Cavalgaduras

Porque, em algum ponto do nosso tempo histórico, deixamos que figuras como Rêgo Barros chegassem, por pura inércia, ao generalato

Leandro Fortes
Publicada em 31 de julho de 2019 às 10:08
Cavalgaduras

"Difícil acreditar que esse porta-voz do governo, Otávio Rêgo Barros, seja um general-de-divisão do Exército Brasileiro. Da ativa", escreve Leandro Fortes, do Jornalistas pela Democracia, após o general insinuar que o jornalista Glenn Greenwald cometeu crimes; "Mesmo que nas ruínas da nação, vamos ter que nos debruçar sobre a deformação militar"

Difícil acreditar que esse porta-voz do governo, Otávio Rêgo Barros, seja um general-de-divisão do Exército Brasileiro. Da ativa. 

Como chegamos a essa tragédia? Em algum momento, mesmo que nas ruínas da nação, vamos ter que nos debruçar sobre a deformação militar, no Brasil. 

Porque, em algum ponto do nosso tempo histórico, deixamos que figuras como Rêgo Barros chegassem, por pura inércia, ao generalato.

Largadas à própria sorte, depois da ditadura, gerações inteiras de oficiais foram se moldando em um mundo paralelo, paralisadas na estupidez da Guerra Fria, sem que nenhum governo tivesse tido a coragem de intervir nesse processo de informação. 

Sem julgamentos e sem expurgos, os crimes da ditadura ficaram impunes e, mais grave, ficaram impunes as mentiras da caserna sobre esses crimes.

Tacitamente, a nação decidiu que militares tinham direito a mentir, falsear, esconder e manipular quaisquer indícios de verdades, desde que ficassem quietos nos quartéis. 

O problema é que, quietos, voltaram-se para si mesmos, para os antigos delírios anticomunistas, fortalecendo esse conceito primário de guardiões dos valores morais da nação, enclausurados num país inexistente, muitíssimos preocupados com promoções e adidâncias no exterior.

Dessa lástima, surgiram esses generais ora no governo, alinhados à necropolítica de um psicopata, alheios ao bom senso, à razão e ao ridículo.

Assim diante de um exercício mínimo de jornalismo levado a cabo pelo repórter Guilherme Mazieiro, do UOL, o general, obrigado a articular um argumento não combinado, quase teve um AVC.

Um general de três estrelas do Exército Brasileiro. 

Difícil acreditar que tenhamos chegado a esse ponto.

William De Lucca@delucca

Jornalista: qual é o crime que o jornalista cometeu?
Porta-voz: um crime
Jornalista: tá, mas qual crime?
Porta-voz: mas alguém tem dúvida que teve crime?
Jornalista: mas qual?
Porta-voz: qual o que?
Jornalista: crime
Porta-voz: teve sim
Jornalista: mas
Porta-voz: próxima pergunta

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