, sobre a morte do seu filho, Stuart Edgard Angel Jones - liderança da organização MR-8 - estaria causando incômodo à ditadura.

De fato, Zuzu Angel, desde a morte do filho - supostamente no dia 14 de maio de 1971, de acordo com denúncias contidas numa carta que recebeu do também militante do MR-8, Alex Polari, preso um dia antes que seu filho, e que teria testemunhado seu flagelo na Base Aérea do Galeão - ela não mediu esforços para denunciar sua tragédia.

Arriscou-se até mesmo a furar o forte esquema de segurança que cerca autoridades americanas, para entregar ao secretário de Estado, Henry kissinger, um dossiê contendo todas as informações que pôde recolher sobre a morte de Stuart, que tinha cidadania americana, por ser filho, por parte de pai, de um estadunidense.

A resposta de Claudio Guerra foi checada pela Comissão da Verdade do Rio. Primeiro, a foto do suposto capitão Freddie Perdigão foi exibida ao ex-integrante da organização ALN, Carlos Fayal, que trocou tiros com o oficial após um assalto, em fuga pela Lagoa Rodrigo de Freitas. Fayal foi categórico em não reconhecer Perdigão na foto. “Ele não tinha esse tipo. Lembrava muito o Ronaldo Caiado”, argumentou.

Em seguida a fotografia foi mostrada à Helena Lobo, viúva do médico Amilcar Lobo, que diagnosticava a resistência dos presos na tortura. Helena, que conviveu com Perdigão no período em que ele freqüentava a sua casa, em conversas com Lobo, caiu em pranto convulsivo e, dizendo-se “confusa”, preferiu não opinar. Não tinha certeza. 

Outro consultado foi o coronel Tarcísio Nunes Ferreira, punido por discordar das investigações sobre o Riocentro, e ex-colega de quartel do capitão Perdigão. Tarcísio chegou a ficar em dúvida, mas, por fim, achou que era mais para não ser, do que para ser Perdigão, a pessoa que aparecia na foto. Diante de tantas hesitações, a CEV-Rio optou por abandonar esta linha de investigação, não dando certeza quanto ao personagem em destaque na foto.

zuzu 1

Para trazer fatos novos à história sobre Zuzu, a CEV-Rio entrou em contato com o compositor, cantor e escritor Chico Buarque de Holanda. Foi ele quem denunciou à imprensa a característica criminosa do “acidente” que matou Zuzu. E o fez incentivado por ela, que antes de morrer entregou a ele e a várias pessoas influentes, cartas e bilhetes alertando que seria morta por expor aos quatro ventos o assassinato do filho.

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Arquivo pessoal – Chico Buarque

Na época do contato, Chico se encontrava em Paris, escrevendo o seu último romance, “O Irmão Alemão”. Ainda assim, retornou e se dispôs a colaborar no que fosse possível. Relembrou, por exemplo, as visitas que Zuzu fez à sua família, sempre levando para as “suas meninas” camisetinhas com a estampa do anjo que criou, para homenagear o filho, que tinha “Angel” no nome.

Um grito de alerta

Em uma das gavetas do Arquivo Público do Rio de Janeiro, entre os cartazes recolhidos pela Polícia durante passeatas de protestos dos estudantes, a CEV-Rio encontrou um dos que Zuzu Angel, num ato de coragem e ousadia para aqueles tempos, empunhava nos atos públicos.

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(Acervo – POL-POL – APERJ)

 

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(Acervo pessoal – Chico Buarque)

 

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(Acervo pessoal – Chico Buarque)

 

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(Acervo pessoal – Chico Buarque)

A repercussão do discurso de Ted Kennedy no Senado americano foi um duro golpe para a ditadura brasileira. Ele foi proferido em novembro de 1975, a cinco meses do acidente que calaria a estilista.

Ao receber a notícia da morte, de Zuzu, por “acidente”, tal qual descrevia em seus bilhetes, Chico Buarque ficou impactado. Na mesma hora ligou sua morte aos alertas e tratou de tomar providências para que a imprensa não desse ao caso esse caráter. Depois de questionado sobre como tudo se passou, Chico enviou, por e-mail, um pequeno relato sobre que providências foram estas.

