Descoberto ninho com filhote de gavião-real em Sooretama

É o primeiro caso registrado na reserva biológica no Espírito Santo. Também conhecida como harpia, ave, dificilmente avistada em boa parte do Brasil, é a maior águia da América do Sul.

Comunicação ICMBio
Publicada em 21 de agosto de 2017 às 08:15
Descoberto ninho com filhote de gavião-real em Sooretama

Brasília – Pesquisadores acabam de encontrar ninho com filhote de gavião-real (Harpia harpyja), na Reserva Biológica (Rebio) de Sooretama, um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica de tabuleiro, no norte do Espírito Santo. A unidade de conservação é gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

O gavião-real, também conhecido como harpia, é a maior águia da América do Sul. Mede até 105 cm de comprimento. Os machos pesam de 4 a 5 kg e as fêmeas podem chegar até 9 kg. A envergadura chega a 2 m de comprimento. Devido ao desmatamento e alteração do habitat, a ave é dificilmente avistada em boa parte do Brasil.

Esse é o primeiro ninho de harpia descoberto na Reserva Biológica de Sooretama e o primeiro com filhote na região. Desde 1997, o gavião-real é estudado pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), por meio do projeto Harpia (antes chamava-se Gavião-Real), que busca conhecer e conservar a espécie no País.

A descoberta

A descoberta foi feita na semana passada. Os pesquisadores vistoriavam outro ninho encontrado no início do mês de julho deste ano pelo fotógrafo Gustavo Magnago. “Estávamos buscando o ninho, mas, na metade do caminho, encontramos outro ninho, e este sim era de harpia”, relata o professor Aureo Banhos, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Integrante do Projeto Harpia e do Programa de Pesquisa em Biodiversidade Mata Atlântica (PPBIO-MA), ele estava com dois membros de sua equipe, o ecólogo Frederico Pereira e a graduanda em biologia Kézia Catein, quando encontrou o ninho a partir de uma trilha em um dos módulos Rapeld instalados na reserva para estudar os efeitos da rodovia BR-101 na biodiversidade.

“Ouvimos a vocalização e fomos andando em sua direção. De longe avistei o grande volume de galhos na forquilha da árvore. No chão, embaixo da árvore, encontramos penas que confirmaram se tratar de harpia. Após mais de uma hora buscando e recolhendo os vestígios no chão, olhei novamente para cima e vi a cabeça do filhote de harpia”, contou o professor.

O ecólogo Frederico, que acabou de entrar na equipe, se mostrou emocionado com a descoberta. “Muito obrigado a vida por me proporcionar cenas como esta, me colocar diante das harpias na Mata Atlântica e ainda poder monitorá-las”.

Análise das fotos

A pesquisadora Tânia Sanaiotti, do Inpa e coordenadora do Projeto Harpia, analisou as fotos do filhote. “Aparentemente tem entre 4 a 5 meses de idade”, afirmou. Em março ela visitou a Rebio de Sooretama, durante o workshop Harpia, que ocorreu na Reserva Natural Vale. “Passamos próximo do ninho. Já devia estar chocando, mas não tivemos a sorte de tê-lo encontrado naquele momento. Fico muito feliz com essa descoberta!”, comemorou.

“É preciso que a integridade da Rebio de Sooretama seja mantida, garantindo a dispersão desse filhote. Isso significa uma BR-101 com um trecho alternativo ao território desses animais que são os primeiros moradores”, defendeu Tânia, preocupada com as ameaças à conservação da espécie na unidade de conservação.

Ameaças

Em abril de 2015, uma fêmea adulta foi atropelada no trecho da BR-101 que corta a Rebio de Sooretama. Em dezembro de 2015, biólogos de uma consultoria ambiental fizeram o registro de um casal em um dos módulos Rapeld. Desde então, os pesquisadores do Projeto Harpia buscam evidências de gavião-real nos módulos.

Além da rodovia BR-101, a caça também é uma grande ameaça para a harpia na região. Exames da ave atropelada em 2015 revelaram partículas de chumbo de arma de fogo alojados em seu corpo. “As câmeras de pesquisas que colocamos nos módulos registraram com bastante frequência caçadores dentro da reserva”, afirmou Aureo.

Outra ameaça é a rede de transmissão de energia no entorno. Dois indivíduos jovens em dispersão foram encontrados eletrocutados em propriedades rurais do entorno, um em 1997 e outro em 2014.

Outros ninhos

Na região já foram encontrados outros três ninhos, em 1992, 2010 e 2016, todos na Reserva Natural Vale, que é contígua a Rebio de Sooretama. O ninho encontrado em 2010, pela equipe do Projeto Harpia, foi abandonado pelo casal em 2012, sem reprodução. No ninho encontrado em agosto de 2016 pelo observador de aves Justiniano Magnago, o casal é avistado com frequência, mas até o momento eles não estão chocando.

O ninho avistado em 2016 na Rebio de Sooretama também foi acessado pelos pesquisadores e se trata de gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus). O ninho também será monitorado pelo Projeto Harpia.

As atividades de monitoramento são realizadas com a autorização nº 24960-4, dada pelo Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Sisbio), do ICMBio, para o projeto intitulado “Conservação do gavião-real (Harpia harpyja), uiraçu-falso (Morphnus guianensis) e gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus) na Reserva Biológica de Sooretama”.

Neste ano, o Projeto Harpia, antes conhecido como Programa de Conservação do Gavião-real, completa 20 anos. Com esses novos ninhos monitorados na Mata Atlântica, na terra dos animais da mata (Sooretama), há ainda mais motivo para comemorar, disseram os participantes do projeto.

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