Bolsonaro e o caos no Natal da desobediência

Aqui, o principal incentivador do caos é o próprio presidente da República, em seu eterno vai-e-vem, puxa-e-estica, mente-e-desmente

Helena Chagas
Publicada em 28 de dezembro de 2020 às 15:49
Bolsonaro e o caos no Natal da desobediência

Por Helena Chagas, para o Jornalistas pela Democracia

Foi o Natal da desobediência. Municípios do interior de São Paulo ignoraram a fase vermelha decretada pelo governo do estado, restaurantes e bares abriram clandestinamente, e não fecharam nem mesmo depois da visita da fiscalização. Ainda bem que a fase amarela volta hoje. Embora sem qualquer justificativa científica que estabeleça diferenças entre a situação de domingo e a de segunda em SP, ao menos o governo escapa da desmoralização total. Por lá, onde os números da pandemia aumentaram assustadoramente nas últimas semanas, o atraso na divulgação dos dados da CoronaVac e o bate-volta do governador João Doria a Miami na véspera do Natal deixaram clima meio pesado.   

Mas não é só em São Paulo. O país inteiro celebra (?) as festas em meio à confusão, atravessado por sentimentos que vão do medo e da depressão ao escapismo e à negação. Em Manaus, os comerciantes e parte da população foram às ruas protestar e levaram o governador Wilson Lima a recuar nas medidas tomadas, autorizando a abertura do comércio antes proibida. Em Brasília, restaurantes e shoppings cheios, no Rio apenas o tempo nublado afasta o carioca da praia. Em Angra dos Reis (RJ), funcionários do turismo fizeram protesto contra as medidas restritivas. As previsões são de que na primeira quinzena de janeiro os números de mortos e contaminados da Covid aumentem ainda mais, consequência do descuido nos feriados.

Loucura coletiva? Um pouco. Desespero? Muito. Ninguém aguenta mais essa situação. O responsável maior pela bagunça, acima de tudo, é o poder público. É, aliás, a ausência de quem deveria estar fazendo campanhas de esclarecimento a população, tomando providências não apenas para atendê-la nos hospitais e iniciar a vacinação, mas sobretudo para fazer o que se espera de uma liderança nessas horas: passar segurança, acolher, organizar e dar o exemplo.  

Aqui, o principal incentivador do caos é o próprio presidente da República, em seu eterno vai-e-vem, puxa-e-estica, mente-e-desmente. Jair Bolsonaro chegou para confundir, e quando o palco para isso é a saúde pública, não se pode esperar nada além da catástrofe.  A consequência é morte. Neste Natal, ele fez uma live sabotando a vacinação, afirmando que o governo não se responsabiliza por efeitos colaterais, etc. Até sábado, manteve o discurso da irresponsabilidade até sábado, quando foi indagado sobre o atraso no início da imunização no Brasil, em contraste com outros países, e respondeu que “não dá bola para isso”.

No domingo, talvez alertado para a péssima repercussão, disse que “temos pressa em obter uma vacina segura, eficaz e com qualidade”.  O problema agora é fazer isso, com todo o despreparo já mostrado por seu governo — e com a certeza de que o presidente da República estará, amanhã, dizendo o contrário do que disse hoje. Já é possível quantificar as consequências nefastas do comportamento e do exemplo da Bolsonaro. Hoje, 22% das pessoas dizem não querer tomar a vacina, contra 9% de alguns meses atrás. O resultado disso pode ser um tremendo fracasso na imunização da população, que pode não alcançar os índices necessários para erradicar a doença por aqui. 

Vacinação

Do outro lado, os mais de 70% que ainda querem se vacinar assistem às cenas do início da vacinação contra a Covid-19 mundo afora. Neste fim de semana, apesar do Natal, em mais de quarenta países já estavam vacinando. Mas não conseguimos ver aqui, por trás da espuma da politização que tomou conta do assunto, perspectivas mais animadoras. 

Até agora, a população, confusa e dividida entre apavorados e negacionistas, ainda não deu sinais de que irá às ruas protestar contra o governo por sua irresponsabilidade e inoperância no caso da Covid-19. Mas o aumento do número de contaminados e mortos, o fim do auxílio emergencial que garantiu a sobrevivência de muitos nos últimos meses e a demora na vacinação são ingredientes explosivos.  

Comentários

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    Giberto 30/12/2020

    Toma vergonha na cara, seu texto é ridículo. Vc mente, distorce as coisas. L

  • 2
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    josé carlos 29/12/2020

    Infelizmente temos um despreparado e insano na presidência da república, cercado de generais que estão adorando as mordomias conquistadas, tais como: auxílio paletó, carros, seguranças, viagens internacionais, salários altos, coisas que nunca teriam acesso na caserna. O presidente foi eleito para governar pelo e para o povo mas infelizmente, não sabe o que fazer, passa o mandato brincando, fazendo deboches, inclusive da morte de pessoas. É o pior presidente da história democrática do nosso país. Sem postura, sem presença, sem ação, sem decisão, péssimo em relações internacionais, complexado, despreparado, pequeno, sem condições alguma para exercer o cargo para o qual foi eleito. Estamos sob a égide de um governo negacionista, que não reconhece a pandemia do coronavírus desde o princípio, não tomou medida alguma para atenuar a disseminação do vírus pelo país, não se preparou para adquirir vacinas, seringas, agulhas, não coordenou a elaboração de um plano estratégico nacional para o enfrentamento dessa crise. Enfim, o Brasil está jogado às traças, 2º país do mundo em número de mortes pela covid-19 e não fechou sequer um contrato para aquisição de vacinas. Ou seja, o governo não está nem aí para as mortes afinal de contas, nenhum parente direto deles morreu. Ou o STF ou o congresso tomam a frente disso ou vamos passar 2021 com a politicagem das vacinas e a população morrendo a cada dia com esse vírus. País passivo, povo passivo, não sabe exigir seus direitos. O problema sempre foi nosso povo passivo, desunido e acomodado.

  • 3
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    Marcos Britto 29/12/2020

    A verdade é que, o presidente Bolsonaro é militar, e como militar,não consegue ouvir opiniões, é sim senhor,não senhor, está se tornado o presidente mais desastroso da História, sua brigas políticas com Dória, desanlinhou sua psiquê, eu votei no Bolsonaro para tirar o PT, agora é demitilo do cargo, basta de ignorância,intransigência, incapacidade intelectual🤥🤡

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