Combate à Doença de Chagas pede atenção nos cuidados básicos da população e atendimento inicial nas unidades de saúde

Em dez anos, Rondônia teve apenas quatro casos confirmados da doença.

Gaia Bentes/Fotos: Frank Néry/Secom - Governo de Rondônia
Publicada em 15 de abril de 2019 às 15:37
Combate à Doença de Chagas pede atenção nos cuidados básicos da população e atendimento inicial nas unidades de saúde

Produtores, fornecedores e consumidores do açaí devem estar atentos aos cuidados exigidos para evitar a contaminação via oral da Doença de Chagas.

Em prol do combate à Doença de Chagas, a Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa) alerta sobre a importância em identificar e notificar o paciente com a suspeita da doença em até 24 horas e motivar o consumidor de alimentos como contribuinte à fiscalização. Em dez anos, Rondônia teve apenas quatro casos confirmados da doença.

Para evitar a ampliação de relevância epidemiológica, deve-se investigar oportunamente casos suspeitos de Chagas por transmissão oral, eventuais notificações de casos suspeitos em até 24h para estabelecer a oportunidade de diagnóstico, a fim de instituir tratamento e evitar o agravamento da doença. O Estado orienta ao município, a partir de diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde, como agir em casos de suspeita da Doença de Chagas, com a investigação epidemiológica e a notificação do paciente, para que o Estado atue com maior celeridade com medidas para evitar um surto ou epidemia.

O exame de parasitológico é imediato nas Unidades Básicas de Saúde municipais

A Coordenadoria Estadual do Programa de Doença de Chagas explicou como deve ser realizado o atendimento inicial em um paciente, valorizando as orientações de atuação por parte da Agevisa. Com a identificação de uma suspeita, há dois exames que devem ser realizados, o parasitológico é imediato nas Unidades Básicas de Saúde municipais, onde se tem a visualização do parasita pela lâmina através do exame de gota espessa, para identificar o protozoário Trypanossoma cruzi, que circula no sangue do homem e animais contaminados.

E, em casos crônicos, a partir de suspeitas clínicas, a realização do exame sorológico IgG, solicitado ao Laboratório Central de Saúde Pública de Rondônia (Lacen). “Posso ter uma pessoa com Chagas e o exame parasitológico negativo, mas o exame sorológico positivo. A fase aguda é muito inespecífica, tangendo com outros agravos. O médico clínico precisa ter atenção maior para os sintomas que são similares a outras doenças”, explicou Aline Linhares, gerente técnica do laboratório.

A doença infecciosa pode causar febre, mal estar, falta de apetite, aumento do baço e fígado por até 12 semanas. Com o resultado positivo, o tratamento é realizado por 60 dias com o medicamento Benznidazol. Estudos demonstram um novo período para o tratamento, com duração de apenas duas semanas, resultando na cura do paciente. “Quanto mais rápido iniciar o tratamento, maiores chances do paciente não ter sequelas, por isso a importância da urgência do diagnóstico”, afirmou José Maria Silva Nobre, coordenador do Programa de Doença de Chagas.

Se não identificada no início, em fase aguda, a doença torna-se crônica, desenvolvendo diversos problemas que são identificados geralmente após 30

Lacen realiza exame sorológico para diagnosticar doença em estado crônico

ou 40 anos de infecção. Em 10 anos, até 2018, apenas quatro casos agudos foram confirmados no Estado. O dia mundial, definido em 14 de abril, alerta aos profissionais de saúde e pacientes para que saibam que a Doença de Chagas não foi erradicada e a atenção deve ser maior com os cuidados básicos e o atendimento inicial nas unidades de saúde. A Organização Mundial de Saúde traz atenção aos pacientes crônicos, para o tratamento após avaliação médica, com isso as notificações de casos crônicos também devem ser realizadas.

Uma das maiores preocupações da Agevisa se dá com a contaminação por via oral, com o consumo de produto contaminado, como o açaí. Porém, a infecção vetorial também exige grande atenção, com orientações de medidas de controle e cuidados básicos pela população na presença do Barbeiro, inseto transmissor da doença. O funcionário público, Jean Carlos, consome açaí frequentemente e se preocupa com o local onde adquire o produto. “O pré-requisito principal não é somente o produto, mas com a qualidade e de que de forma ele é preparado, com a higiene, para evitar quer venha nos prejudicar posteriormente”, declarou.

Por meio de alimentos, segundo a Agevisa, já foram diagnosticados no Brasil casos pelo consumo de açaí e cana-de-açúcar, em Rondônia apenas pelo açaí. Maior atenção está sobre os requisitos para a produção, pelos batedores e fornecimento pelos distribuidores do produto à população, onde a vigilância sanitária municipal fiscaliza e exige aos estabelecimentos o cadastramento e a licença por meio das boas práticas aplicadas, como a higiene do manipulador, ambiente, máquina e utensílios usados para o processo do produto final. A produção da polpa exige cuidados básicos na seleção de grãos e no processo de batidas, onde o besouro pode pousar nos grãos e o vinho do açaí, produto final, ser contaminado.

Consumidores podem contribuir com a fiscalização para evitar proliferação da Doença de Chagas.

A distribuidora de açaí, que se identifica como Tatá, possui estabelecimento que atua no ramo com a venda do açaí há mais de 20 anos. “O principal do negócio é a higiene. O momento do processo, o cuidado na água quente, coar, olhar grão por grão, eu acompanho o meu fornecedor, onde compro o açaí do dia”, declarou.

O Estado deve retomar ainda no primeiro semestre de 2019 um projeto de monitoramento do produto, com a coleta de açaí dos estabelecimentos, e distribuição de folders educacionais à população. “Não tem melhor fiscal que o próprio consumidor, que precisa ter consciência do que cobrar do estabelecimento, se o manipulador está limpo, se o funcionário está com o cabelo preso, unhas limpas e cortadas, máscara protetora de boca e boa saúde, além do armazenamento correto”, reforçou Lúcia Freitas, nutricionista do Núcleo de Alimentos da Agevisa, acrescentando que o processo de armazenamento também é de responsabilidade do consumidor, para evitar a proliferação de microorganismos.

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