A intentona bolsonarista de 8 de janeiro não foi contra Lula
Foi uma tentativa de golpe ao Estado democrático de direito, com planejamento, croqui e tudo o mais
(Foto: Joedson Alves/Ag. Brasil)
A invasão e o vandalismo foram às sedes dos três PODERES da República.
Foi uma tentativa de golpe ao Estado democrático de direito, com planejamento, croqui e tudo o mais.
Qual era o plano do golpe?
FASE 1 – Gerar o caos, através das invasões e depredações, bem violentas, nas sedes dos Poderes da República.
Para isso, as filmagens eram realizadas sem qualquer constrangimento; assim como os militares bolsonaristas do GSI também não se preocupavam em serem filmados, fotografados e até sendo garçom de água mineral, como se estivessem entre os seus (ou estavam mesmo?), pois assistiram passivos, omissos, coniventes, com os crimes de invasão e destruição do patrimônio nacional.
Quanto maior a balburdia dos lumpem vandálicos, mais retumbante seria a divulgação para a comoção pretendida.
A tranquilidade e exposição dos participantes, demonstraram que eles estavam desempenhando o papel previsto no planejamento e convictos de que o golpe seria vitorioso.
FASE 2 - Evitar que as forças de segurança impedissem as selvagerias até que elas produzissem o estado de confusão, desordem, agitação, alvoroço, no país.
Por isso, as ordens e contraordens entre as forças de segurança do DF, do Exército e do governo federal, terem sido tensas ao ponto de quase vias de fatos.
FASE 3 - Acionar à GLO, mecanismo através do qual o Exército assumiria o controle da Lei e da Ordem no Distrito Federal.
Qualquer dos poderes podendo acionar a GLO, segundo o artigo 142 da Constituição, com aprovação do Presidente e comandante-em-chefe das FFAA, coube ao Ministro da Defesa do governo, José Múcio, sugerir enfaticamente ao presidente e a outros colegas ministros, a última etapa do planejado golpe.
FASE 4 – Com os blindados e tropas nas ruas, as sedes dos Poderes estariam sitiadas. E o golpe concretizado.
Provavelmente imporiam um Estado de exceção, sem a presença do Lula, óbvio. Mas, não só, outros estariam na lista, como o ministro Alexandre de Moraes.
Por derivação da memória do golpe de 64, podemos presumir uma lista grande, incluindo alguns militares.
Quais os atores responsáveis pela etapa 1?
Qual a linha de comado e subalternos executores da etapa 2?
Além do ministro Múcio, quais os militares, policiais e civis favoráveis a essa proposta da etapa 3 (GLO)?
Os setores de inteligência e informações das Polícias, das Forças Armadas e governo federal e do DF, não detectaram nada, nem um sinal de suspeição, de alarme?
A PGR poderia e deveria ter tomado que medidas antes, durante e depois?
Seguir essas indagações vai levar à imputação e responsabilização penal, civil e administrativa, dos envolvidos diretos, intelectual e fisicamente, e indiretos, por omissão, negligência ou imperícia.
Essa empreitada é dever de todos os poderes do Estado, mantenedores da Carta Magna e das leis vigentes.
Apurar, criminalizar e tomar medidas para que o Estado tenha mecanismos de prevenção para que nunca mais aconteça, requer reformas no sistema de segurança da sociedade, da democracia e do Estado de direito.
Continuo a defender a separação entre a Segurança e Justiça em dois ministérios.
Um ministro que possa concentrar-se exclusivamente na segurança, com planejamento para curto, médio e longo prazo.
A linha de defesa dos comandos insurgentes parece sustentar a tese do apagão ou desiquilíbrio mental. Nesse caso terá que provar proveniente de quê? Drogas, depressão, incapacidade para a função?
Se foram drogas legais e mediante receita médica, terá que mostrar a receita, o código da moléstia, a data, a dosagem recomendada, a nota fiscal da compra do medicamento.
E a partir de quando estavam sem as faculdades mentais e emocionais para desempenho de suas funções, e os atos decorrentes dali seriam invalidados?
A história brasileira mostra que a conspiração não é uma teoria, mas um fenômeno político regular dos militares e das oligarquias que se postam como donas da nação.
As manifestações públicas de Múcio e do comandante do Exército de que o comando da GSI deve ser de militares, significa intromissão ao que cabe somente ao presidente.
Aliás, registrasse de passagem, o atual ministro da Defesa gosta de uma mídia e palpitar onde não lhe cabe.
Lula deveria enquadrar o Múcio com estas palavras: qualquer assunto que não diga respeito diretamente a questão militar, à luz da Constituição, não opine publicamente, se for seguramente necessário à sua opinião, me consulte antes.
Os militares são adestrados para conspiratas, são dissimulados, utilizam do jogo da informação e contrainformação para seus intentos. Basta examinar a história para comprovar.
O governo anterior militarizado foi catastrófico na ética, na moralidade, na competência gerencial, sendo eficaz no genocídio da covid e do povo yanomamis.
Quem o defenda aponte em qual área foi exitoso. E era um governo prenhe de militares!
É perfeitamente adequado um quadro de experiência nas Policias, na Diplomacia ou no MP, ocupar o comando do GSI.
Quanto menos os militares ou seus representantes civis se manifestarem na política, mais protegida estará a democracia.
Esse cenário já é extremamente preocupante, mas aumenta sobremaneira quando aliados defendem a manutenção do Aras na PGR e quando o presidente ouve muito, sem RH, e decidi mal nas indicações ao Judiciário.
Não entender ou minimizar a importância e o poder que acalenta um Judiciário, já não é por falta de experiência, mas de não admitir e reconhecer as escolhas erradas do passado, causas do golpe de 2016, do encarceramento por 580 dias, da eleição das fakenews de 2018 e do bolsonarismo protofascista.
Se a intentona concretizasse o golpe, os 30 mil esquerdistas, jurados de morte pelo Bolsonaro, o fechamento do STF com um jipe e um cabo, o Congresso suspenso, seriam promessas tornadas realidade.
Não estamos no país de Alice.
Francisco Calmon
Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Membro da Frente Brasil Popular do ES
CCJR discute proibição do uso de fogos de artifício com estampido em Rondônia
Reuniões da comissão acontecem às terças-feiras
Investida de Lira mostra que CPMI não é agenda positiva para Lula
"Ainda que controlada, nas mãos de presidente e relator da base governista, a CPI não é agenda positiva para o governo Lula", avalia
Thiago Brennand caiu porque não tinha gangue
"Todos os bandidos com quadrilha, que escapam sempre, estão rindo da cara de todos nós, inclusive da cara de Thiago Brennand", aponta
Comentários
Seja o primeiro a comentar
Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook