O choro é livre: vêm mais 'Zanins' por aí
"Mais do que bons currículos, Lula decidirá a próxima vaga no STF e na PGR com base na afinidade política e em algum nível de confiança", diz Bepe Damasco
Cristiano Zanin (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)
Cachorro picado por cobra tem medo até de linguiça.
O dito popular cabe como uma luva para que ingênuos, românticos, e até oposicionistas, entendam o que moveu Lula a indicar seu advogado e amigo Cristiano Zanin para o STF.
Também projeta como serão as próximas escolhas de Lula, tanto para a vaga da ministra Rosa Weber, no Supremo, como para a Procuradoria-Geral da República.
Antes, é importante frisar que Zanin, agora ministro, preenche com louvor os requisitos constitucionais de notório saber jurídico e reputação ilibada, para o ingresso na Corte Suprema. Os senadores reconheceram estas evidências, aprovando a indicação com expressivos 58 votos.
Chegou a ser cômica a campanha da mídia comercial pinçando apenas o critério da impessoalidade para atacar a opção do presidente da República.
Em uníssono, comentaristas da GloboNews e editoriais dos jornalões, como se estivessem genuinamente preocupados com a qualidade na composição da Corte, apontavam a existência de muitos nomes melhores do que Zanin no mundo jurídico. Perderam.
Imagina se Lula, aos 77 anos, calejado de tanta perseguição e sofrimento, incorreria outra vez nos erros que custaram caro não só a ele, mas à democracia, cometidos no passado, na escolha dos juízes do STF e do procurador-geral da República.
Alguns exemplos de efeitos trágicos das indicações de Lula e Dilma para o STF, em passado recente:
1) Toffoli teve a pachorra de reconhecer, há algumas semanas, que condenou José Genoíno mesmo tendo convicção de sua inocência.
2) Joaquim Barbosa comandou a farsa da Ação Penal 470, o mensalão. Inebriado pelos holofotes da mídia, ignorou a negativa da existência do esquema por quase mil testemunhas e inventou a tese mentirosa do desvio de dinheiro do cartão Ourocard Visa/Net, para justificar as condenações.
3) Barroso, até então respeitado professor de Direito, no Rio de Janeiro, e Edson Fachin, advogado do Paraná tido como progressista por atuar em defesa dos sem-terra, se converteram em lavajatistas radicais.
4) Rosa Weber, em seu voto condenando José Dirceu, disse que não tinha provas contra o ex-ministro, mas a “literatura jurídica" lhe permitia condená-lo.
5) Luiz Fux, em campanha para o STF, afirmou que “mataria no peito” o processo do mensalão, mas não tardou em sair condenando sem provas a torto e a direito.
6) Está na conta do STF a infame e derradeira decisão que sacramentou a prisão ilegal de Lula ao derrotar o pedido de “habeas corpus” da defesa de Lula por 6 x5.
7) Flagrantemente ilegal, uma vez que não havia crime, sabe por que os advogados de Dilma Rousseff não recorreram ao Supremo para evitar a consumação do impeachment? Porque sabiam que seriam derrotados. O STF era braço da articulação golpista.
Em relação à sucessão de Augusto Aras, na PGR, prevista para o segundo semestre, é bom os analistas já irem preparando o gogó para reclamar.
Lula não vai cair outra vez na armadilha corporativa da lista tríplice, que produziu figuras deploráveis como Rodrigo Janot (que esteve prestes até de atentar contra a vida de um juiz do Supremo), além de antipetistas de carteirinha, como Roberto Gurgel e Raquel Dodge.
É prerrogativa do presidente da República a escolha do procurador –geral da República e ponto final.
Está claro que, mais do que bons currículos e respeitabilidade profissional, Lula decidirá a próxima vaga no STF e na PGR principalmente com base na afinidade política e em algum nível de confiança pessoal. Nos EUA, sempre foi assim e tudo é visto com a maior naturalidade.
Bepe Damasco
Jornalista, editor do Blog do Bepe
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