Em Rondônia, organizações se manifestam contra redução de unidades de conservação a favor de grileiros e desmatadores

Medida impacta diretamente as terras Uru-eu-wau-wau, Karipuna, Igarapé Lage, Igarapé Ribeirão, Karitiana e os povos isolados

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO -CIMI
Publicada em 05 de dezembro de 2020 às 11:42
Em Rondônia, organizações se manifestam contra redução de unidades de conservação a favor de grileiros e desmatadores

Mensagem das lideranças reunidas na aldeia Panorama, na Terra Indígena Karipuna. Foto: Fernanda Ligabue/Greenpeace

Em oposição à permanente ameaça do governo estadual e da Assembleia Legislativa de Rondônia às áreas protegidas, organizações da sociedade civil, indígenas e indigenistas se voltam agora, a partir de uma nota pública, contra a proposta de redução de duas unidades de conservação: Reserva Extrativista Jaci-Paraná e Parque Estadual Guajará-Mirim.

“Governador e deputados pretendem entregar as áreas públicas, um bem do povo, a grileiros e desmatadores, por meio de projeto de lei que tramita com prioridade na Assembleia Legislativa e pode ser aprovado nos próximos dias”, diz trecho da nota que é divulgada num contexto de intensa mobilização em Rondônia.

O projeto do governador e dos deputados é desmembrar cerca de 161.599 mil hectares dessas duas unidades de conservação e entregá-los à exploração, principalmente para a criação de gado. A desafetação dessas unidades impactam diretamente as Terras Indígenas Uru-eu-wau-wau, Karipuna, Igarapé Lage, Igarapé Ribeirão, Karitiana e os povos que estão em isolamento voluntário na região.

Leia a nota na íntegra:

Nota Pública – Nenhum hectare a menos!

A permanente ameaça do governo do Estado de Rondônia e da Assembleia Legislativa às áreas protegidas se volta agora para duas unidades de conservação: Reserva Extrativista Jaci-Paraná e Parque Estadual Guajará-Mirim. Governador e deputados pretendem entregar as áreas públicas, um bem do povo, a grileiros e desmatadores, por meio de projeto de lei que tramita com prioridade na Assembleia Legislativa e pode ser aprovado nos próximos dias. O projeto do governador e dos deputados é desmembrar cerca de 161.599 mil hectares dessas duas unidades de conservação e entregá-los à exploração, principalmente para a criação de gado.

As duas áreas têm sofrido invasões crescentes nos últimos 20 anos. Seringueiros da RESEX foram expulsos com violência por jagunços armados a serviço dos grileiros. Entregar essas áreas aos invasores é premiar e legitimar a ação do crime organizado no Estado. É assumir que o crime compensa e incentivar novas invasões em outras unidades de conservação, a exemplo do que ocorre na RESEX Aquariquara e outras reservas na região de Machadinho e Vale do Anari.

A desafetação dessas unidades impactam diretamente as Terras Indigenas Uru-eu-wau-wau, Karipuna, Igarapé Lage, Igarapé Ribeirão, Karitiana e os povos que estão em isolamento voluntário na região que envolve as áreas protegidas, ameaçando a integridade física, cultural e territorial podendo levar a eminência de um genocídio de culturas milenares.

Entendemos que as unidades de conservação não são empecilho para o desenvolvimento e que, ao contrário, podem ser aliadas na geração de emprego e renda, como por exemplo, na exploração sustentável da biodiversidade. O ataque a elas mostra ao Brasil e ao mundo que o estado não está preocupado em cuidar da Floresta Amazônica, nosso maior patrimônio.

As unidades de conservação: Jaci-Paraná e Guajará-Mirim não podem perder nem um hectare e precisam ser recuperados em sua integridade, o que seria outra oportunidade de geração de emprego e renda. O povo rondoniense não precisa de menos florestas. Precisa de mais. O uso das áreas públicas para a criação de gado beneficia apenas um pequeno grupo, além de ser crime previsto em lei.

As justificativas de invasões de áreas protegidas para desafetá-las utilizadas pelo PLC: nº 80/2020, só demonstra a incapacidade do Poder Público de governar e gerir o território, deixando a mercê do crime organizado.

