A agricultura brasileira em perigo
A instabilidade econômica do Brasil e as incertezas ainda contaminam a possível melhora na saúde da produção agrícola que praticamente teve crescimento nulo após o período eleitoral de 2018.
Com os dados divulgados sobre a situação econômica do Brasil em 2018 pelo IBGE na última quinta-feira (28), a situação da produção agrícola no Brasil é devastadora. Praticamente não houve crescimento nas exportações no último ano e estagnou a geração de emprego e renda no campo. A agricultura sempre foi a salvação da economia nacional em tempos de recessão.
O processo eleitoral trouxe volatilidade para o dólar no segundo semestre do ano passado, época de compra de insumos por parte dos agricultores. O ambiente econômico não foi um dos melhores. A instabilidade econômica do Brasil e as incertezas ainda contaminam a possível melhora na saúde da produção agrícola que praticamente teve crescimento nulo após o período eleitoral de 2018.
A agricultura só não foi pior em 2017, porque a soja salvou os dados ruins do campo. A produção de soja em 2018 atingiu seu recorde de 84 milhões de toneladas em exportação. A China foi responsável pela maior parte desse volume gigantesco de exportações da soja brasileira em 2018. A produção que atingiu 120 milhões de toneladas em 2018, a China importou do Brasil a metade de toda essa safra, resultado do país ter deixado de comprar dos Estados Unidos devido à guerra comercial entre os dois países, iniciada em 2017 com provocações e tensões de ambos os lados.
As relações comerciais entre China e Estados Unidos permanecem no foco do mercado internacional da soja e, com a falta de confirmação das últimas notícias, os preços voltaram a recuar na Bolsa de Chicago e fecharam com perdas de pouco mais de seis pontos nos principais vencimentos no pregão desta sexta-feira (01).
Sem uma direção clara em qual rumo chineses e americanos querem tomar na disputa comercial, os traders permanecem cautelosos e na defensiva, bem como os fundos voltam à ponta vendedora do mercado para se ajustarem ao final de mais um mês.
A trégua comercial entre China e Estados Unidos iniciada em 2017 (indiretamente) e aumentada as tensões em 2018, está tendo um fim à guerra tarifária que a partir do segundo semestre atingirá em cheio as nossas exportações. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump enviou à Pequim dois emissários de prestígio na China para dialogar com o presidente Ji Xinping e fechar um pacto de não agressão e retomada das relações comerciais entre os dois países a partir de 01 de março. Os dois emissários, o representante de Comércio dos Estados Unidos, Robert Lighthizer e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin comemoraram com o presidente dos Estados Unidos Donaldo Trunp a decisão da China anunciada nessa última quinta-feira (28) de restabelecer o comércio bilateral.
Com essa decisão o Brasil perde. Perde muito! O acordo entre Estados Unidos e China será amplo nas relações de exportação, deixando para trás o Brasil que fazia parte desse acordo de exportações, principalmente a soja, a commoddity mais preciosa da nossa balança de exportações à China. Além da soja; o milho, café e açúcar deixarão de ser exportados no volume que alavancou a economia brasileira no período de 2003 a 2013.
A redução da demanda das exportações agrícolas do Brasil é certa e atingirá drasticamente a nossa balança comercial para a próxima safra que iniciou, porém os efeitos práticos serão sentidos a partir do ano de 2020. A soja representa entre 50 a 55% do volume de exportações das commodiities brasileiras. As perdas com o pacto China-Estados Unidos de relações amplas das exportações atingirão até 30 bilhões na economia brasileira em 2019. O Brasil vai continuar a vender soja para China, óbvio. O mercado americano não consegue abastecer mais de 1,2 bilhões de chineses. A questão norteadora é a diminuição drástica nas exportações para o mercado chinês que passará a consumir toda a soja produzida nos Estados Unidos para fins de exportação. A China teve seu pior crescimento do PIB em 2018 em relação aos anos anteriores. As exportações tendem a diminuir devido ao esfriamento do consumo chinês. O Brasil pagará por essa conta, mais uma vez.
É necessário e urgente que o Ministério da Agricultura intensifique para quais novos mercados irá exportar o que deixará de vender para a China que passa a comprar mais dos Estados Unidos as commodities agrícolas. Não podemos errar nessa lição, pois o país está atravessando um processo muito lento de recuperação econômica e a Agricultura ainda é a nossa salvação, como foi em todos os momentos históricos de recessão que o Brasil atravessou.
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