“Vou contar como a história se passou. Numa de suas visitas à minha casa, Zuzu deixou comigo aquele bilhete que você conhece. O bilhete estava guardado havia um tempo, quando ocorreu o falso acidente com ela. Na época eu estava em contato quase diário com o Paulo Pontes, com quem tinha escrito Gota d'água e planejava escrever uma nova peça. Mostrei-lhe o bilhete imediatamente e lhe perguntei se tinha alguma ideia de como divulgá-lo. Ele então propôs chamarmos lá em casa o Zuenir Ventura, que redigiu uma carta de introdução ao bilhete da Zuzu e fez uma relação de destinatários -cerca de 100 - entre jornalistas mais combativos e políticos do então chamado MDB autêntico. Por uma prudência que hoje pode parecer excessiva, Paulo Pontes e eu subimos a serra de Petrópolis, jogamos minha Olivetti num despenhadeiro, e fomos tirar cópias xerox do bilhete e da carta numa papelaria que eu conhecia em Itaipava, na época um vilarejo. De volta ao Rio, convocamos o Zuenir e repartimos entre os três os envelopes a serem postados no correio. Foi isso. Tínhamos a esperança de alguma repercussão na imprensa ou no congresso, mas só o jornalista Alberto Dines publicou uma pequena nota a respeito.  Chico

A nota saiu publicada apenas na Folha de São Paulo. Dines, como observa Chico Buarque, foi o único editor a bancar a denúncia, apesar de o trio ter mandado, simultaneamente, a informação, a todos os veículos de Comunicação.

"Eu não tenho coragem, coragem tinha meu filho. Eu tenho legitimidade." - Zuzu Angel

Por ser um caso de repercussão nacional e pesquisado de forma aprofundada pela Comissão Nacional daVerdade, reproduzimos abaixo o resultado das investigações tal como foi publicado no relatório final daquela Comissão.

ZULEIKA ANGEL JONES 

DADOS PESSOAIS 

Filiação: Francisca Gomes Netto e Pedro Netto Data e local de nascimento: 5/6/1923, Curvelo (MG) Atuação profissional: Estilista Organização política: não se aplica Data e local de morte: 14/4/1976, Rio de Janeiro (RJ)

BIOGRAFIA 

Nascida em Curvelo (MG), Zuleika Angel Jones, mudou-se com a família para Belo Horizonte ainda na infância, onde cursou o primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e o ginasial no Colégio Sagrado Coração de Jesus. Mais tarde, foi para Salvador, onde viveu parte de sua juventude. Já nos anos 1950, partiu para o Rio de Janeiro, onde passou a dedicar-se profissionalmente à costura. Suas criações como estilista, nas quais utilizava elementos tipicamente brasileiros, alcançaram grande reconhecimento internacional e tornou-se conhecida como Zuzu Angel. Ela foi casada com Norman Angel Jones com quem teve três filhos – Stuart Edgar Angel Jones, Ana Cristina Angel Jones e Hildegard Beatriz Angel Jones. No início da década de 1970, a vida de Zuleika Angel Jones sofreu uma reviravolta, pois em 1971, seu filho, Stuart Angel Jones, perseguido pela ditadura brasileira por sua militância política no MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro), foi sequestrado e nunca mais visto, desde o dia 14 de maio daquele ano. 

Zuleika Angel no decorrer da busca de informações do paradeiro de seu filho recebeu o relato de pessoas que testemunharam a prisão, tortura e morte de Stuart Angel na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, e portando estas informações, Zuzu passou a denunciar, no Brasil e no exterior, as circunstancias de prisão, tortura, morte e a ocultação do corpo de seu filho. Alex Polari, então preso político na Base Aérea do 

Galeão no mesmo período da detenção de Stuart, redigiu uma carta em que relata o sofrimento do companheiro à Zuzu. A forma que a mensagem de Polari descreve o suplício vivido por Stuart nas mãos dos agentes da repressão pertencentes ao Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (CISA), revela a crueldade dos métodos utilizados para torturar e executar o filho de Zuzu. Mãe que ansiava por notícias de seu filho, Zuzu traduziu a carta enviada por Alex Polari para o inglês e remeteu para diversas autoridades estrangeiras e nacionais, como organizações políticas internacionais e parlamentares estadunidenses, como o senador Edward Kennedy, além de autoridades nacionais como o presidente brasileiro, general Ernesto Geisel, o ministro do Exército, Sylvio Frota, o arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, entre outros. Durante os cinco anos subsequentes, usou da projeção alcançada por seus trabalhos no exterior e aproveitou os seus desfiles de moda em outros países para fazer com que as denúncias chegassem à imprensa estrangeira. Conseguiu angariar o apoio de diversas personalidades internacionais, como Liza Minneli, Joan Crowford, Kim Novak e Margot Fontein. Em episódio de coragem e ousadia, Zuzu entregou conjunto de documentos ao Secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger, denunciando o assassinato de Stuart, que também possuía a nacionalidade daquele país.

