Ex-agente da DRACO cita empresa de marido de promotora e afirma que polícia fez escutas ilegais em autoridades e alvos “aleatórios”

“Operação Delta”, que seria deflagrada pós-Apocalipse tinha escutas em autoridades, disse o agente

Alan Alex | Painel Político
Publicada em 14 de novembro de 2019 às 16:08
Ex-agente da DRACO cita empresa de marido de promotora e afirma que polícia fez escutas ilegais em autoridades e alvos “aleatórios”

Eu participei de uma operação da DRACO que apontava 17 empresas, 17 construtoras, empresas de engenharia que faziam parte de um sistema fraudulento, faziam parte de um credenciamento ilegítimo, da qual essas empresas elas iniciaram suas atividades dentro da CAERD, após esse credenciamento, elas se replicaram por todo o governo do Estado, essas 17 empresas, e uma dessas 17 empresas, veja bem, e eu havia apontado isso, e o inquérito que eu apontava, o inquérito 15 de 2018 da DRACO, apontei várias empresas, e entre essas empresas, havia uma empresa que pertencia, pertence ainda  ao marido de uma promotora, o nome dela é doutora Daniela Nicolai. E tiraram a empresa dela, e quem pediu para tirar foi o delegado Francisco”. 

A fala é do agente da Polícia Civil e ex-agente da DRACO, Fabrício Lima, em entrevista a um programa de rádio nesta quinta-feira em Porto Velho, que ainda fez graves acusações contra a Polícia, ao declarar, na mesma entrevista, que a Polícia Civil fez escutas ilegais em autoridades e alvos aleatórios durante várias operações policiais.

A promotora é esposa do engenheiro Vinicius Lima, proprietário da Arco Engenharia, que, de fato consta como prestadora de serviços para a CAERD, empresa da qual o agente da DRACO ficou à disposição por pelo menos três anos. 

O Ministério Público afirmou, por meio da assessoria, que “o Procurador-Geral de Justiça disse que não vai se pronunciar até a apuração dos fatos”.

Tentamos contato com a empresa Arco Engenharia, mas o número de telefone, final 6177 não atendeu. O espaço está aberto.

Escutas ilegais

O ex-agente, que sofreu uma busca e apreensão em sua residência na última quarta-feira, afirmou ainda que, logo após a Operação Apocalipse, deflagrada pela Polícia Civil em julho de 2013, que prendeu 86 pessoas, entre servidores públicos, empresários e políticos, estava sendo gestada uma outra ação, batizada de “Operação Delta”, que tinha como alvos outras pessoas que mantinham relações com investigados da Apocalipse. E essa operação, segundo Fabrício, foram feitas escutas ilegais em alvos aleatórios, “quando era preciso, um número era inserido no inquérito e a pessoa era vigiada, mesmo não tendo ordem judicial para isso”, explicou o ex-agente da DRACO.

A prática já havia sido denunciada diversas vezes na coluna PAINEL POLÍTICO, e o Ministério Público, à época comandado pelo procurador Héverton Aguiar, chegou a solicitar todos os registros do sistema Guardião para serem auditados

Operação Apocalipse

Deflagrada em junho de 2013, sem o aval e acompanhamento do Ministério Público do Estado, a Operação Apocalipse mirou desafetos do então governador Confúcio Moura (atualmente senador pelo MDB de Rondônia). O alvo principal era o então presidente da Assembleia Legislativa, ex-deputado estadual Hermínio Coelho, que denunciava sistematicamente casos de supostas práticas de corrupção no âmbito do governo. Além de Hermínio, a polícia prendeu estelionatários que alegavam ter financiado a campanha eleitoral de Confúcio ao governo, ainda em 2010. Também estavam entre os presos o agora deputado estadual, e à época vereador, Jair Montes. O deputado foi absolvido nas acusações pelo Tribunal de Justiça.

Vazamentos sucessivos

Há cerca de um mês que circulam áudios de delegados que integravam a DRACO, onde eles confessam vários crimes e abusos cometidos em operações da polícia civil. Entre elas a Pau Oco, que investigava desvios na secretaria de Meio Ambiente (Sedam). Em um dos áudios, o delegado Júlio Cezar, ex-titular da Draco, afirmou ter induzido um magistrado a erro para obter autorização para buscas e apreensões na casa do ex-governador Daniel Pereira. A polícia chegou a pedir a prisão dele, mas a justiça não concedeu.

Em outra conversa, o mesmo delegado insinuava que o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Walter Waltenberg seria preso. Ele chegou a convidar os policiais para “trabalharem juntos com a Procuradoria Geral da República” no sentido de conseguir seu intento.

Os vazamentos deflagraram uma crise na Polícia Civil, que extinguiu a DRACO e afastou os delegados responsáveis.

Jair Montes

O deputado estadual Jair Montes chegou a ser citado, em áudio divulgado por PAINEL POLÍTICO esta semana, pela promotora Aidee Maria Moser Torquato Luizque “queria saber se as escutas da polícia civil tinham algo contra o parlamentar”.

Ao tomar conhecimento do caso, o parlamentar anunciou que pediria providências sobre o episódio. Nesta quinta-feira, o deputado encaminhou requerimento à Mesa Diretora para que a mesma peça explicações ao Ministério Público sobre os áudios, “por julgar necessário e oportuno o esclarecimento dos fatos, ainda mais que seu conteúdo é gravíssimo, pois tangencia a ilegalidade na condução da investigação e a prática do crime de abuso de autoridade, dentre outros”.

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