Histórias de emissoras e de radialistas em Porto Velho

A primeira emissora de rádio em Porto Velho foi a Difusora do Guaporé, de curta vida.

Lúcio Albuquerque
Publicada em 11 de maio de 2017 às 15:23
Histórias de emissoras e de radialistas em Porto Velho

primeira emissora de rádio em Porto Velho foi a Difusora do Guaporé, de curta vida. Ainda na década de 1950 (*) dois radiotécnicos constituíram outra emissora à qual deram o nome de fantasia de Caiari. Era 12 de maio, hoje, 67 anos passados. Só que a ideia acabou naufragando, só revista em 1961 quando foi ao ar, agora sob responsabilidade da Igreja Católica, a Rádio Caiari. Em homenagem àqueles dois empreendedores, o ALTO MADEIRA mostra fatos e personagens do rádio rondoniense.  

(*) Esron Menezes e, em Achegas para a História de Porto Velho, Antonio Cantanhede.

RÁDIOS EM PORTO VELHO

Euro Tourinho, jornalista, diretor do ALTO MADEIRA

Quando fechar uma edição de um jornal mesmo hebdomadário, nestas lonjuras da Amazônia Brasileira, como a nossa Porto Velho,  que a notícia,  fato, acontecimento que podia chegar mais rápido levava 7 dias, isso depois que o grande Rondon inaugurou a obra de macho,  a Linha Telegráfica Cuiabá/Santo Antônio do Rio Madeira,  o jornalista precisava ser bom de ideias, de pena,  de conhecimentos,  ter um vasto cabedal de conhecimento geral, pois o periódico, o jornal era edita­do apenas com matérias locais, pois não havia, exemplo  deste  Alto Madeira de publicar uma notícia de fora,  Manaus e Belém mais próximas e cidades capitais as quais Porto Velho era ligada por subordi­nação,  administração   de órgãos como exemplo a Receita Federal do hoje,  dependia de abastecimento quase total de mercadorias de modo geral.

De Manaus para cá, dependendo do rio Madeira cheio ou época de rio seco,  com mínimo de calado era de 10 a 15 e 20 dias para se receber uma correspondência ou por acaso um jornal, ou ter  informações,  conversa de pé de ouvido com "chegantes”, para ser transformado em noticia.

De Belém, a mesma catilinária,  aumentando apenas a distância,  o tempo que passava para 30 dias, ou mais.

Para encurtar aonde queremos chegar, foi o aparecimento  dos três primeiros a bateria em Porto Velho, isso lá por outu­bro de 1807 quando o navio,  Índio do Brasil, movido a lenha, com caldeira e "roda de palhetas" traseira para impulsionar o barco que atracava no Pontão Aripuanã, um casco de navio enorme, imenso,  velho,  que fazia a vez de atracadouro, de cais de Porto Velho, onde desembarcavam os passageiros e as mercadorias que vinham para a região, entre eles,  mo­tivo desta história um "cacheiro viajante" - hoje chamado pomposamente,  de Representante Comercial - muitos deles com a veia de "marreteiro" que trazia lado a lado o que ele vendia (representava) ao comércio oficialmente, foi o caso dos três rádios a bateria que foram vendidos

Um  para o cel. Emídio Feitosa, destaque na cidade;  um para o Beda Lima, a época chefe, agente dos Correios e Telégrafos e o terceiro para o Agente Fiscal do Norte de Mato Grosso, Homero de Castro Tourinho. Foi um acontecimento, na cidade, era só o que se comentava entre os 5 mil e poucos habitantes da pequena cidade de Porto Ve­lho. Pensávamos que, com os três aparelhos de rádio, Porto Velho tivesse encostado ao restante do pais, conquistando o mundo através das notícias, das informações, da música.

Tudo ilusão! Recepção não ruim péssima;  só com muito esforço e se o assunto nos fosse  familiar, podia se "captar" alguma coisa;   no mais só chiado, barulho, es­talido, põem radio pra  cá, põem rádio pra lá, muda antena, coloca mais alta, quase nas nuvens, penitência de lascar para se ouvir alguma coi­sa. O rádio ainda era pouco conhecido por estas bandas, novidade, curiosidade.

