Ieda Chaves: “A luta contra o racismo é de toda sociedade e não apenas dos negros.”
Em Porto Velho, uma das vozes que vem se levantando em defesa da igualdade racial é a da primeira- dama do Município, Ieda Chaves
O Dia Internacional contra a Discriminação Racial é celebrado em 21 de março. Nesta segunda- feira, portanto, o combate ao racismo deverá ganhar destaque na pauta de discussões sobre um tema que cada vez mais desperta o interesse mundial.
Em Porto Velho, uma das vozes que vem se levantando em defesa da igualdade racial é a da primeira- dama do Município, Ieda Chaves. Ela já tem uma resposta pronta quando é questionada pelo interesse diante dessa temática, mesmo não integrando a população de pardos e pretos. “A luta contra o racismo é de toda sociedade e não apenas dos negros.”
Com essa visão, a dentista que trocou o empreendedorismo no setor educacional pela filantropia, tornou- se uma atuante interlocutora junto ao prefeito Hildon Chaves, quando o assunto é investimentos em políticas públicas de promoção da igualdade racial. “Eu acho inadmissível que a gente ainda tenha que discutir essa questão racial no Brasil, porque somos toda uma miscigenação”, justifica ela na entrevista a seguir , o motivo que lhe fez abraçar essa causa.
Por que a senhora resolveu abraçar a causa da igualdade racial?
Eu acho inadmissível que a gente ainda tenha que discutir essa questão racial no Brasil porque somos toda uma miscigenação. Um país com pessoas de vários lugares do mundo. Sou genuinamente inconformada com essa situação porque pra mim de fato nunca fez diferença essa questão da cor da pele. Quando comecei a ouvir essa discussão ainda adolescente , eu me questionava: qual a importância da cor da pele de uma pessoa? Acho que a luta contra o racismo é de toda sociedade e não apenas dos negros.
Qual o seu papel nessa questão da igualdade racial no âmbito municipal
Na realidade, eu não tenho um papel oficial nesse contexto, até porque o cargo de primeira – dama é mais focado em ações sociais baseado no voluntariado, mas as questões vão chegando até a mim naturalmente. Quando enxerguei que existia essa lacuna no município, busquei me aproximar de quem entende com mais propriedade do assunto. Aproveitando a intenção do prefeito Hildon Chaves em priorizar essa pauta, acabei me tornando uma interlocutora de demandas dessa área junto à gestão municipal.
Já existe algum resultado concreto dessa sua articulação?
O resultado na realidade não é só da minha modesta colaboração, num tema que é tão importante e complexo, mas da união de forças, inclusive de uma elogiável atuação da Secretaria Municipal de Assistência Social e Família. Quando o prefeito Hildon Chaves assumiu a Prefeitura de Porto Velho, não existia nenhuma medida da gestão municipal que garantisse os direitos da comunidade negra. Hoje, já podemos citar importantes avanços.
Quais por exemplo?
No ano passado, o prefeito Hildon Chaves assinou uma lei, instituindo no calendário oficial do Município de Porto Velho, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino - Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho. Tivemos uma vasta programação com ações inéditas, inclusive a Feira das Empreendedoras Negras que em apenas dois dias teve um faturamento em torno de dezoito mil reais, fazendo a diferença, portanto, na vida financeira das quarenta expositoras que comercializaram os seus produtos.
Então a prioridade na temática racial na administração municipal são as mulheres...
Não, sempre pensamos na família como um todo e nessa causa não seria diferente. Com o apoio de parceiros de diferentes segmentos da sociedade civil, a Prefeitura desenvolveu no ano passado, um calendário de atividades em alusão ao Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro, tendo como principal objetivo conscientizar a população sobre o racismo sutil.
Como está sendo feita essa conscientização de combate ao racismo sutil?
O racismo sutil acontece de forma involuntária, por meio de palavras e expressões que são usados no nosso cotidiano, mas acabam associando a negritude a situações pejorativas, como por exemplo, mercado negro, a coisa tá preta e denegrir a imagem. Para mostrar à população o peso dessas palavras, foi realizada uma exposição explicando a maneira ideal de substituir esse vocabulário. Foi ainda lançada uma cartilha com esse objetivo e realizado um trabalho com professores e alunos da rede municipal de ensino para que essa temática não caia no esquecimento.
O que está sendo realizado hoje para que esse tema continue na pauta da gestão municipal?
Nossos professores estão trabalhando esse tema em sala de aula, inclusive no encerramento das comemorações do Dia da Consciência Negra aconteceu no V Congresso Municipal de Educação, a capacitação de cerca de seiscentos professores com conteúdo étnico – racial. No último mês de dezembro, já aconteceu na Escola Municipal Deigmar Moraes de Souza no Baixo - Madeira, a palestra Conexão Digital – Relações Étnico – Racial.
Além de trabalhar essa questão nas escolas, a Prefeitura está realizando algum ação nesse sentido fora do ambiente escolar?
Sim. No último mês de fevereiro foi realizada a V Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial, tendo como principal tema o enfrentamento ao racismo e as outras formas correlatas de discriminação ético – racial e de intolerância religiosa. O foco foi nas políticas do Estado e a responsabilidade de todos diante dessa pauta.
Que balanço a senhora faz dessa conferência?
O evento foi muito significativo para nosso município. Durante a programação, foram apresentadas importantes propostas sobre essa causa, a exemplo, da inclusão de Porto Velho na Comissão Estadual de Trabalho que busca o apoio do Governo do Estado para que seja implantado um núcleo especializado em crimes raciais e discriminação religiosa.
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