As declarações do ministro José Roberto Barroso, novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que, em entrevista, afirmou considerar manter a data de eleição ou "adiar" pelo tempo de 1 mês, vai ao encontro da manifestação que fiz por meio de artigo publicado por vários jornais brasileiros há um mês.
Não há dúvida de que a pandemia e seus efeitos colaterais são fatores de inesperada relevância, que introduziram no processo sócio-político e eleitoral um notório distúrbio. Portanto é num contexto de anormalidade que se deve buscar pontos de equilíbrio para não desestabilizar as institucionalidades que sustentam a nação nas quais, indubitavelmente, estão inseridos os processos eleitorais, instrumento fundamental para a construção da representação democrática e do estado de direito.
As eleições são o sopro de vida da liberdade, embora ultimamente venham sendo atacadas até por amigos da democracia, que não atentaram para esse fato e, assim, enfraquecem involuntariamente a representação e, por consequência, a democracia e as liberdades. Adiar as eleições municipais e dar mais tempo para que os que pleiteiam a representação (candidatos) se encontrem com os representados (eleitores), amalgamando a sagrada simbiose do compromisso, representa hoje, na verdade, um ato de respeito à democracia e às liberdades.
O fundamento do que venho preconizando está baseado nesse raciocínio. Entendo que é preciso dar valor ao processo eleitoral em curso como prova do nosso compromisso como nação com o estado democrático de direito, por meio da celebração do grande ato litúrgico democrático das eleições municipais: as eleições cidadãs em essência, que carregam em si aspirações e esperanças intrínsecas às necessidades próximas dos cidadãos — pois é ali, no município, onde se travam as batalhas diárias pela sobrevivência das famílias, nos bairros, nos rincões. Onde se processam, por meio da atuação diuturna de vereadores e prefeitos, os anseios das comunidades pelas mais básicas necessidades, como a creche, a merenda escolar, os remédios nos postos de saúde, a condução (transporte público municipal e escolar), as vias públicas e rurais, as podas de árvores, a iluminação pública, as calçadas, os serviços de fornecimento de água, de afastamento do esgoto, da cesta básica, do médico da família, dos postos de saúde... Da própria vida em si do brasileiro. Como certa vez disse Mário Covas: "As pessoas vivem nas cidades".
Vivemos um momento triste da vida política nacional, quando novos políticos, sob o falso pretexto de representarem uma renovação que nunca se concretiza quando chegam ao poder, estimulam a destruição da própria classe política como instituto de representação social. Miram na cabeça do adversário, mas acertam a cabeça da democracia e acabam por explodir os próprios miolos. Essa postura criou a falsa ideia de que a democracia não consegue cumprir seu papel de representar, mas a maior prova em contrário é constatar o trabalho feito por prefeitos e vereadores por todos os cantos do país, mesmo representando o ente federativo mais pobre, segurando nas pontas das unhas os fios esgarçados do tecido social e mantendo a amarração institucional.
Conheço notáveis homens públicos administrando com muita garra os destinos de alguns dos 5.564 municípios do país, mas percebo que isso talvez não esteja sendo valorizado hoje. Sei que não é fácil "defender Judas em Sábado de Aleluia", mas trago testemunho franco da luta das instituições municipalistas para manter pulsando o coração da esperança do povo nas cidades.
Não podemos, então, relegar as eleições municipais a um plano menor, como se não tivessem importância. Adiá-las é dar a elas o destaque de que precisam ter, a importância que merecem.
Sobre João Miras:
João Miras é um publicitário ítalo-brasileiro, de 56 anos, que já trabalhou em dezenas de cidades, 13 estados brasileiros e em outros quatro países. Realizou mais de 170 trabalhos em 40 anos de profissão. Notabilizou-se na publicidade governamental e eleitoral atuando para agências, produtoras, institutos de pesquisa, partidos e empresas.
Estrategista de marketing político, é reconhecido como um dos grandes public brand makers do Brasil por ter se especializado em planejamento estratégico de comunicação para governos e prefeituras com foco na construção de marcas de governança.
Autor de dois livros, orientador acadêmico, influenciador digital (20 mil seguidores no Twitter e Facebook) e palestrante com mais de 300 conferências — como as realizadas para a Fundação alemã de estudos políticos Konrad Adenauer e várias universidades —, é também referência no meio acadêmico como fonte de pesquisa para defesa de teses em várias universidades, como PUC, Unicamp, entre outras.
Teve seu trabalho citado em livros e, além de ser um dos pioneiros em public branded content, é especialista em neuromarketing e comunicação subliminar, tendo concedido centenas de entrevistas e escrito artigos para os principais jornais, TVs e portais do Brasil e outros países.
Além de outras agências, foi diretor de operações da Propeg-CP, uma das maiores e mais premiadas do Brasil, colecionando prêmios nacionais e internacionais e nove vezes o prêmio de "Agência do Ano".
Experiente roteirista, diretor e editor, é conteudista de vídeos governamentais, eleitorais e de empresas públicas com foco em marketing digital (redes sociais e canais on-line). Também ministrou cursos de formação política para as executivas dos maiores partidos do Brasil.
Foi representante brasileiro no 1º Congresso Latino-Americano de Consultores Políticos, realizado em San José, Costa Rica, na América Central, em 2002, e é integrante da Alacop (Associação Latino-Americana de Consultores Políticos), EAPC (European Association Political Consultant) e um dos primeiros filiados da Abcop (Associação Brasileira de Consultores Políticos).
Aspectos inovadores do trabalho de comunicação executado ao longo de décadas por ele foram tema de três teses de doutorado. Mantém escritórios no Sudeste brasileiro e nos EUA.
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