Em um ano, barco hospital atende a mais de sete mil moradores de localidades de difícil acesso em Rondônia

Chegada do barco hospital representa alegria para as comunidades carentes de serviços sociais e assistência médica.

Texto: Veronilda Lima/ Fotos: Ésio Mendes
Publicada em 14 de agosto de 2017 às 17:14
Em um ano, barco hospital atende a mais de sete mil moradores de localidades de difícil acesso em Rondônia

Inaugurada em 16 de agosto de 2016, em ato festivo em Guajará-Mirim, contando também com a participação de bolivianos, a Unidade de Saúde Fluvial Walter Bártolo, o Barco Hospital, completa um ano de funcionamento na quarta-feira, dia 16, com a somatória de 7.539 atendimentos e 44.150 procedimentos realizados em cinco viagens a 19 comunidades localizadas às margens dos rios Mamoré e Guaporé, de Guajará-Mirim ao distrito de Pimenteiras, cuja população é estimada em 7.579 habitantes. Isso significa que apenas 40 moradores da região percorrida não necessitaram dos serviços ofertados pelo governo de Rondônia na unidade fluvial gerenciada pela Secretaria de Estado da Assistência e do Desenvolvimento Social (Seas). Todos os trâmites para execução do barco foram de responsabilidade da Casa Militar do governo.

Com um custo estimado em R$ 500 mil por viagem, o Barco Hospital é a concretização do sonho do governador Confúcio Moura de superar desafios e levar assistência médica e social a todos os rondonienses, em especial moradores de comunidades longínquas e de difícil acesso, promovendo a inclusão social em todas as áreas.

Na unidade fluvial, conforme destacou a coordenadora Alessandra Maria Costa Conceição, são oferecidos atendimentos médico, odontológicos, vacinação, exames laboratoriais, incluindo o preventivo de câncer, dispensação de medicamentos, controle do diabetes e hipertensão, bem como, serviços sociais com o programa justiça Rápida do Tribunal de Justiça, com a emissão de documentos pessoais, 2ª via das certidões de nascimento e casamento, além da carteira Passe Livre, que garante gratuidade no transporte de idosos a partir dos 60 anos de idade.

Entre os serviços que mais se destacam, segundo a coordenadora, está o atendimento odontológico, por elevar a autoestima de muitas pessoas com a transformação dos sorrisos após a restauração ou reposição dos dentes. “Não encontramos doenças graves nessas viagens. Os problemas de saúde ocorrem mais em decorrência da falta de higiene, água potável e a umidade”, disse Alessandra, completando que em todas as viagens é feito o pedido para que essa assistência não pare.

“Estou agradecido e alegre pelo serviço recebido”, disse o estudante Abimael Beltrame, de Pimenteiras.

Já o aposentado Antônio Rodrigues observou que “tudo é de primeiro mundo”, se referindo aos serviços e ao barco que é dotado de toda estrutura física e tecnológica necessária para o atendimento de qualidade.

“Na primeira vez que fui fazer a carteira de identidade demorou um ano para receber. Agora, com um mês, ela já está em minhas mãos”, afirmou o professor Erivaldo Santos.

Para o agente indígena, Nelson Oro Nao, o barco é importante pelos serviços oferecidos e pelo fato de ser na porta da comunidade, e tudo gratuitamente. “Isso é uma grande vantagem para todos que moramos distante das cidades”, ponderou.

Alessandra observou, que quando o morador não pode se dirigir à beira do rio, a equipe vai buscar em casa. E citou como exemplo o policial militar Fágner Saraiva, da Casa Militar, que na terceira viagem do barco, carregou nos braços a indígena Isabel Canoé, de 90 anos, da Etnia Wajuru, descendo um barranco de mais de 50 metros de altura na margem do rio Guaporé, na comunidade de Baía das Onças, para receber atendimento. “São casos como este que estimulam a equipe a ir mais além para levar o apoio do governo do estado a essas comunidades, conforme orientação do próprio governador”.

Durante a inauguração, ao falar sobre as dificuldades enfrentadas por estas comunidades, incluindo as bolivianas, o governador Confúcio destacou os obstáculos burocráticos para ampliar os serviços da embarcação, mas deixou claro que isto não impediria o avanço do atendimento. “Os dois povos sempre tiveram relações amistosas e atuaram de forma harmônica. Não será a burocracia que impedirá o cumprimento de todo projeto que fizemos”, reforçou.

A equipe é composta por 40 pessoas, sendo 12 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros, biomédicos, farmacêuticos, técnicos, entre outros; dois técnicos do Instituto de Identificação, dois assistentes sociais, dois dentistas, três militares, a coordenação, tripulantes e pessoal de apoio. Todos dormem nos alojamentos do barco, onde também é preparada a alimentação.

Devido aos ciclos dos rios, o atendimento foi divido em dois polos, seguindo um cronograma. No primeiro polo, quando os rios estão cheios, o barco sai de Guajará-Mirim para as comunidades Forte Príncipe da Beira, Quilombola de Santa Fé, Quilombola de Santo Antônio, Quilombola de Pedras Negras, Porto Rolim, Fazenda Laranjeiras até o distrito de Pimenteiras. No período de seca, quando há dificuldades para a navegação, o atendimento se limita aos indígenas das aldeias de Deolinda, Barranquilha, Sotério, São João, Bom Jesus, Sagarana, Fazendinha, Pedral, Baía da Coca, Ricardo Franco e Baía das Onças, além do distrito de Surpresa, que fica entre as aldeias Bom Jesus e Sagarana.

Para a próxima viagem, que acontecerá de 18 de agosto a 1º de setembro, Alessandra anunciou a participação de um fonoaudiólogo que fará o exame audiométrico para diagnóstico dos alunos que apresentam dificuldades para ouvir e interpretar sons, prejudicando o processo de aprendizagem. A estimativa é atender a mais de três mil pessoas com procedimentos diversos. Posteriormente será levado um oftalmologista, considerando que o problema de visão pode também afetar o índice de desenvolvimento educacional.

A previsão é que ainda neste ano aconteçam uma viagem no mês de outubro e outra entre o final de novembro e início de dezembro. “É muito gratificante esse trabalho. São 15 dias vivendo experiências diferentes e transformando vidas em localidades distantes das cidades, um trabalho que tem o incentivo direto do governador Confúcio, como idealizador da unidade fluvial, que ultrapassa fronteiras atendendo também às comunidades bolivianas isoladas e carentes assistência”, pontuou Alessandra Costa, que é responsável também pela compra dos produtos para a alimentação da equipe e chamamento da população para se dirigir até o barco.

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