Brasil lidera sequenciamento da onça-pintada

Genomas revelam cruzamentos antigos entre espécies de grandes felinos. Dois analistas ambientais do ICMBio participaram do estudo.

Comunicação ICMBio
Publicada em 21 de julho de 2017 às 15:12
Brasil lidera sequenciamento da onça-pintada

Brasília – Com a participação de especialistas de sete países, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) liderou o sequenciamento do genoma da onça-pintada, o maior felino das Américas, que está ameaçado de extinção.

O projeto teve ainda a participação de dois analistas ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ronaldo Morato, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Mamíferos Carnívoros (Cenap) e Daniel Kantek, da Estação Ecológica Taiamã.

Os dados foram comparados aos genomas de outros quatro grandes felinos (tigre, leão, leopardo-das-neves e leopardo), todos do gênero Panthera. A análise dessa enorme gama de informações foi feita durante cinco anos, sob a coordenação do professor Eduardo Eizirik, da Faculdade de Biociências da PUCRS, e resultou na publicação de artigo na revista Science Advances.

. Clique aqui para fazer o download gratuito do estudo em inglês

O primeiro genoma da onça-pintada foi obtido de Vagalume, nome dado a animal que vivia no Zoológico de Sorocaba (SP). Nascido na região do Pantanal em 1997 e pesando 94 quilos quando adulto, foi deixado no local ainda filhote, após a morte da mãe. “Procurei um animal de cativeiro, para facilitar a coleta de amostras, mas que fosse originário da natureza”, comenta Eizirik.

Há 4,6 milhões de anos, os cinco grandes felinos tinham um ancestral comum, que era parecido com o atual leopardo. Ele deu origem às espécies atuais e também a outras já extintas, que a partir da Ásia se espalharam por quase todo o planeta.

O estudo revela que houve diversos tipos de cruzamentos entre essas espécies ao longo de sua evolução, o que pode ter contribuído para a sua sobrevivência até o presente. “Esses animais não têm um número estável. Como predadores de topo, são suscetíveis a mudanças ambientais, como a diminuição das presas, declinando rapidamente e perdendo a variabilidade genética”, explica o professor.

Um dos casos detectados de hibridação (cruzamento entre diferentes espécies) ocorreu entre a onça-pintada e o leão e, provavelmente, foi vantajoso para a primeira. Os pesquisadores descobriram que ela herdou dois genes envolvidos na formação do nervo óptico, que, após a hibridação, sofreram seleção natural positiva (ou seja, foram importantes para a adaptação da espécie).

O estudo também aponta outros genes com evidência de seleção natural que mostram adaptação das espécies às novas condições ambientais. Isso pode explicar por que a onça tem a mordida mais forte entre os grandes felinos, conseguindo predar jacarés e tartarugas, com seus cascos duros. Outro exemplo é o fato de o leopardo-das-neves suportar mais a falta de oxigênio. Ele vive nos Himalaias, a mais alta cadeia montanhosa do mundo, e no Tibete, na Ásia.

Tigre, leão e leopardo-das-neves já tinham o genoma sequenciado. O grupo de William Murphy, da Universidade do Texas, contribuiu para o sequenciamento do leopardo, permitindo a análise feita para o artigo, que pela primeira vez inclui genomas de todas as espécies deste grupo. Então aluno de doutorado em Zoologia pela PUCRS, Henrique Figueiró, orientado por Eizirik, trabalhou nos dados sobre o sequenciamento do maior felino das Américas.

A partir das descobertas, o grupo da PUCRS e seus colaboradores no Brasil e em outros países estão agora conduzindo estudos genômicos ainda mais detalhados das onças-pintadas, envolvendo múltiplos indivíduos de diferentes regiões, o que será importante para aprimorar as estratégias atuais para a conservação desta espécie.

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