Ministério Público quer solução para a situação dos moradores do bairro Triângulo, em Porto Velho (RO)

Em ação civil pública, MPF e MP/RO pedem que Justiça determine medidas para garantir reassentamento das famílias tradicionais do bairro Triângulo.

Ascom MPF/RO
Publicada em 14 de setembro de 2017 às 11:27
Ministério Público quer solução para a situação dos moradores do bairro Triângulo, em Porto Velho (RO)

A situação dos moradores tradicionais do bairro Triângulo fez com que o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público de Rondônia (MP/RO) ajuizassem uma ação civil públicapedindo que a Justiça determine, em caráter emergencial (antecipação de tutela), medidas queimpeçam o “esfacelamento social” daquela comunidade.

O principal pedido à Justiça é para que a usina hidrelétrica de Santo Antônio seja obrigada pela Justiça a apresentar em 90 dias um plano de remoção dos moradores e custear moradias provisórias para as famílias em situação de risco iminente. Além disto, a hidrelétrica pode ser condenada a patrocinar estudos de hidrossedimentologia para avaliar a real dimensão dos impactos causados no bairro Triângulo pela operação das suas turbinas, bem como demonstrar a eficácia do muro de contenção construído para evitar os desbarrancamentos naquela região.

Na ação, o Ministério Público também pede que a Justiça determine que a União não façadestinação de uma área pleiteada pelos moradores do Triângulo para reassentamento coletivo e definitivo de suas famílias. O Ministério Público entende que, enquanto não houver solução sobre o reassentamento das famílias, a área não pode ser utilizada para outras finalidades.

A área é localizada na Estrada do Santo Antônio, em frente ao Condomínio Bosques do Madeira, e está sob responsabilidade do Exército (5º Batalhão de Engenharia e Construção). OMinistério Público entende que a remoção das famílias para esta área poderia garantir a sobrevivência física e cultural desse grupo de moradores tradicionais, pois é uma área próxima aos elementos físicos e memoriais de sua identidade sociocultural.

Na ação, o Ministério Público pede também que o Município de Porto Velho e o Estado de Rondônia sejam obrigados a apresentar em 30 dias um laudo sobre a viabilidade ou não da área tradicional do bairro Triângulo ser habitada.

Também são réus na ação o Ibama e o Iphan. Se condenados, todos os réus terão queremover os moradores para um reassentamento que garanta, no mínimo, condições idênticas às atuais; proteger e preservar, integralmente, o patrimônio histórico da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, no trecho afetado no bairro Triângulo; e pagar indenização por dano socialno valor de 5 milhões de reais, bem como multa de 100 mil reais por dia em caso dedescumprimento da decisão judicial.

Desbarrancamentos – Na ação, o Ministério Público mostra, através de imagens de satélite, o impacto causado pela hidrelétrica de Santo Antônio nas margens do rio Madeira, em especial no bairro Triângulo. O Ministério Público aponta que a área de influência direta dos lagos da usina hidrelétrica Santo Antônio ultrapassou e muito as previsões dos estudos realizados.

Os procuradores da República Raphael Bevilaqua e Gisele Bleggi e a promotora de Justiça Aidee Torquato ressaltam na ação que a hidrelétrica de Santo Antônio já reconheceu o nexo causal entre o desbarrancamento acelerado no bairro Triângulo e suas atividades, tanto que construiu muro de contenção e se comprometeu a fazer algumas remoções de famílias via Termo de Ajustamento de Conduta celebrado com MPF e MP/RO.

Entenda o caso – O MPF tem acompanhado a situação do bairro Triângulo desde 2009, quando moradores tradicionais relataram ao órgão a intenção da prefeitura de Porto Velho em desalojá-los para a implantação do projeto de urbanização do Canal Santa Bárbara (projeto chamado de Parque das Águas ou Igarapés do Madeira).

Na época, a prefeitura disponibilizou às famílias casas do programa Minha Casa Minha Vida, mas a maioria dos moradores do Triângulo é composta por servidores públicos, que não têm perfil de beneficiários do programa social.

Em 2011, o Ministério das Cidades recomendou ao Município que o projeto original fosse alterado para incluir as famílias tradicionais do bairro, deixando-os permanecer na área em que vivem. Mas a alteração no projeto não foi realizada e, com o início da operação da usina hidrelétrica de Santo Antônio, ondas (banzeiros) mais fortes e frequentes passaram a atingir as margens do rio Madeira e a afetar o bairro Triângulo, causando desbarrancamentos. A situação agravou-se durante a cheia histórica do rio Madeira, em 2014, quando a área ficou totalmente alagada por alguns meses.

Em 2015, a prefeitura passou a considerar que o projeto Parque das Águas e a permanência das famílias nas margens do rio Madeira eram inviáveis devido à “reincidência de enchentes, alteração das áreas firmes e dos locais mais baixos, acúmulo de sedimentos e alteração significativa da geografia local”. Até o momento, muitas famílias permanecem no local, enquanto aguardam reassentamento definitivo.

A ação civil pública pode ser consultada no site da Justiça Federal em Rondônia, seção Processo Judicial Eletrônico (Pje), pelo número 1000878-63.2017.4.01.4100.

Comentários

  • 1
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    Pedro Manso 14/09/2017

    É louvável a atitude MP, agora se são cumpridas é que são elas, como ninguem respeita as instituições brasileiras então é mesmo que nada; multas nunca são pagas é só um símbolo para mostra para sociedade, floresta são derrubadas, rios agredidos e o fogo destroi a natureza e a vida existente e nada acontece; satelites são lançados para filmar a amazonia e mostrar a destuição e vhs servem de filmes e nada é acontece; "Ibama, Instituto Chico, Ambiental só aparece apos a destruição, portanto se o MP FAZER VALER ESSA AÇÃO EM QUESTÃO JÁ É UMA GRANDE VOTÓRIA, só assim outros irão pensar antes de destruir e culpar a natureza.

  • 2
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    José Silva 14/09/2017

    Possibilidade de remover para área na frente do condomínio Bosques do Madeira. Essa notícia possivelmente já derrubou significativamente o valor dos imóveis desse condomínio, estava pensando em comprar um lote nesse lá, mas vou repensar. Por mais que seja seguro, o perigo de roubo interno e assalto externo vai ser muito grande. Esse pessoal do triângulo vive de vender o imóvel que é doado quando eles são retirados desse local, e voltam novamente para reivindicar outro imóvel.

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