Todas as iniciativas de Zuzu contribuíram para o desgaste da imagem internacional da ditadura brasileira, o que causava incômodo nos meios governamentais. Suas viagens eram detidamente monitoradas pelos órgãos de informações. Ao começar a receber ameaças de morte, Zuzu escreveu uma carta que entregou, em 1975, a alguns amigos mais próximos

, entre os quais o cantor e compositor Chico Buarque. O documento denunciava as ameaças e os autores caso algo ocorresse contra ela, além de que essa informação deveria ser publicada caso Zuzu viesse a falecer. Cerca de um ano depois, Zuzu faleceu, aos 53 anos de idade, vítima de grave acidente automobilístico. 

CONSIDERAÇÕES SOBRE O CASO ATÉ A INSTITUIÇÃO DA CNV 

Em decisão de 25 de agosto de 1998 a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) reconheceu a responsabilidade do Estado brasileiro pela morte de Zuleika Angel Jones. Seu nome consta no Dossiê ditadura: Mortos e Desaparecidos no Brasil (1964-1985) organizado pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Em sua homenagem, Chico Buarque e Miltinho (MPB4) compuseram a canção Angélica, lançada em 1977, já em 1986, foi publicado o livro Eu, Zuzu Angel, procuro o meu filho: a verdadeira história de um assassinato político, escrito por Virgínia Valli. Zuzu Angel recebeu também, o título de cidadã benemérita do Estado do Rio de Janeiro post-mortem, em 1988, e ainda foi homenageada com a medalha Chico Mendes de Resistência, oferecida pelo Grupo Tortura Nunca Mais, no dia 1o de abril de 1998. Desde o ano de 1993, o Instituto Zuzu Angel de Moda do Rio de Janeiro é administrado pela sua filha em memória da estilista. A história de Zuzu foi enredo do desfile da escola de samba União da Ilha do Governador durante o carnaval carioca do ano 2000, cujo tema foi “Pra não dizer que não falei das flores”, com a participação de Hildegard Angel Jones. Em 2006, foi lançado o filme Zuzu Angel, em que o cineasta Sérgio Rezende narra a história de luta da vida até a morte da mãe de Stuart Angel. Em Belo Horizonte, uma rua no bairro de Jardim Belvedere recebeu o nome de Zuzu Angel, assim como em Porto Alegre, Campo Grande, e Rio de Janeiro, onde o túnel em que Zuleika Angel Jones sofreu o acidente que a vitimou também recebeu o seu nome.

CIRCUNSTÂNCIAS DE MORTE 

Zuleika Angel Jones morreu no dia 14 de abril de 1976, às 3 horas, em acidente automobilístico na saída do Túnel Dois Irmãos, na Estrada da Gávea, no Rio de Janeiro. Devido às várias ameaças anônimas recebidas pela estilista, devido a sua insistente luta por informações do paradeiro de seu filho Stuart, logo surgiu a desconfiança de que o acidente teria sido provocado por agentes dos órgãos repressivos. 

A versão divulgada à época foi de que o carro de Zuleika Angel Jones, um Karman Ghia, saiu da pista, colidiu com a proteção do viaduto Mestre Manuel e capotou várias vezes em um barranco. A certidão de óbito, assinada pelo médico Higino de Carvalho Hércules, confirmou a versão do acidente e atestou como causa da morte uma “fratura do crânio com hemorragia subdural e laceração cervical”. i Chegou-se a cogitar que a estilista tivesse ingerido bebida alcoólica e, por isso, perdido o controle do veículo. Essa possibilidade foi logo descartada após o exame toxicológico que atestou a ausência de álcool em seu sangue.ii Noticiavam, também, que a fadiga da motorista que poderia ter adormecido no volante e problemas mecânicos poderiam ser a causa do acidente. Fatos que não se comprovaram.

