E se Alexandre de Moraes tivesse mandado prender os tios do zap?
"Eles seriam abandonados e esquecidos. Não há entre os tios nenhuma unanimidade", diz Moisés Mendes
Alexandre de Moraes, Marco Aurélio Raymundo, José Koury e Luciano Hang (Foto: Abdias Pinheiro/SECOM/TSE | Reprodução | Divulgação/PF | Edilson Rodrigues/Agência Senado)
Sobrevive de espasmos o que já foi uma gritaria em defesa da liberdade de expressão dos tios do zap contidos pela Polícia Federal e por Alexandre de Moraes sob a acusação de que estariam articulando um golpe.
O Estadão online deu um exemplo dos murmúrios essa semana. Formulou uma chamada de capa que pode ter provocado risos e irritado o leitor, tratado pelo jornal como um estúpido. Esta foi a chamada:
“Sem celular e com contas bloqueadas, empresários bolsonaristas tentam manter rotina”.
O Estadão acha mesmo que cada empresário tinha só o celular que foi apreendido pela Polícia Federal e que os milionários passarão dificuldades por causa das contas bloqueadas.
Assalariados têm mais de um celular. Jogadores de futebol e influencers têm dezenas.
Adriano da Nóbrega, o miliciano ex-amigo dos Bolsonaros, abandonado e executado na Bahia, era um arquivo andante que carregava uma dúzia de celulares.
Os jornalões se queixam dos celulares e do bloqueio de contas de dinheiro e de contas virtuais e de telefone.
É o momento de relembrar que em julho de 2017 Sergio Moro determinou que fossem bloqueadas as contas de Lula em bancos e de mais três apartamentos e um terreno em São Bernardo do Campo.
Lula somente seria condenado em segunda instância, por causa da farsa do tríplex, em janeiro de 2018. E Lula não era acusado de financiar tentativas de golpe.
Procurem nos jornais da época, em pesquisas simples no Google, uma nota, uma só, criticando o bloqueio das contas de Lula, antes mesmo da confirmação da sentença pelo TFRF4 em tempo recorde.
A gritaria contra bloqueios injustos só foi acionada agora, mas é quase protocolar, para passar alguma sensação de solidariedade aos tios do zap diante das ações da PF e do ministro do Supremo.
Mas o que aconteceria se Moraes determinasse, além dos bloqueios, a prisão preventiva dos oito tios do zap?
Nada. Quase zero. Aconteceria uma gritaria por alguns dias, por parte de Estadão, Folha, Globo e de juristas terrivelmente liberais, mas logo as coisas se acomodariam.
Uma semana depois eles seriam abandonados e esquecidos. Porque não há entre os tios nenhuma unanimidade.
Nenhum deles representa nada como líder de entidades do setor. São homens avulsos, reunidos apenas no zap, e pouca gente sabe os nomes da maioria dos sujeitos e o que eles fazem.
Os descolados da gastronomia sabem que um deles tem uma rede de restaurantes. Que outro é incorporador imobiliário. Que tem um fabricante de pranchas e que outro vende secos, molhados e armarinhos chineses.
Mas nada mais. Não há entre os investigados ninguém com atividade de ponta ou que agregue inovação ao que faz.
É gente com muito dinheiro, mas das séries B e C do empresariado brasileiro. Aliás, quem seria hoje da Séria A do capitalismo nacional? Está difícil.
É só olhar em volta. O capitalismo verde-amarelo sucumbiu à mediocridade e à chinelagem generalizada do bolsonarismo.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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