Tem fatos pitorescos de notícias "apanhadas" no rádio e comentada no AM,  uma delas deu até uma interpelação de Londres, Londres mesmo, Inglaterra, uma carta do chefão Francisco de Assis CHATEAUBRIAND Bandeira de Melo querendo saber, querendo confirmação da noticia e a fonte colhida, já que se tratava de uma nota do falecimento na Polônia, do cardeal Spelman,  líder no combate, na luta ante comunismo no mundo.

Pela presença do tal rádio, em casa, um belo dia o meu pai homem intelectualizado, lia muito, estava em seu quarto de onde ouvia  o nosso grande compositor clássico CARLOS GOMES eu chego na sala mu­do de onda, o "velho" veio "P" da vida e deu-me uns puxões de orelha mandou-me sentar e começou uma aula de bom gosto,            pois eu não de­via ter cometido aquela heresia, dando-me uma aula sobre o valor de Carlos Gomes como compositor clássico, maestro nativo, escritor, ho­mem importante no mundo da música clássica, erudita, autor do conhe­cido mundialmente  de “O GUARANI”.

Nnnnnnnnnnnnnnnn

Pela Voz do Brasil, motivo de festa ou tristeza

Na Porto Velho até 1978, quando a TV-Rondônia passou a transmitir direto por aqui, o Rádio era um grande informador dos fatos que aconteciam, de tristeza, de alegria. Diariamente a partir das 18 horas entrava no ar a Voz do Brasil, e de repente o locutor dava uma notícia, às vezes já esperada, como em 1943, quando o presidente Getúlio Vargas criou os Territórios Federais, dentre eles o do Guaporé, em 1956 Rondônia.

Em pleno noticiário o locutor anunciava que “O ministro do Interior exonerou hoje ........, do governo do Território Federal de Rondônia, e nomeou para o cargo ............”.

Pronto, era hora, para o grupo não simpatizante do governador exonerado, era a hora de soltar fogos, fazer festa, ainda que poucos dos que vieram governar o Território fossem conhecidos da população.

De qualquer forma havia sempre a esperança do novo, de que algo pudesse melhorar ou, pelo menos, a festa servia para azucrinar os “puxas” de quem estivesse no poder.

Foi também pela Voz do  Brasil que a população ficou sabendo que o presidente JK sancionara a Lei que denominou Rondônia ao então Guaporé, projeto inicial do deputado Joaquim Rondon, mas que foi apresentado pelo deputado Áureo Bringel de Melo, da bancada do Amazonas, mas nascido na região d Santo Antonio.

E foi pela Voz do Brasil, também, que a população tomou conhecimento de que o presidente JK, desafiado pelo governador Paulo Leal, decidira mandar abrir o “Outro Braço da Cruz” ligando Brasília a Porto Velho.

Em 1964 a Voz do Brasil também gerou festas e tristeza, quando um Ato Institucional cassou o mandato do deputado federal Renato Medeiros. Festa para os “cutubas”, ligados ao coronel Aluízio Ferreira. Tristeza para os “peles curtas” fiéis a Renato.

Mmmmmmmmmmmmm

HISTÓRIAS DE PERSONAGENS VIA RÁDIO

GESTÃO OU GESTAÇÃO?

Já na condição de Estado o governador Jorge Teixeira decide exonerar da função o Secretário de Segurança, encontrado pelos jornalistas em frente ao atual presídio feminino, àquela altura só homens.

Falando aos jornalistas o secretário acusou a imprensa de, por noticiar fugas seguidas dali, estar insuflando e gerando rebeliões de presos.

O rádio-repórter Vivaldo Garcia, com aquele gravador que mais parecia um  tijolo de oito furos, pergunta sobre a gestão do secretário e este, nervoso com os problemas e já avisado que fora demitido, encara o Vivaldo.

“Gestação? Eu sou é macho. Gestação é coisa de mulher”.

PINGUILITE E DOM JOÃO

O rádio-repórter Pinguilite era excelente imitador da voz do bispo Dom João Batista Costa. A qualquer hora era só “dar corda” que o cara imitava, para fazer a turma rir.

