Ativistas fazem movimento por vítimas de ação da PM em Paraisópolis
Para movimento, os nove mortos foram vítimas de um genocídio
O movimento negro realiza o ato público Massacre de Paraisópolis: Não foi acidente. Foi Genocídio!, desde as 17h de ontem (4), em protesto pelas nove vítimas mortas durante ação da Polícia Militar (PM) de São Paulo em um baile funk em Paraisópolis, no último domingo.
O ato, que foi organizado pela Coalizão Negra por Direitos, que reúne diversas entidades da sociedade civil, ocorre em frente à sede da Secretaria de Segurança Pública do estado, que está com as portas fechadas e cercada de policiais militares. O educador Douglas Belchior, fundador da Uneafro, uma das organizações que integram a Coalizão Negra, considera que os nove mortos em Paraisópolis foram vítimas de um genocídio.
"Em Paraisópolis, não foi acidente, é genocídio. Genocídio porque é uma ação sistemática do estado, não é uma ação pontual, não foi um acaso o que aconteceu ali, é uma recorrência do estado brasileiro colocar sua polícia, seu aparato armado para promover violência contra negros e pobres historicamente. Não é à toa que o número de homicídios contra pessoas negras é um dos maiores do planeta. O que aconteceu em Paraisópolis é mais um capítulo dessa história que é decorrência direta da escravidão brasileira", disse Belchior.
Segundo ele, a ação violenta em Paraisópolis "é a prática objetiva da política de segurança pública. É uma ação deliberada, orquestrada, estimulada e autorizada". Belchior acrescentou que os alvos dessa violência são os negros e os pobres.
Fernanda dos Santos Garcia, irmã de Dennys Guilherme dos Santos Franca, de 16 anos, um dos mortos em Paraisópolis, contou durante o ato que o corpo de seu irmão não tinha marcas que revelassem que ele havia sido pisoteado e que ela está investigando o ocorrido por conta própria. "Nada vai trazer ele de volta, mas eu quero justiça".
Ela lembrou que Dennys era um jovem que ajudava a família, estudava e queria ser orgulho para a família. "Na hora, eu me senti culpada. Ele saiu da minha casa, ele pediu autorização pra mim. Ele falou pra mim que ia e eu falei 'vai com deus'. Eu não ia imaginar que iam fazer isso com ele. Nós pagamos os nossos impostos, nós andamos do jeito que a sociedade manda, eu levanto todos os dias para trabalhar, assim como minha mãe sempre trabalhou, meu irmão sempre trabalhou e a única coisa que nos restou foi enterrar [o Dennys]".
Ela contou que os familiares das vítimas estão sofrendo ofensas pelas redes sociais. "Muitas pessoas nos ofendendo, nos culpando, [questionando] o que um jovem de 16 anos estava fazendo naquele local. Estava fazendo o que os filhos de todos vocês fazem, o que muitos de nós fazemos e fizemos: ele estava se divertindo", disse.
"Eles machucaram, eles torturaram, psicologicamente, fisicamente. O amigo do meu irmão estava no momento e ele pediu, ele está em estado de choque, ele está se sentindo culpado. É um jovem de 16 anos também, é uma criança. Independente se tivesse fazendo algo de errado, esse não é o procedimento", disse.
Ato em Paraisópolis
Na tarde de hoje também, familiares das vítimas e moradores de Paraisópolis fizeram ato no bairro da zona sul paulista pedindo justiça. No início do ato, as pessoas se concentraram em frente às duas vielas onde os nove jovens morreram.
As pessoas carregavam lenços brancos e cartazes pedindo paz e justiça. Muitas delas estavam visivelmente emocionadas. O grupo caminhou até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo. O trajeto não é longo, Paraisópolis que faz dúvida com um dos bairros mais ricos da cidade, o Morumbi, fica a pouco mais de dois quilômetros do Palácio. Eles queriam ser recebidos pelo governador João Doria.
No domingo, o governador se manifestou pelo Twitter e disse “lamento profundamente as mortes ocorridas no baile funk em Paraisópolis nesta noite. Determinei ao Secretário de Segurança Pública, General Campos, apuração rigorosa dos fatos para esclarecer quais foram as circunstâncias e responsabilidades deste triste episódio.”
Doria
O governador João Doria recebeu, na noite desta quarta-feira, familiares das vítimas e líderes comunitários de Paraisópolis. Segundo a assessiria de imprensa, no encontro, o governador ouviu relatos de duas mães que perderam seus filhos e reiterou o compromisso de rigor e transparência em relação à investigação das mortes ocorridas na madrugada de domingo.
Ainda de acordo com o governo do estado, na reunião, que durou duas horas, estavam presentes integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Dimitri Sales; o secretário da Segurança Pública, general João Camilo Campos; o coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Walter Nyakas; o chefe de gabinete do governador, Wilson Pedroso, e o líder comunitário de Paraisópolis, Gilson Rodrigues.
Um novo encontro no Palácio dos Bandeirantes está marcado para segunda-feira (9) com a presença do governador e de familiares das nove vítimas.
Matéria atualizada às 22h48 para acréscimo de informações sobre o encontro do governador João Doria e familiares das vítimas e líderes de Paraisópolis
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