Governo de RO manda recolher 'Macunaíma' e mais 42 livros e depois recua

Determinação também incluía obras de Kafka, Euclides da Cunha, Ferreira Gullar e Rubem Fonseca, entre outras

Com informações da Folha de São Paulo
Publicada em 06 de fevereiro de 2020 às 18:38
Governo de RO manda recolher 'Macunaíma' e mais 42 livros e depois recua

Grande Otelo no filme Macunaíma, baseado na obra clássica do modernista  Mário de Andrade

Reportagem de Paulo SaldañaRicardo Della Coletta, da  Folha.com, informa que a  Secretaria de Educação de Rondônia distribuiu nesta quinta-feira (6) um memorando e uma lista de livros para serem recolhidos das escolas por conterem o que foi definido como "conteúdos inadequados" a crianças e adolescente. A pasta voltou atrás após questionamentos à medida.

Segundo a reportagem, a  lista das obras censuradas inclui 43 títulos. São livros de autores consagrados como Caio Fernando Abreu, Carlos Heitor Cony, Euclides da Cunha, Ferreira Gullar, Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca. Também fazem parte o livro "O Castelo", de Franz Kafka, e "Macunaíma", de Mário de Andrade, obra recorrentemente exigida em vestibulares.

A relação traz ainda uma observação: "Todos os livros do Rubem Alves devem ser recolhidos". Morto em 2014, Alves escrevia sobre educação e questionava o formato tradicional da escola.

Lista e memorando que pede recolhimento de livros 'inadequados' em Rondônia - Reprodução

À Folha o secretário de Educação do estado, Suamy Vivecanda, afirmou inicialmente que se tratava de "fake news". Após ser confrontado com imagens desse processo no sistema da pasta, disse que não estava na secretaria ao longo da semana e que não tinha conhecimento da medida. Segundo ele, não haverá recolhimento de obras.

A reportagem da Folha confirmou que o memorando e a relação de livros de Rondônia são oficiais. Os documentos foram encaminhados a coordenadores regionais de Educação do estado, e o processo ainda consta no sistema de processos da secretaria. 

Imagens dessa lista passaram a ser divulgadas pela internet, e a secretaria tornou o processo secreto às 14h11 desta quinta, conforme registro do sistema. No meio da tarde, a Coordenação Regional de Educação da pasta encaminhou uma nova mensagem para os coordenadores abortando o recolhimento dos livros.

Memorando sobre livros a serem recolhidos em Rondônia - Reprodução

"Missão de recolhimento dos livros abortada. Caso façam contato com vocês sobre o tema, por favor, peçam que entrem em contato com a CRE [Coordenação Regional de Educação]", diz a mensagem.

O memorando-cirular 4/2020 tem o nome do secretário de Educação, mas é assinado eletronicamente pela diretora geral de educação, Irany Morais. 

O memorando ressalta a importância de os educadores "estarem atentos as demais literaturas já existentes ou que chegam nas escolas" de modo que "sejam analisadas e assegurados os direitos do estudante de usufruir do mesmo com a intervenção do professor ou sozinho sem constrangimentos e desconfortos". 

Folha solicitou detalhes à secretaria de Educação de Rondônia e também ao governo. Não houve resposta até a publicação deste texto. 

O secretário de educação de Rondônia ressaltou à reportagem que qualquer determinação sai de seu gabinete, mas que não faz ideia como os documentos foram parar no sistema. "Mesmo assim vou na semana que vem avaliar o que realmente ocorreu", disse.

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Comentários

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    Charles Silveira 08/02/2020

    Outro fator importante é salientar a entrevista do Secretário de Educação do Estado de Rondônia, onde o mesmo diz não saber quem elaborou e vazou tal documento. A pergunta é: O que o secretário faz mesmo a frente da Pasta? O documento é explicito e mostra assinatura eletrônica da Senhora Irany de Oliveira, é obrigação do coroné Rocha exonerar o secretário ou outra responsável pelo crime de censura ou o mesmo deixará claro que foi o mandante da ação. Se não tiver essa coragem de exonerar os dois responsáveis, o coroné seja homem e venha a público dizer que foi ele quem deu a ordem para retirar as obras literárias das escolas, se não fica ainda mais feio para todo o Estado de Rondônia.

  • 2
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    Gilzelia Pereira 07/02/2020

    Macunaíma é a cara do secretário de educação, no mínimo parentes.

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    Professor 07/02/2020

    ESSA TURMA JÁ PENSA QUE ESTÃO VIVENDO UMA DITADURA, BURROS , NEM SABEM O QUE TRATAM OS LIVROS. PRIMEIRO VÃO SE INSTRUIR, ESTUDAR MUITO SOBRE A HISTÓRIA DO BRASIL, DEPOIS VÃO LER MUITO TAIS OBRAS PARA SABEREM O QUE TRATAM . SEGUIR O MANDATÁRIO -CHEFE DO BRASIL, O TAL MITO, NÃO É COISA CERTA, VÃO SEGUINDO PASSANDO VERGONHA, NO BRASIL E NO RESTO DO MUNDO.

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    Roberto 07/02/2020

    COGITO ERGO SUM, onde vamos parar !!!

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    Renato Cardoso 07/02/2020

    Essa tentativa infeliz da SEDUC/RO repercutiu negativamente no Brasil e mundo afora. O Bosopuxa-saco Pacato Cidadão parou de ler quando leu "Folha de São Paulo". Se ele tivesse lido apenas um dos 43 livros constantes na nefasta listagem, não seria tão desinformado e... até leria a Folha.

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    João de Deus 07/02/2020

    Viramos o fiasco de um Brasil que é alvo de pilhéria nacional. Obrigado aos responsáveis. E tem quem se orgulhe de não ler. Explica, em muito, a situação do Estado.

  • 7
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    teixeira 07/02/2020

    Após este vechame noticiado em todo o Brasil, é chegado à hora que ficarmos em dúvida da capacidade técnica científica dos autores deste gesto insano, á insuficiência de desempenho dos gestores da Secretaria de Estado da Educação de Rondônia ficou oficializado a nível nacional [...].

  • 8
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    Domingos 07/02/2020

    Á insuficiência de desempenho da SEDUC/RO ficou caracterizado em todo país este vechame, escândalo, o Brasil ficou perplexo com o fracaso dos gestores da secretaria de estado da educação de Rondônia !!!

  • 9
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    Pacato Cidadão 07/02/2020

    Parei de Ler no "Com informações da Folha de São Paulo"

  • 10
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    Bruno Rocha 06/02/2020

    Macunaíma foi um dos livros mais vibrantes que conheci na adolescência. Descalabro sem precedentes! Angelim, Santana, Piana, Raupp, Bianco, Cassol, Cahulla, Moura e Pereira... Vagabundo e ladrão tem, demais, mas nem o filhote da ditadura, o Texeirão (o grande merda - mitinho da história, pai da mela e do peixe com farinha e no seu melhor: importante nome de avenida), promoveu uma barbárie cultural tão escrota como essa em Rondônia! (Quer dizer, salvo o extermínio dos indígenas pelas barbas do Teixeirão - genocida herói) Fico profundamente triste com o retrocesso da Cultura e da Educação que o Governo Bolsonaro e seus governadores admiradores promovem pelo país. O PSL/RO promovendo sua própria "Bad Maria"!!! Deus tenha piedade da cultural brasileira!!!

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