Bolsonaro já desperdiçou duas oportunidades. Agora, que falem as urnas!
Jornalista Denise Assis prevê que, com a derrota, as "tentativas de criar o caos virão", mas lembra que "estamos a poucos metros da linha de chegada"
Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)
Tá na hora do Jair/Tá na hora do Jair... Pois é. O domingo marcou talvez o epílogo dessa desgraçada história que há quatro anos atormenta a vida do país, nos afasta do mundo civilizado e nos joga nos recônditos da terra plana.
Desde a primeira tentativa de balbúrdia, em 7 de setembro, quando o vazamento de um estudo encomendado a uma consultoria, pelas Forças Armadas, (e publicado com exclusividade pelo 247) para checar, àquela altura, com quantos comandos contavam e que chefes de instituições como Polícia Civil e Polícia Militar estariam com eles caso houvesse um golpe, que a ideia fez água.
Agora, no limiar da eleição, no próximo dia 30, o desespero da constante perda de pontos a cada publicação das pesquisas, restou aos bolsonaristas apoiar um ato histriônico, melodramático, com frases do tipo: “sacrifício da própria vida!”, executado pelo ex-deputado Roberto Jefferson. O claro intuito era o de melar e adiar a votação favorável, no quadro atual, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O espalhafato produzido pelo aliado de primeira hora – e um dos orientadores da campanha para a reeleição de Jair Bolsonaro -, o ex-deputado, acabou às 19h09, de acordo com o anúncio feito por um canal de TV fechado. Jefferson se entregou à polícia, ao som de um grupinho de fanáticos que entoava corinho de: “eu sou brasileiro”..., típico dos bolsominions.
No melhor estilo “sai pra lá para não me contaminar”, Jair Bolsonaro, assim que soube que Jefferson deu início ao plano de “resistir”, repudiou as ações e pediu que o ministro da Justiça, Anderson Torres, fosse até o local. Como - do ponto de vista jurídico - e para quê, não ficou muito claro à sociedade. Enquanto isso, o ex-presidente Lula (PT) disse que o ataque cometido por Jefferson é uma "aberração". Porém, num ato de precipitação, a deputada Bia Kicis evidenciou a manobra, ao prestar imediata solidariedade a Jefferson, jogando nos ombros do TSE a culpa pelo “clima” estabelecido.
Jefferson, que cumpria prisão domiciliar, com recomendações de não fazer contato com membros do seu partido (PTB-RJ) e manter-se longe das redes sociais, vinha desafiando as autoridades e transacionando com seus pares. Ontem, em uma ação altamente calculada, divulgou vídeo com impropérios e baixarias contra a ministra do STF, Carmem Lúcia –, usando expressões impublicáveis -, e contra o ministro do TSE, Alexandre de Moraes.
Claro que não só ele, como o Planalto, sabiam que a reação viria com a mesma intensidade. E veio. Hoje (23/10), a Polícia Federal, já de olho às suas atitudes, apareceu em sua casa, na cidade de Comendador Levy Gasparian, no interior do Estado do Rio de Janeiro, com ordem de levá-lo para a prisão fechada, e com mandado de prisão motivado por ele ter descumprido medidas cautelares. Foi recebida à bala de fuzil e o lançamento de três granadas, no melhor estilo bunker de traficantes. Seus disparos feriram uma agente e um delegado, que atendidos em um hospital na cidade vizinha de Três Rios, passam bem."
Após a prisão, Moraes disse no Twitter: "Parabéns pelo competente e profissional trabalho da Polícia Federal, orgulho de todos nós brasileiros e brasileiras. Inadmissível qualquer agressão contra os policiais. Me solidarizo com a agente Karina Oliveira e com o delegado Marcelo Vilella que foram, covardemente, feridos."
Cumprindo o roteiro já há tempos estabelecido, a “resistência” de Jefferson seria como a pedra jogada na água, provocando ondas crescentes, como há muito ensaia Bolsonaro, candidato a quem mais interessava uma baderna.
Com previsão de derrota - ainda que em disputa apertada -, a confusão poderia melar e provocar o adiamento da eleição, embolando o cenário político, já bastante conturbado pelo discurso de ódio e a avalanche de fake News contra o ex-presidente Lula. Pois perderam a segunda oportunidade. Os tiros disparados na direção dos policiais podem ter estilhaçado o futuro de Bolsonaro.
Até o presidente da Câmara, Arthur Lira, dono do cofre - detentor da senha do “orçamento secreto” -, também condenou o episódio: “O Brasil assiste estarrecido fatos que, neste domingo, atingiram o pico do absurdo. Em nome da Câmara, repudio toda reação violenta, armada ou com palavras, que ponham em risco as instituições e seus integrantes. Não admitiremos retrocessos ou atentados contra nossa democracia”, escreveu em sua rede social, deixando o candidato a quem prestou apoio explícito, com camiseta de campanha e tudo, no sereno.
Resta ao país, a cada cidadão que almeja a democracia, que mantenha a calma, não aceite provocação e aguarde o pleito. A verdadeira revolução se dará nas urnas. Abortados os dois golpes, as escaramuças e tentativa de criar o caos virão. Cabeça fria, título nas mãos e olho no resultado do dia 30. Estamos a poucos metros da linha de chegada.
Denise Assis
Jornalista e mestra em Comunicação. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Veja, Isto É e O Dia. É autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964"; "Imaculada" e “Claudio Guerra: Matar e Queimar”. Integrante do Jornalistas pela Democracia
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