Fechamento das fábricas da Ford mostra o esgotamento do sistema tributário no Brasil

País precisa acelerar a reforma que se encontra parada no Congresso, defendem o economista Luiz Carlos Hauly e o empresário Miguel Abuhab

Assessoria
Publicada em 13 de janeiro de 2021 às 15:49
Fechamento das fábricas da Ford mostra o esgotamento do sistema tributário no Brasil

Com o anúncio do encerramento de suas três fábricas no Brasil, a Ford escancarou a gravidade de um quadro econômico que se mantém preocupantemente inalterado nos últimos anos: estamos mergulhados em um acelerado processo de estagnação econômica, com fuga de investimentos e queda acentuada no nível de emprego qualificado.

Relatórios da Ford indicaram, inclusive, o complicadíssimo sistema tributário brasileiro - e o contencioso que o governo afirma que a empresa possui com o Fisco - como uma das causas de sua decisão de deixar de produzir automóveis no país, após mais de 100 anos.

Analistas lembraram os incentivos fiscais que a empresa recebeu há 20 anos para abrir sua fábrica em Camaçari, até então a maior da marca na América Latina, em uma verdadeira guerra fiscal entre o Rio Grande do Sul e a Bahia.

"A guerra fiscal é apenas um dos reflexos nocivos do atual sistema tributário em nossa economia. Mas o peso e a complexidade desse sistema têm consequências muito mais profundas no crescimento do país. Há pelo menos 10 anos vivemos um voo de galinha na economia, enquanto países emergentes tiveram médias de dois dígitos de crescimento. E continuaremos em queda, com desaceleração da atividade produtiva, enquanto uma reforma tributária ampla não for aprovada no Congresso", avalia o economista e ex-deputado Luiz Carlos Hauly.

Hauly lembra que o incentivo e a renúncia fiscal custam quase R$ 500 bilhões por ano aos cofres públicos. "A reforma tributária deveria ser a prioridade número um neste momento em Brasília, completa.

Para o empresário Miguel Abuhab, autor de modelos eletrônicos que simplificam e harmonizam a cobrança de tributos, o Brasil não é competitivo devido aos impostos cumulativos. "A solução, do ponto de vista tecnológico, já existe, e deveria ser examinada com urgência pelo governo", afirma.

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