Fracasso do 7 de Setembro na Paulista iniciou o enterro do velho bolsonarismo
“Só Pablo Marçal pode salvar a extrema direita cansada e repetitiva sob a liderança de Bolsonaro”, escreve o colunista Moisés Mendes
Ato bolsonarista na Avenida Paulista, São Paulo-SP, em 7 de setembro de 2024 (Foto: Reprodução/TV Globo)
É provável que o bolsonarismo raiz sob o controle de Bolsonaro não exista mais em pouco tempo. A primeira cerimônia de preparação do sepultamento da extrema direita foi comandada por Malafaia no 7 de Setembro na Avenida Paulista.
O fascismo que mostrou a cara em 2018 não tem mais a mesma força, apesar do aparente aumento na modulação da radicalidade nos ataques ao Supremo e a Alexandre de Moraes.
O bolsonarismo chorão é repetitivo e cada vez mais uma aglomeração de tios e tias do zap que ouvem sempre a mesma ladainha. O fascismo pretensamente religioso e bíblico ficou antigo e está moribundo e sem ativismo de rua.
A extrema direita sob a liderança de Bolsonaro não começa a morrer apenas porque o ato foi o maior fracasso de gente com a camiseta amarela desde a goleada sofrida pela Seleção no 7 a 1 contra Alemanha em 2014. Os drones mostravam que pouco mais de dois quarteirões da Paulista foram ocupados.
O bolsonarismo sob comando de Bolsonaro não atrai mais gente por não ter mais o que dizer além de pedir anistia para os golpistas e o impeachment de Moraes. E isso é cansativo e enganoso, porque eles só aumentaram o volume da antiga retórica golpista.
Malafaia e Bolsonaro estão exaustos e cansaram também os bolsonaristas do segundo time da extrema direita, empurrados para o caminhão de som para que tentassem ter um protagonismo que não conseguem sustentar.
Nikolas Ferreira, Magno Malta, o senador astronauta, Eduardo Bolsonaro, Mario Frias, Ricardo Salles, Marcos do Val e Gustavo Gayer, alguns calados, não têm folego para levar adiante o grito de guerra contra Moraes.
Tanto que Gayer resumiu o impasse que enfrentam ao admitir que não contam com apoio mínimo para o pedido de impeachment do ministro. Gayer ameaçou transformar a vida dos senadores vacilantes num inferno.
Bolsonaro citou obras, fez um discurso circular, falou até, acreditem, do DPVAT, e só ao final cutucou Moraes. Coisa que Tarcísio de Freitas, também um citador de obras, mais cuidadoso, negou-se a fazer.
Uma gripe em cima da hora pode ter sido a boa desculpa para a fragilidade de Bolsonaro. Mas o sujeito não convenceu que tenha vitalidade para seguir em frente, nem quando pediu que o Senado coloque um freio em Moraes, “esse ditador”.
Malafaia apareceu sem o vigor da primeira manifestação de fevereiro. E o resto está sem parceiros decididos no Congresso e agora sem a mesma claque de tios, nem na Paulista.
Moraes é tirânico, Lula é ladrão, Rodrigo Pacheco é frouxo e, segundo eles, a Folha de S. Paulo é agora aliada do grito por liberdade e anistia do bolsonarismo e do gangsterismo mundial.
A Paulista testemunhou algo inédito. Nunca antes um jornal havia sido citado por um extremista de forma elogiosa, em ato público, como fez o pastor da Assembleia de Deus.
Malafaia disse estar certo de que Elon Musk e a Folha “estão mostrando a materialidade dos crimes de Alexandre de Moraes”. O jornal de Glenn Greenwald foi citado por ele por duas vezes.
Pablo Marçal esteve na Paulista, mas ficou pelos cantinhos. Só ele, como voz do novo bolsonarismo de boné e sapatinho sem meia, pode assegurar sobrevida à extrema direita ainda sob Bolsonaro, que nem Malafaia está conseguindo salvar.
O próximo ato do fascismo talvez seja convocado não mais pelo cansado Malafaia, mas pelo sujeito que o prefeito Ricardo Nunes identifica como tchutchuca do PCC.
Poderemos ter a primeira grande aglomeração de gente de amarelo patrocinada pelo crime organizado, sem intermediários.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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