Lula venceu mas a luta não terminou
Cabe perguntar: a democracia venceu? Ou segue tolerada, enquanto seus inimigos tentam acumular forças para uma nova investida?
Presidente Lula, presidente do STF, Rosa Weber, ministros e governadores se unem contra atos terroristas bolsonaristas (Foto: Ricardo Stuckert)
O irlandês Edmundo Burke (1729-1797) formulou uma visão insubstituível sobre a importância dos estudos de História:
-- Um povo que desconhece sua história está condenado a repetí-la, escreveu.
Este debate é de grande utilidade no Brasil de nossos dias. Quatro semanas depois da posse de Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto, pode-se ler na página 3 do Estadão de 29/1/2023, uma observação que deveria causar espanto, mas é vista com naturalidade: "A esta altura já está claro que só não houve um golpe de Estado no Brasil após a derrota de Bolsonaro por absoluta rejeição das forças vivas da Nação ao espírito golpista que sempre animou o ex-presidente ...."
O aspecto escandaloso do 8 de janeiro encontra-se aqui. Os golpistas -- sim, o substantivo ingressou definitivamente no dicionário político do Brasil 2023 -- perderam.
Sem nenhum arranhão em sua legitimidade, Lula retoma os trabalhos como presidente da República.
Cabe perguntar: a democracia venceu? Ou segue tolerada, enquanto seus inimigos tentam acumular forças para uma nova investida?
A resposta será conhecida nos próximos dias, quem sabe meses, ou alguns anos. Num país onde golpes vitoriosos costumam ser precedidos de ensaios mal sucedidos, a tarefa principal é afirmar a força da democracia e cobrar responsabilidades de todos que se atreveram a desafiar a Constituição. Não cabe cumplicidade, nem tolerância.
Chamado de golpista por Lula, em função de sua atuação em 2016, quando jogou um papel ativo na queda de Dilma, Michel Temer fez ares de zangado mas permitiu-se uma ironia. Abraçando uma escala de valores estranha a democracia, definiu a queda de Dilma como um "golpe de sorte", referência ao pacote liberal-entreguista que os congressistas aprovaram em seu governo.
Mal-disfarçado em sua vocação anti-democrática, com ramificações endinheiradas e influentes, este é o mundo que conspira de modo permanente contra a vontade da maioria de brasileiros e brasileiras ao longo da história.
Conspirou contra Getúlio em 1954, provocando sua morte. Inventou o parlamentarismo de 1961, num primeiro movimento para derrubar Goulart três anos depois.
Inventou as pedaladas contra Dilma em 2016, para dar posse a Michel Temer, encarcerar Lula e eleger Bolsonaro em 2018. A história está aí para ensinar.
Ou os responsáveis pelo crime de 8 de janeiro serão identificados e punidos, em particular nos mais altos escalões, ou a máquina contra a democracia estará em movimento muito antes do que se imagina. Do ponto de vista político, esta é a prioridade absoluta do governo Lula.
Alguma dúvida?
Paulo Moreira Leite é colunista do 247, ocupou postos executivos na VEJA e na Época, foi correspondente na França e nos EUA
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