Novo modelo educacional leva de volta à sala de aula jovens que haviam abandonado a escola em Porto Velho
Estudantes e professores estão mobilizados para cumprir a missão do projeto Asas do Saber.
Fazer o resgate de uma juventude afastada das salas de aulas. Essa é a missão desafiadora do Projeto Asas do Saber do governo de Rondônia que iniciou o projeto piloto pela escola estadual Lydia Johnson de Macedo, em Porto Velho. A abertura oficial do ano letivo será realizada nesta quarta-feira (23), às 9h.
As aulas começaram no dia 16 em tempo integral. São 127 estudantes distribuídos em quatro turmas do 1º ano e uma do 2°. E ter esse público, segundo o diretor Alcir Tavares da Silva, já foi o primeiro desafio superado. O receio era que a escola não conseguisse preencher todas as vagas. ‘‘Temos fila de espera para os 1° anos do Ensino Médio e restam apenas duas vagas para o 2º’’, afirma.
Foi preciso ir à busca do público-alvo do projeto. ‘‘O período de matrícula foi difícil, praticamente os alunos foram pegos no laço’’, conta. O diretor explica ainda que estudantes têm de 16 a 23 anos e haviam abandonado a escola devido desinteresse pelo modelo tradicional de educação e alguns conflitos sociais. ‘‘Temos alunos com 5, 6 anos fora da sala de aula’’, aponta.
Além dos alunos de bairros próximos a escola, como Costa e Silva, Nacional e São Sebastião I e II, a escola também atende aqueles de localidades distantes, como moradores do Orgulho do Madeira, São Francisco, Mariana e de bairros da zona Sul. ‘‘Temos alunos praticamente da capital inteira’’, considera o diretor.
Para os estudantes que moram no Orgulho do Madeira e aqueles que ficam na mesma rota há disponível transporte escolar gratuito. ‘‘Atendemos 90 estudantes com transporte’’, afirma o diretor. Os que se encaixam na situação de pobreza ainda têm direito a R$ 200 mensais do Fundo Estadual de Erradicação e Combate à Pobreza (Fecoep) gerido pela Secretaria da Assistência e do Desenvolvimento Social (Seas).
OPORTUNIDADE
O projeto marca uma nova etapa para estudantes como João Lucas Peres Lemos, 17 anos. Ele ficou sabendo do projeto por meio da equipe da Superintendência de Estado de Políticas sobre Drogas (Sepoad) e decidiu aproveitar a oportunidade. ‘‘Essa escola é coisa boa que aconteceu na minha vida. Tem um bom conteúdo e os professores sabem explicar bem’’, afirma ele, que ficou mais de três anos longe das salas de aula.
Assim como João, Sulamita Cordeiro, 18 anos, também ficou um período longe das salas de aulas e espera que o projeto faça a diferença na educação dela. ‘‘Acredito que aqui vou conseguir me empenhar melhor nos estudos’’, conta.
Já para Clara Letícia Vieira, 16 anos, essa é a chance de estudar em uma escola com um melhor padrão de ensino. ‘‘Eu vi que o projeto era novo e bom e que teria oportunidade de aprender mais’’, disse.
É o que também acredita Andreina Lohana Damasceno, 17 anos. ‘‘É um sonho, eu nunca vi uma escola desse jeito. Os professores são muito bem qualificados, querem levar esse projeto a frente e estou gostando muito. Aqui nós temos conforto e várias atividades diferentes’’, avalia.
Lohana disse que nunca desistiu de estudar, mas viu no projeto a oportunidade de aproveitar melhor o tempo. ‘‘Eu não fazia nada em casa, então eu decidi vir para cá e valeu a pena ter feito essa escolha’’, afirma.
DIFERENCIAL
Os estudantes iniciam as aulas às 7h30 e são liberados 17h15. Têm direito a café da manhã, almoço e lanche da tarde. A escola passou por uma pequena reforma. De cara nova, o espaço se tornou acolhedor para os estudantes que agora têm acesso ao melhor da educação. ‘‘ Tem um bom ginásio, salas de aulas amplas e climatizadas, laboratórios de informática, de biologia e de linguagens’’, afirma o diretor da unidade, Alcir Tavares
Nas salas de aula, metodologias e conteúdos diferentes são marcas do projeto. A escola oferecerá disciplinas eletivas como circenses, escalada, fotografia; música; dança e capoeira, que serão inseridas gradativamente no aprendizado dos estudantes.
De acordo com o diretor, nesta primeira etapa estarão em atividade a sala de educação física e as salas temáticas de biologia, geografia, linguagem, matemática e física.
Para a construção coletiva de uma nova maneira de aprender, a escola conta com uma equipe experiente e disposta a assumir a missão. ‘‘É uma equipe fantástica. São professores experientes e que passaram por treinamento, professores que aprenderam sobre projetos integradores’’, explica o diretor.
Para a professora de história Maria do Rosário Barbosa de Freitas, que tem 10 anos de atividade em sala de aula, a missão do Asas do Saber é um desafio diferente. ‘‘Além de aprendermos um novo jeito de dar aulas, nós temos que resgatar esses alunos e trazê-los para a busca do conhecimento e também descobrir a própria identidade como ser humano. O Asas do Saber vem com essa proposta de colocar esse aluno como protagonista’’, avalia.
O projeto busca despertar a juventude rondoniense para uma nova realidade. ‘‘Essa escola nasceu do sonho do governador de ter uma escola transformadora com a ideia que haja uma educação diferente em todos os sentidos, começando pelos próprios estudantes, que estavam à margem da educação’’, relata o diretor.
Tudo pronto para o recomeço de dezenas de jovens que têm a chance de dar um novo rumo para suas vidas por meio do projeto inovador que quer incentivá-los a irem muito além do que um dia sonharam. É resgatar aqueles que desistiram de si mesmos, é incluir aqueles que estão a margem, é usar a educação para mudar vidas.
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