JBC: parem a reforma!

Num país onde os prédios públicos de um modo geral estão literalmente caindo aos pedaços soa até irônico dizer que as reformas nos mesmos não são bem-vindas.

Professor Nazareno*
Publicada em 19 de março de 2018 às 09:31
JBC: parem a reforma!

Num país onde os prédios públicos de um modo geral estão literalmente caindo aos pedaços soa até irônico dizer que as reformas nos mesmos não são bem-vindas. E às vezes não são: estou falando da Escola Professor João Bento da Costa de Porto Velho. Em relação aos resultados obtidos no ENEM, esta escola pública da zona Sul de Porto Velho dispensa quaisquer comentários. É líder absoluta em aprovações de alunos em várias universidades e faculdades espalhadas pelo país. Isso já há quase duas décadas. Apesar de ser bancada com recursos do Estado, a escola JBC pode ser comparada em alguns aspectos às melhores escolas particulares de Rondônia. Desde 1998 que trabalho lá e junto com outros dois professores, Arimateia de Geografia e Tadeu de História, ajudei a fundar o Projeto Terceirão, que tantos resultados tem dado aos rondonienses.

Desde o já longínquo ano de 2002 sob a direção do competente professor Suamy Vivecananda que o JBC tem feito propaganda gratuita para os sucessivos governos de Rondônia. Entra ano e sai ano e os alunos desta escola “honram com muita garra e determinação o nome do colégio”. Mas o João Bento da Costa está hoje quase parado, sem aulas mesmo. E o motivo não é a greve da educação que está acontecendo em Rondônia. Desde o final do ano letivo de 2017, a escola foi tomada por serventes, pedreiros, mestres de obras, carpinteiros além de cimento, brita, areia e outros materiais de construção. Incrível e surreal: “a obra para reformar a escola simplesmente parou a escola” e não tem data para terminar. Aulas, por enquanto, só para o Projeto Terceirão. Como se fosse possível ter aulas em meio a barulho de marteladas, serras, areia e poeira.

Os alunos dos primeiros e segundos anos dos três turnos e também do EJA estão sem aula e têm uma vaga esperança de que pelo menos no final de março, com quase dois meses de atraso, finalmente se inicie o ano letivo de 2018. O prejuízo já está desenhado uma vez que aulas de reposição aos sábados são tão produtivas quanto o solo lunar. “Toda reforma é bem vinda, mas sem planejamento e organização, como está acontecendo agora no João Bento, é melhor que a escola nunca seja reformada”, afirmou um professor, que mesmo sem participar da greve dos educadores, está em casa esperando a boa vontade de a firma concluir os trabalhos naquele estabelecimento de ensino. Muitos professores da escola são unânimes em afirmar que concordam, mas não participam de nenhuma greve da categoria, porém “a reforma nos obrigou a parar”.

O diretor Chiquinho esteve recentemente nos EUA representando a escola. E é muito pouco provável que ele não tenha visitado uma escola de verdade naquele país por que o estabelecimento estava em reformas. Aqui infelizmente a educação não é muito levada a sério pelo poder público. Reforma numa escola em pleno andamento do ano letivo é de tamanha incompetência que talvez só se verifique em Rondônia mesmo. Já pensou se o governo resolve reformar o “açougue” João Paulo Segundo com os pacientes lá dentro? Não se duvida de nada, pois até dedetização já houve em meio aos doentes. Os professores do JBC não fazem greve e todos os anos ajudam na aprovação de centenas de alunos para as universidades e por isso não mereciam trabalhar num ambiente completamente insalubre. Pior: a comunidade da zona Sul parece ignorar o lamentável fato. Isso até o dia em que um acidente acontecer com alguém naquele caos.

*É Professor em Porto Velho.

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