Grupos de autocuidado em hanseníase realizam encontro em Porto Velho

Rondônia tem 15 grupos de autocuidado, é o estado que tem o maior número de grupos. O evento é organizado pelo Hospital Santa Marcelina .

Texto: Eleni Caetano/ Foto: Bruno Corsino
Publicada em 09 de novembro de 2017 às 15:46
Grupos de autocuidado em hanseníase realizam encontro em Porto Velho

Grupos se reuniram em Porto Velho

O II Encontro Estadual de Grupo de Autoajuda em Hanseníase está sendo realizado em Porto Velho. O evento teve início na quarta-feira (8) e prossegue até sexta-feira (10) com uma programação bem diversificada, explicou o enfermeiro e coordenador do programa, Cleumar Nascimento.

Rondônia tem 15 grupos de autocuidado, é o estado que tem o maior número de grupos. O evento é organizado pelo Hospital Santa Marcelina que conta com a parceria da Agência de Vigilância em Saúde (Agevisa) e da ONG NHR Brasil, filial brasileira da Fundação Neerlandesa de Combate à Hanseníase.

Rondônia é considerado estado endêmico para os casos da doença. De com o coordenador do programa, enfermeiro Cleumar Nascimento, em 2016 foram registrados 471 casos novos de hanseníase no estado. Os número de casos da doença deste ano ainda não foi fechado. “A hanseníase é uma doença silenciosa, geralmente demora de dois a sete anos para o aparecimento dos primeiros sintomas”, diz.

Ele alerta para as pessoas ficarem atentas aos sintomas da doença, geralmente aparecem manchas, diminuição da sensibilidade, caroços e inchaços pelo corpo; dor ou sensação de choque nos nervos dos braços, mãos, pernas e pés. “Ao perceber algo diferente no corpo, a pessoa deve procurar uma unidade de saúde e relatar o fato, para que seja feito o teste, pois o diagnóstico precoce é fundamental para evitar sequelas no paciente”, afirmou.

A maior dificuldade que o portador de hanseníase enfrenta, não são os sintomas e o tratamento da doença, mas o preconceito das pessoas.

Maria do Carmo é exemplo de vida

Maria do Carmo Chaves da Silva ,de 50 anos, nasceu em Lábrea, no Amazonas, e tem uma história de superação. Sem pai e nem mãe, ainda adolescente, foi morar com um companheiro e aos 15 anos teve o primeiro filho; quando nasceu o terceiro filho, ela descobriu que tinha hanseníase, no quinto dia de vida do filho, ela foi surpreendida pelo marido, que disse que iria embora, pois “não iria viver com uma mulher leprosa”. “Fiquei arrasada, doente e com três filhos pequenos para cuidar, passei muita dificuldade, cheguei a pedir ajuda para garantir o alimento para meus filhos, mas venci, meus filhos estão todos criados”, afirmou com orgulho.

Elizangela Gomes de Andrade, de 40 anos, que mora em Monte Negro, também sentiu na pele o preconceito ao descobrir que tinha a doença. Ela conta que trabalha de auxiliar administrativo em um posto de saúde em Monte Negro e aos 35 anos começou a sentir dores no corpo, principalmente nas articulações das juntas e cada médico que procurava dava um diagnóstico diferente o problema de saúde cada vez pior.

Até que um dia ela bateu a testa no armário e não sentiu dor, depois percebeu que havia sangrado, foi quando percebeu que estava sem sensibilidade, quando procurou uma colega de trabalho no posto e relatou o fato e foi feito o teste e deu positivo para hanseníase, desde então ela já foi submetida a 10 procedimentos cirúrgicos para recuperar os movimentos. A última cirurgia foi feita há 60 dias, para recuperar o nervo do braço.

A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, cujo agente etiológico é o Mycobacterium leprae. A doença acomete principalmente pele e nervos periféricos podendo levar a sérias incapacidades físicas. Mas a doença deixa de ser transmitida quando o paciente inicia o tratamento. Rozangela Gomes também falou sobre o preconceito e disse sobre um caso que marcou bastante sua vida. Ao descobrir a doença, uma vizinha que vivia em sua casa, parou de visita-la. Ela achou estranho a ausência da amiga e foi até a residência dela e foi recebida friamente, com certo distanciamento.

Mas o fim, foi quando ela pediu um copo de água, a filha serviu a água e ao devolver o copo, a menina perguntou para a mãe, o que eu faço com o copo? A mãe respondeu, jogue no lixo. Foi quando ela entendeu o que era realmente preconceito. Mas tudo isso é passado, pois o Grupo de Autocuidado trabalha com os pacientes várias formas de lidar com o preconceito e com a autoestima.

O grupo de autocuidado surgiu em 2015 no Hospital Santa Marcelina, através de parceria com a ONG NHR Brasil e com a participação de cerca de 20 pacientes aos cuidados de uma equipe multiprofissional. O hospital, que já é referência há décadas em tratamento de hanseníase na região Norte do Brasil, também se destaca através do grupo de autocuidado.

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