Diante do exposto as entidades que assinam esta nota, exigem:

 

  1.   A retirada desta matéria da pauta do poder legislativo estadual;
  2.   Retirada dos invasores de todas as áreas protegidas;
  3.   Recondução das comunidades tradicionais aos seus territórios;
  4.   Proteção, monitoramento e fiscalização das Terras Indígenas e Unidades de Conservação;
  5.   Que o gado seja apreendido, leiloado e os recursos sejam aplicados na recuperação das áreas degradadas;
  6.   Que o programa de reflorestamento do Estado priorize as referidas áreas para recomposição florestal.

Porto Velho-RO, 01/12/2020.

Assinam:

Arquidiocese de Porto Velho

Associação de Defesa Etnoambiental-KANINDÉ;

Conselho Indigenista Missionário/CIMI-RO;

ONG Raiz Nativa;

SOS Amazônia;

Grupo de Pesquisa em Gestão do Território e Geografia Agrária da Amazônia – GTGA/UNIR;

Associação do Povo Indígena Karipuna-APOIKA;

Associação do Povo Indígena Uru-eu-wau-wau/Jupaú;

WWF-Brasil;

Comitê Chico Mendes;

Revista Xapuri;

Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia – AGIR;

ECOPORÉ-Ação Ecológica Guaporé;

Fundação Luterana de Diaconia;

Conselho de Missão Entre os Povos Indígenas;

Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia-FDL;

OPIROMA;

Associação Alternativa Terrazul;

Organização Indigenista da Diocese de Guajará-Mirim;

Pastoral Indigenista da Diocese de Ji-Paraná;

IMV – Instituto Madeira Vivo;

Associação Metareila do Povo Indígena Suruí;

Conselho Nacional das Populações das Populações Extrativistas-CNS;

Diretório Regional do Partido dos Trabalhadores-PT;

Rede Sustentabilidade;

Juventude Indígena de Rondônia;

FETAGRO – Federação de Trabalhadores na Agricultura de Rondônia

Via Campesina RO;

IPÊ; – Instituto de Pesquisa Ecologica

FVA – Fundação Vitória Amazônica

Grupo de Pesquisa Geografia, Natureza e Territorialidades Humanas – GENTEH-UNIR

Forum de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Rondônia – Fórum DCA/RO

ECAM – Equipe de Conservação da Amazônia

Grupo de Pesquisa em Geografia e Ordenamento do Território na Amazônia – GOT- Amazônia/UNIR

CUT-RO

Instituto Territórios e Justiça

Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Maria dos Anjos –CDCA/RO

Associação Cultural Pirarucu do Madeira

Instituto India Amazônia

Conselho Nacional de Seringueiros – CNS

Coletivo Mura de Porto Velho

Comitê Defensor da Vida Amazônica na Bacia do Rio Madeira

Organização Indígena Oro Wari

Pastoral Indigenista da Diocese de Guajará Mirim

Pastoral Indigenista da Diocese de Ji-Paraná

CRB – Regional Porto Velho Ir. Carmelita

Comissão Pastoral da Terra

COOMAD

REPAM – Comitê Rondônia

Greenpeace Brasil

Cáritas Porto Velho

Diocese de Guajará Mirim

Comentários

  • 1
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    Charlene 07/12/2020

    O governor quer tirar o dele tambem. É um pessimo influente

  • 2
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    Pedro Paulo Almodovar 07/12/2020

    Acho que seria de bom alvitre começar a divulgar, em todos os meios de comunicação não cooptados pela ALE, o nome de todos os Deputados Estaduais que, criminosamente se posicionam ao lado dos devastadores das terras indígenas e das reservas de proteção ambiental. O povo precisa sabem quem são os Deputados Estaduais que defendem o meio ambiente, e quem são os "vendilhões do templo", que se aliam a toda sorte de criminosos ambientais que estão acabando com as florestas, roubando áreas de proteção ambiental, expulsando as populações nativas de suas áreas protegidas por lei. Urge que arranquemos as máscaras dos deputados que posam de bonzinhos diante do povo, mas cometem graves crimes, apoiando e locupletando-se à custa da degradação do meio ambiente. Parabéns às entidades signatárias do documento acima !

  • 3
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    Dalton Costa 05/12/2020

    É preciso fazer um levantamento de quem ocupa ilegalmente o entorno destas florestas para saber quem são as pessoas e as empresas que movem e instrumentalizam as ações dos deputados contra o interesse da coletividade. A ação joga por terra todos os caríssimos projetos integrantes do Planafloro.

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