Bolsonaro passará um bom tempo na cadeia e seu sucessor provavelmente será alguém da própria família
O candidato mais provável é Eduardo Bolsonaro – e não um nome da ‘nova direita', como planeja a classe dominante
Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Marco Rubio (Foto: Reprodução X)
Jair Bolsonaro está sendo enterrado vivo com o indiciamento pela Polícia Federal. Ele será preso, e a ideia de anistia também será enterrada. Sua provável temporada na cadeia, em tese, abre a possibilidade de que seu capital político seja transferido a uma “nova direita”, que não seja extremista nem radicalizada. No entanto, a julgar pelas características pessoais de Jair Bolsonaro, este cenário é altamente improvável.
O ex-presidente sempre demonstrou desconfiança em relação a aliados fora de seu núcleo íntimo e uma confiança restrita à sua família. Assim, enquanto figuras como Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, despontam como potenciais lideranças desta nova direita, o mais provável é que Bolsonaro siga o modelo do Fujimorismo no Peru, no qual Alberto Fujimori, mesmo preso, manteve sua influência política lançando sua filha Keiko como sucessora em três eleições consecutivas.
No caso brasileiro, o nome mais provável para herdar o legado de Bolsonaro é seu filho Eduardo. Deputado federal, Eduardo mantém relações estreitas com o núcleo trumpista nos Estados Unidos, especialmente com figuras como Marco Rubio, que deve ocupar o Departamento de Estado no futuro governo de Donald Trump. Essa conexão internacional poderia reforçar a legitimidade de sua candidatura e reavivar o discurso ideológico do bolsonarismo, que seria também reforçado com a promessa de anistia ao “mito".
Outros nomes, como Michelle Bolsonaro, também podem despontar, ainda que esta hipótese seja menos provável. Sua ligação com a base evangélica confere a ela um apelo simbólico que dificilmente seria ignorado. No entanto, o que parece mais certo é que Bolsonaro priorizará alguém da família para assegurar que seu nome, ou melhor, sua “marca", continue relevante, mesmo enquanto cumpre pena.
O relatório da Polícia Federal, que acusa Bolsonaro de liderar uma organização criminosa com o objetivo de subverter a democracia, é devastador. Ele aponta que o ex-presidente esteve diretamente envolvido em todos os núcleos da organização – de desinformação a ações golpistas – e que ele arquitetou um plano para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, a PF detalhou tentativas de assassinato contra Lula, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. São acusações gravíssimas que tornam sua prisão inevitável.
Apesar disso, a narrativa bolsonarista continuará viva. Assim como Fujimori transformou seu martírio em uma bandeira política para sua base, Bolsonaro provavelmente fará o mesmo. E, nesse contexto, a sucessão natural dentro de sua própria casa parece ser a escolha mais lógica. A transferência de capital político para potenciais aliados externos, como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado ou Romeu Zema, esbarra no ego e na desconfiança que Bolsonaro nutre por todos que não pertencem ao seu círculo mais próximo.
O modelo Fujimori já mostrou que é possível sustentar um movimento político mesmo após a prisão do líder. No Brasil, o bolsonarismo deve seguir o mesmo caminho. No entanto, como no Peru, essa estratégia tende a encontrar resistência em frentes amplas – sejam elas de direita ou de esquerda –, que se consolidarão para evitar a volta de um projeto autoritário. Jair Bolsonaro será, sim, enterrado vivo, mas continuará presente na política brasileira como assombração.
Leonardo Attuch
Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.
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