Uma manhã estávamos na sala que era depósito e Departamento de Jornalismo da Rádio Caiari, com o Walmir Miranda, o Ivan Marrocos e mais um que não recordo, e o Pinguilite, de costas para a porta de entrada está fazendo seu show.

Dom João, com aquela bata negra e sem fazer barulho, vem chegando, a turma viu mas não deu tempo. O velho bispo parou, ficou escutando até que o Pinguilite, notando que ninguém ria, se virou e deu de cara com o diretor da Caiari. Suspenso uma semana.

O JOGO SEM RETORNO DO PINHEIRO DE LIMA

Para comemorar a instalação do município de Cacoal, em 1977, programaram um jogo de futebol entre uma seleção de lá contra o Ferroviário portovelhense, no campo do Incra. Foi a primeira vez que vi um camarada manter o ritmo da transmissão durante os 90 minutos e mais acréscimos.

Pela manhã o Pinheiro de Lima, que levará pouca fiação para estender o microfone, transmitiu a cerimônia de instalação e teve de fazer ginástica para captar a voz de quem estivesse na bancada para falar.

Ele estava sem o “retorno”, mas um código simples do operador no estúdio avisava como o som chegava no prédio atrás da catedral, em Porto Velho, a 500 KM de distância: de 10 a 10 minutos ele dava um corte e o Pinheiro entendia que estava chegando bem.

Só que na hora do futebol o operador de plantão esqueceu de fazer o corte. Foi assim que o Pinheiro fez a primeira transmissão de futebol de Cacoal, e só veio a saber que fora ouvido aqui dois dias pois, quando chegamos de volta.

O ESRON TORCENDO PELO “INIMIGO”

Até que a Embratel, na metade da década de 1970, instalou o sistema de tropodifusão o sinal de rádio chegava aqui mais parecendo um barco subindo e descendo nas ondas do mar. Em 1958 na final da Copa da Suécia  uma turma de boêmios se juntou para ouvir o jogo na sede do Bancrévea (onde agora é o Classe A na Carlos Gomes).

O som era uma mistura de estática e de barulho e nem a imensa antena colocada no local permitia que se ouvisse direito o jogo, que foi pela manhã mas a turma já estava tomando tudo por conta da vitória, e quando o locutor narrou o primeiro gol da partida foi uma festa: soltaram fogos, abraços, gritos de campeão, e mais dois litros do “Cavalo Branco”, o uísque da moda.

Trinta anos depois o jornalista Esron Menezes, que fazia parte da turma ainda ria muito: “A gente estava na maior empolgação, o uísque estava quente, mas ninguém ligava para isso. Foi quando apareceu o Euro (Tourinho) e chegou dizendo que nós estávamos “torcendo pelo inimigo”.

É que o primeiro gol da final foi da Suécia, mas isso foi logo esquecido, porque daí em diante só deu Brasil, 5x2 e campeão.      

O OPERADOR DE SOM E O AVIÃO “SEM TETO”

João Dalmo, Miguel de Souza, o Zé Ribamar e o Pinheiro de Lima foram para Rio Branco transmitir o Copão da Amazônia de 1976. Foram de avião, mas o técnico de som ficou para seguir no dia seguinte, também de avião.

Havia um voo da Cruzeiro que saía de  Porto Velho 7 da manhã e chegava a Rio Branco 6h55 (diferença de fuso horário). Os quatro se instalaram num hotel na capital acreana e na hora marcada, dia seguinte, nada do técnico de som no voo da Cruzeiro.

Já quase de madrugada toca o telefone no hotel, o Dalmo vai atender e é o técnico querendo saber onde estavam alojados. Claro, os quatro queriam saber se ele havia vindo em avião noturno, rota que não existia. O técnico chega ao hotel e se explica:

“Eu ia vir de avião, mas no aeroporto o som disse que ele não ia pousar porque “faltava teto”. Já pensou? Se com teto eles já caem, vocês acham que eu ia viajar num avião sem teto?”

