Integrantes da CPI respondem a xingamentos e acusações de Bolsonaro
Eu queria a Janssen, a Covaxin, a AstraZeneca, a CoronaVac, a Pfizer. Nossa diferença é grande: eu queria vacina, vocês queriam propina!”, respondeu o senador
CPI que investiga atuação do governo no combate à pandemia de covid-19 se dedica, durante o recesso parlamentar, à análise dos documentos já obtidos
Integrantes da CPI da Pandemia, reagiram ontem (19) a declarações feitas pelo presidente da. República, Jair Bolsonaro, sobre a atuação do senadores e os trabalhos da comissão. Em declarações a apoiadores e em publicações nas redes sociais, Bolsonaro publicou xingamentos e afirmou que integrantes da CPI tentam acusar o governo porque não tiveram sucesso na negociações para que governadores e prefeitos pudessem comprar vacinas “a qualquer preço”.
Pelas redes sociais, o presidente publicou um vídeo em que Randolfe fez publicamente um apelo à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a liberação do uso emergencial de vacinas como a indiana Covaxin. Também pelas redes sociais, Randolfe respondeu de maneira enérgica às falas do presidente. Ele disse que sim, trabalhou para fazer o que o governo deveria ter feito: garantir a todos os brasileiros o acesso às vacinas.
“É lógico que eu queria vacina o mais rápido possível. Salvar vidas, para a gente, não é brincadeira e não é algo que se negocie com intermediários. Eu queria a Janssen, a Covaxin, a AstraZeneca, a CoronaVac, a Pfizer. Nossa diferença é grande: eu queria vacina, vocês queriam propina!”, respondeu o senador.
O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM) respondeu os xingamentos feitos pelo presidente em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada . Bolsonaro chamou o presidente da CPI de “anta amazônica”. Para Omar, Bolsonaro deveria usar seu tempo para se solidarizar com as vítimas da pandemia.
“Recebi esse vídeo do presidente naquele famoso cercadinho, que cada vez fica menor, cada vez ele fala para menos pessoas e cada vez mais expele o ódio. Presidente, toda vez que o senhor chegar ao cercadinho, se solidarize com as vítimas da covid-19, com as famílias que estão perdendo pessoas queridas”, disse Aziz, em vídeo publicado nas redes sociais.
Novas denúncias
Em entrevista divulgada na sua página no Twitter, o senador Humberto Costa (PT-PE) falou sobre a suspeita de irregularidades na relação do Ministério da Saúde com a empresa VTClog, denunciada por uma ex-servidora da pasta. A empresa é contratada pelo Ministério da Saúde para receber, armazenar e distribuir as vacinas contra o coronavírus.
“Há muitas denúncias que precisamos investigar. Acho que esse é o caso da VTCLog. Tudo indica que sim, que há o pagamento de uma mesada que viria há algum tempo. Essa é a denúncia, nós temos que investigar. Não podemos adotar previamente como uma verdade, mas há muitos indícios de que é real”, disse do senador.
A denúncias das quais falou o senador foram publicadas nesta segunda-feira, pelo site Uol. A reportagem aponta a existência de um suposto esquema de propina implantado no Ministério da Saúde na gestão do ex-ministro e atual líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR). O esquema, que teria se iniciado em 2018, ainda no governo do ex-presidente Michel Temer, ainda estaria funcionando no governo de Bolsonaro.
Humberto Costa lembrou que o departamento do Ministério da Saúde antes responsável pela distribuição de vacinas foi desativado por Barros, que passou a parte de armazenagem e distribuição de vacinas para empresas. “A denúncia é muito grave. A CPI vai investigar quem de fato recebia a propina, qual a dimensão do esquema e quem fazia os repasses”, afirmou.
Convocação
A convocação da diretora-executiva da VTCLog, Andreia Lima, já foi aprovada pela CPI no dia 7 de julho. Omar Aziz afirmou que a CPI, desde o início, toma muito cuidado para apurar os fatos e prometeu continuar trabalhando independentemente de recesso parlamentar.
“Ou a gente leva a CPI a sério, ou não leva. Ou investiga, ou não investiga. Os fatos estão chegando. Não estamos com as investigações paradas. O Senado está em recesso, a CPI não”.
Em entrevista que divulgou por meio do Twitter, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), líder da bancada feminina, disse já haver fortes indícios e muitos elementos para provar a prática de crimes, incluindo a corrupção passiva e ativa. Ela prometeu continuar trabalhando para apontar os autores desses crimes.
“Temos documentos, troca de mensagens, quebras de sigilos. Na volta do recesso, a CPI terá de colocar nome, sobrenome e CPF dos responsáveis. Quem foram os corruptores, os cooptados, os atravessadores, os servidores, os agentes políticos”, disse Simone, que destacou a “contribuição essencial” das senadoras nos trabalhos da comissão.
"Caneladas"
Em vídeo divulgado pelas redes sociais, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) disse que a CPI até agora não tem nenhuma prova de irregularidade e está “andando em círculos” e “dando caneladas”. Na avaliação do senador, o Brasil perde ao ver uma instituição como o Senado “fazendo estardalhaço pra nada”.
“Mesmo com uma CPI com maioria tão tendenciosa, não há uma irregularidade sequer comprovada. Zero. Estão certificando a idoneidade do governo. Espero que parem com esse açodamento e não nos exponham a tantos constrangimentos em cima de factoides, em cima do nada. Paciência tem limite. A população já está cansada desta CPI, lamentavelmente”, disse o senador, em vídeo publicado nas redes sociais.
Marcos Rogério disse ainda que tudo deve ser investigado, mas que alguns senadores se recusam a focar na “verdadeira corrupção”, por medo de expor governos estaduais aliados.
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