Em 1996, com o intuito de apresentar um pedido de indenização à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), a família de Zuleika Angel Jones solicitou o trabalho de Luís Fondebrider, da Equipe Argentina de Antropologia Forense, 

para analisar os restos mortais da estilista. O perito argentino apontou inconsistências na versão divulgada à época do acidente. Da mesma forma, a família apresentou declarações de Lourdes Lemos de Moraes, esposa do empresário Wilson Lemos de Moraes, que garantiu que o carro de Zuleika Angel Jones havia sido levado por seu marido, Wilson, para uma revisão completa, uma semana antes do acidente. Também foi apresentado o depoimento de Marcos Pires, que teria visto o acidente da janela de seu apartamento, situação que descreveu que dois carros estavam emparelhados na saída do Túnel Dois Irmãos, quando um dos automóveis chocou-se com outro, que seria o de Zuleika Angel Jones e que provocou a colisão contra a proteção do viaduto e logo em seguida, o carro despencou do barranco. A mesma testemunha também declarou que, surpreendentemente, em menos de cinco minutos do acidente, cinco carros da polícia já estariam presentes no local. A partir dessas informações, a CEMDP decidiu solicitar um parecer técnico dos peritos criminais, do Instituto de Criminalística de São Paulo. Os profissionais contribuíram para desmontar a versão falsa da morte de Zuleika Angel Jones, da qual, inicialmente, descartaram a possibilidade de Zuzu ter dormido ao volante, já que “a fratura do perônio (osso da perna) encontrada é típica de compressão transmitida pelo pedal de freio no momento do impacto”. iii Com relação ao primeiro exame do local de acidente, afirmam que versão apresentada para a dinâmica dos eventos é absolutamente inverossímil, pelas seguintes razões:

Primeiro porque um veículo jamais mudaria de direção abruptamente única e tão somente por conta do impacto de qualquer de suas rodagens contra o meio-fio, qual seria galgado facilmente, projetando-se o veículo pelo talude antes de chegar ao guarda-corpo do viaduto. Segundo porque, sendo o meio-fio direito da autoestrada perfeita e justamente alinhado como guarda-corpo do viaduto, mesmo que o veículo se desviasse à esquerda, tal como o sugerido pelo laudo, desviar-se-ia do guarda-corpo, podendo, se muito, chocar o extremo direito da dianteira. Terceiro porque, mesmo que se admitisse a trajetória retilínea final, nos nove metros consignados pelo laudo, tendo-se em conta que o veículo chocou a dianteira esquerda e que não havia mais nada à direita, a não ser a rampa inclinada da superfície do talude, teríamos que aceitar que as rodas do lado direito ficariam no ar e o veículo perfeitamente em nível até que batesse no guarda-corpo, o que, evidentemente seria impossível. 

As pesquisas realizadas no âmbito da Comissão Nacional da Verdade no acervo histórico do Arquivo Nacional revelaram inúmeros documentos sobre o intenso monitoramento de Zuzu Angel e de suas atividades, por parte dos órgãos de informações e repressão. Documento do Estado-Maior do Exército no qual o Adido Militar brasileiro nos Estados Unidos recomenda que as viagens de Zuleika fossem monitoradas, para que “elementos amigos pudessem acompanhar mais de perto os seus passos” . Contudo, uma das principais informações recolhidas pela Comissão Nacional da Verdade sobre o caso de Zuzu Angel está no depoimento do ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social do Espírito Santo (DOPS-ES), Cláudio Guerra, no qual o agente identificou a presença, em uma fotografia feita logo após o acidente, do coronel do Exército Freddie Perdigão Pereira e afirmou ter ouvido do próprio Perdigão que ele havia participado do atentado que vitimou Zuleika Angel Jones. Diante disso, a CNV solicitou ao Ministério da Defesa e ao Comando do Exército uma fotografia do referido coronel, à época, para fins de comparação e perícia, mas o Comando do Exército alegou que em nos acervos do Exército não existe qualquer tipo de registro fotográfico dos seus agentes. O caso de Zuzu Angel está descrito em maiores detalhes no capitulo 13 deste relatório. 

LOCAL DE MORTE 

Via Pública, na saída do Túnel Dois Irmãos, Gávea, Rio de Janeiro, RJ. 

IDENTIFICAÇÃO DA AUTORIA 

1. Cadeia de comando do(s) órgão(s) envolvido(s) na morte 

1.1. Agência do SNI no Rio de Janeiro 

Presidente da República: general Ernesto Geisel Chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI): general João Baptista de Oliveira Figueiredo Agência do Serviço Nacional de Informações (SNI) no Rio de Janeiro: major Freddie Perdigão Pereira

Denise Assis

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada". Membro do Jornalistas pela Democracia

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