O comunismo está chegando?
Segundo o Datafolha, metade dos brasileiros teme a chegada do comunismo
Metade dos brasileiros teme que o país vire comunista, diz o Instituto de pesquisas Datafolha.
Pesquisas de opinião precisam ser analisadas com precaução. Como Pierre Bourdieu demonstrou há meio século, elas tratam como convicções o que são meras respostas a perguntas que, na verdade, as pessoas nem fazem a si mesmas.
Ainda assim, é preciso perguntar: que cazzo seria o comunismo, para que metade dos nossos compatriotas achem que ele está para chegar?
Um sentido de “comunismo” remete a sociedades em que tudo é comum a todos. Em que não há “meu” e “teu”. Como em tantos povos não europeus, para os quais a primeira tarefa do colonizador foi ensinar o sentido de “propriedade privada”.
O Brasil de hoje está neste caminho? Difícil de acreditar.
Outro sentido de comunismo se refere à sociedade imaginada por Karl Marx. Nela, não existiria Estado, repressão ou desigualdade. A necessidade estaria abolida e todos seriam integralmente livres. A harmonia entre indivíduo e comunidade ocorreria naturalmente.
Estamos chegando lá? Não parece.
É mais razoável imaginar que, por “comunismo”, as pessoas indicam o tipo de governo autoritário que imperou na antiga União Soviética e que hoje permanece em países como China, Coreia do Norte e Cuba. Alguém realmente acredita que há, no Brasil, alguma força política relevante que planeja implantar esse modelo?
Há um quarto sentido de “comunismo”. É tudo o que não é a extrema direita delirante. Quem difundiu essa acepção foi o (hoje calado) Olavo de Carvalho, que dizia que o governo FHC estava comunizando o Brasil. Então “comunista” é a Rede Globo, o Gilmar Mendes, o Joe Biden, o Emmanuel Macron. Até Sérgio Moro teve sua fase comunista, no curto período de tempo em que ficou de mal com Jair Bolsonaro e tentou se fazer de “terceira via”.
Seria bacana se, em vez de alimentar o medo irracional de um bicho-papão criado pela desinformação da direita, o eleitor brasileiro fosse capaz de discutir o que realmente quer para o seu país. Se entendesse o que é o capitalismo e quais as implicações que ele tem em sua vida, o que é e o que pode ser o socialismo, como uma democracia efetiva deveria funcionar.
Para chegarmos lá, só tem um caminho: educação política. Cabe à esquerda promovê-la – porque, para a direita, a alienação e a desinformação são vantagens.
*Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de Democracia na periferia capitalista: impasses do Brasil (Autêntica).
Publicado originalmente nas redes sociais do autor.
Luis Felipe Miguel
Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB). Os textos reproduzidos nesta coluna são postados originalmente no Facebook do autor
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Comentários
Quem teme o comunismo é desinformado. No mundo todo não há um governo comunista sequer. Cuba, Venezuela e Rússia são ditaduras, que contam com o apoio do exército. O comunismo só existe na teoria. Vão trabalhar, imbecis! O Brasil jamais será um país governado por uma teoria inexistente na prática.
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