Histórias da pressão contra jornalistas em Rondônia
Várias vezes sei que pessoas consideradas “democratas”, e até colegas de profissão, talvez para preservar seus empregos pediam a meus chefes que me demitissem.
Sou repórter desde muito antes de acabar a dita dura. Cheguei a trabalhar, no período, em três jornais que foram censurados de forma oficial. Tempo em que havia censor na Redação. E não era fácil – o Estadão paulista colocava no espaço destinada às matérias censuradas receitas de bolo e trechos de “Lusíadas”. Os leitores entendiam.
Várias vezes sei que pessoas consideradas “democratas”, e até colegas de profissão, talvez para preservar seus empregos pediam a meus chefes que me demitissem. Pelo que sei nenhum aceitou a imposição, apesar das retaliações econômicas. Um dos “democratas” Chiquilito Erse, um seu aspone foi ao Alto Madeira pressionar para me demitirem. Diretor Euro mandou o cara às favas. Afora, claro, um jornal brasiliense – veja a seguir.
Outro diretor que nunca vi se dobrando, apesar das pressões, algumas delas bem claras, pelo INCRA e pelo governo do Território, quando à época do Capitão Sílvio, foi o Rochilmer Rocha, que já tivera um exemplo de pressão quando repórter setorista do Correio da Manhã, carioca.
No governo de um “democrata”, Jerônimo Santana, aconteceu o caso do jornal brasiliense. Registrado nos anais da Fenaj há a denúncia de que a troco de publicar um caderno louvando o governador e suas obras, um jornal brasiliense aceitou me demitir em troca do faturamento, conforme uma jornalista delegada de base na redação daquele matutino, sendo que duas pessoas da área, o empresário Luiz Tourinho e o então presidente do Sinjor Paulo Queiroz confirmaram – o primeiro com base numa reunião com diretores daquele jornal e o PQ por estar participando do congresso onde aconteceu a denúncia – e me presenteou com um exemplar.
Em uma ocasião eu e o Montezuma Cruz chegamos a ficar praticamente em cárcere privado no Palácio Presidente Vargas por causa de umas cópias de folha de pagamento, naquele tempo não se falava em caixa dois, que estavam numa lixeira. Ficamos numa sala cercados de secretários do governador Humberto Guedes – eu o reputo como o grande governador que o Território teve – que não estava presente. A coisa durou até que o doutor Jacob Atallah chegou e ao se inteirar do que ocorria disse que não concordava com aquilo e fomos embora.
Passamos por aquele período em que na hora de fechar a edição chegava um agente da PF com um papel não assinado nem carimbado e muito menos identificado e entregava ao editor chefe dizendo “De ordem superior fica proibido citar que aconteceu tal fato” – o Ivan Marrocos, que era o editor chefe, uma vez conversou com a gente e a notícia saiu dizendo que o fato proibido” não aconteceu”.
Como outros profissionais que militam aqui, e que conheço bem, essas pressões eram e são comuns. Há muitas histórias e causos, como o do jornalista Adair Perin, que chegou a ser preso porque noticiou criticando a falta de luz da Ceron em Cacoal, ou do Rubens Coutinho, que editava A Tribuna e viu membros do TRE local “empastelarem” uma edição, e quando o desembargador presidente do Tribunal nos recebeu para explicar, no dia seguinte, tendo ao lado os juízes membros da corte, inclusive os indicados pela OAB – que se jacta de sempre defender a liberdade de expressão, os advogados-juízes em nenhum momento se posicionaram contra o empastelamento.
No final da “fala do trono”, o juiz representante do TRE ditou uma série de normas que não podiam ser citadas na edição do dia seguinte – era eleição para prefeito de Porto Velho em 1985. E nem respondeu se poderíamos, pelo menos, noticiar que haveria eleição no dia seguinte.
São histórias que nós, velhos, e alguns nem tanto, temos para contar e que a maioria silenciosa nem imagina.
(*) Lúcio Albuquerque, repórter – [email protected]
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