As lágrimas de Bolsonaro
"Não havia lágrimas no rosto de quem vivia na farra de jet ski enquanto o povo passava fome", lembra Marcia Tiburi
Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução/Pânico)
Para quem tem empatia, ver uma pessoa chorando, independentemente do motivo, é fonte de tristeza. Pessoas empáticas sentem o sofrimento dos outros. Mas há pessoas que não tem empatia ou compaixão.
Narcisistas perversos, contudo, podem encenar a tristeza que não sentem, caso seja necessário, ou podem se sentir realmente tristes quando são ameaçados no lugar especial que consideravam ser seu por direito natural, afinal, todo narcisista se acha o máximo, acha que é melhor que os outros simplesmente por existir.
Narcisistas podem ser burros ou inteligentes, mas têm todos a mesma estrutura. São falsos, hipócritas, autoritários, mimetizadores, invejosos, egoístas, mentirosos e agressivos, preguiçosos e manipuladores, mas amam o poder que lhes permite estar no centro das atenções.
Diante disso, o que fazer com as lágrimas do narcisista perverso que agora chora por si mesmo, às vésperas da prisão que o espera pelo projeto de genocídio contra os povos indígenas e tantos outros crimes?
Não havia lágrimas para as centenas de milhares de mortos por COVID, não havia lágrimas para a falta de ar, a falta de leitos, para os familiares desesperados com a morte dos seus entes queridos. Nunca houve lágrimas para os que sofreram, para os que perderam pais e mães, filhos, irmãos, familiares e amigos. Nunca houve lágrimas para a democracia destruída, para os trabalhadores sem emprego e seus filhos passando fome, para as pessoas em situação de rua que aumentaram em seu governo, para a Amazônia desmatada, para as crianças e jovens mortos por balas perdidas, para as mulheres submetidas a todo tipo de horror, humilhação, espancamento e até feminicídio com o fim das políticas públicas de combate à violência, nunca houve lágrimas para as crianças e jovens sem escola, nunca houve lágrimas na hora de desviar dinheiro, roubar joias e eliminar direitos. Não havia lágrimas no rosto de quem vivia na farra de jet ski enquanto o povo passava fome.
De onde saíram tantas lágrimas agora? A quem o ex-presidente quer comover? Certamente, estamos em luto e chorando há muito tempo, mas choramos com os outros, pelos outros.
O nosso luto vira luta, e nos ensina a fazer um país melhor onde não cabem líderes fascistas.
Marcia Tiburi
Professora de Filosofia, escritora, artista visual
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