WALTER SANTOS “TRANSMITINDO” A FINAL DE VOLEI     

1979. Pela primeira vez na história do esporte rondoniense uma equipe local chega à final de uma competição brasileira – no caso a Juvenil Masculina de Volei. Walter Santos era o chefe da delegação e resolve narrar o jogo. O Lúcio Albuquerque era árbitro,  mas como o time de Rondônia estava na disputa não foi escalado.

“Aí o Walter me pegou para comentar o jogo. Ele já estava empolgado porque as meninas haviam sido vice-campeãs. Na hora da partida masculina era vibração total”.

“De repente o Gonzaga bate um “avião” – aquela bola que no vôlei passa direto por cima da rede e vai “aterrissar” muito além da linha de fundo da quadra. O Walter soltou o tradicional “porra”, escutado aqui pela Caiari porque quando chegamos houve quem comentou comigo”.

 “Pedi ao Walter para ter cuidado, porque se o Dom João (nosso bispo) estiver ouvindo pode não gostar”. O Walter segue e  tão empolgado com o 3x0 que pendurava o microfone e ficava um tempão apenas torcendo. “Tive de “acordar” algumas vezes o Walter para evitar que aqui cortassem a transmissão”, conta o Lúcio.

A POLÍCIA ENCONTROU UM CADÁVER MORTO

A Rádio Eldorado chegou, e de repente era o “quindim” dos ouvintes graças a dois profissionais experientes, o Ivan Gonzaga e o Bosco Gouveia. A Eldorado trouxe outra figura, William Ferraz. Dizia ser o “diretor de jornalismo”.

E entrava a qualquer hora para dar “a última notícia”, edição extra e algumas vezes tropeçava nos fatos, mas para o ouvinte que não conhecia da coisa ficava por isso mesmo.

Uma tarde eu ia para o AM, ainda na praça Jonathas Pedrosa,  e entra numa extra. Toca a musiquinha, vem o BG, patrocinadores etc e, finalmente, o William.

“E atenção, atenção: a Polícia encontrou um cadáver morto na rodovia BR-364”. Pensei que havia escutado muito, afinal tenho mania de ouvir rádio quando dirijo, mas na maioria das vezes nem presto atenção.

Na redação encontro o sempre coerente Ciro Pinheiro ao telefone com o Bosco. “Eu falei para ele que quando o William descobrir um cadáver vivo me avise. Cadáver morto é lugar comum”.

O TELEFONE E O LOCUTOR ATRASADO

Quem é amazônico ou quem, mesmo não sendo, sabe da importância de informações para comunidades distantes, transmitidas pelos programas “Aviso para o Interior”, na época em que não havia internet e telefone era coisa de gente muito rica.

Era assim: a pessoa ia à emissora e deixava lá um recado escrito, que era lido no programa. Quem ouvia sempre passava adiante, mesmo não sendo o destinatário, até que ele recebesse.

A Rádio Caiari tinha um programa desses. Havia um locutor, ainda em atividade no rádio portovelhense, que sempre chegava atrasado. O locutor ficava numa cabine e o operador de som a sua frente, mas separado por uma vidraça. Na Caiari atrás do operador havia um desses relógios redondos, imensos. Quando o locutor cansava ele dava a “deixa”. Olhava o relógio e dizia “Em Porto Velho são 19horas e 15 minutos”. Aí entrava o comercial, o cara ia tomar uma água e voltava.

Um dia tiraram o relógio para manutenção, o locutor, como sempre, chegou atrasado e já foi direto para o ar. Quando precisou “respirar” aí soltou a frase: “Em Porto Velho são...”. Parou um segundo e continuou: “Puta que pariu, tiraram o relógio”.

Dom João, nosso bispo, saiu de seu escritório, veio até a rádio deu um “gancho” de 15 dias no locutor. 

Comentários

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    Edson Tavares 11/05/2017

    Lúcio, Boa tarde... Estou escrevendo um livro sobre o rádio de Caruaru, focalizando os locutores que passaram pelas emissoras da cidade. Há muito tempo ando à procura de alguma informação sobre o Bosco Gouveia, e o vi citado em seu artigo. Gostaria de saber se vc tem alguma informação sobre colo localizá-lo. Fico grato,

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