O “Fake News” consciente e as eleições de 2018

A proliferação de informações na internet sem qualquer credibilidade e identificação alimenta um mundo virtual completamente dissociado da realidade.

Cíntia Paganotto
Publicada em 16 de agosto de 2018 às 17:45

Será que a internet será capaz de “matar” alguém? Será que haverá “mortos” vivos daqui uns tempos? Será que o mundo real será sucumbido pelo virtual? Tudo isso já está acontecendo. A proliferação de informações na internet sem qualquer credibilidade e identificação alimenta um mundo virtual completamente dissociado da realidade.

Pode-se “matar” alguém em segundos. Basta inventar a morte do indivíduo que rapidamente a notícia se espalhará.

É claro que o mundo político já descobriu essa forma barata e sorrateira de campanha eleitoral. Estão todos a postos contando com nossa ignorância e incapacidade de filtrar informações. Será, no entanto, que nossa ignorância e incapacidade são inconscientes? Minha tese é de que não.

As pessoas conscientemente compartilham notícias que elas ao menos gostariam que fossem verdadeiras. Até legitimam a suposta mentira. Sabem que podem ser mentira. Há grande chance de ser mentira. Mas, possuindo antipatia com o candidato, por exemplo, fazem questão de cometer o crime. Sim, é crime compartilhar notícia falsa que denigra a imagem de alguém (pode ser caracterizado como calúnia ou difamação), além da responsabilidade civil pelos danos causados à imagem da vítima.

No entanto, as pessoas acham que a internet é aquela cidadezinha do interiorzão de algum estado do Norte onde a impunidade corre solta. Ainda é, enquanto o Estado não agiliza meios para punir o cidadão que desconhece convenientemente os limites da liberdade de expressão.

As eleições que se apresentam dirão muito sobre a sociedade contemporânea, não só pela valorização do discurso conservador e hipócrita, mas também pela rejeição da verdade em favor do “fake News” consciente. O eleitor irá atuar em favor de seu candidato contribuindo sobremaneira para a forma barata e sorrateira de companha eleitoral através de compartilhamentos de “fake News”.

Tenho minhas dúvidas se existe mesmo o “eleitor enganado” pelas “fake News”. As pessoas não compartilham conteúdos que elas acreditam ser verdadeiros, mas conteúdos que elas possuem empatia. Há uma diferença muito grande.  

Certa vez postaram um vídeo num grupo de “Whatsapp” em que faço parte que mostrava uma criança de aproximadamente um ano de idade fumando e bebendo cerveja, no colo de um homem, rodeada de outros homens que falavam outro idioma. O vídeo acompanhava uma mensagem que dizia que a criança era filha de pais homossexuais. Não faltaram no grupo pessoas reforçando a mensagem de que os homossexuais estavam acabando com a civilização. Em rápida pesquisa na internet descobri que tal informação era inverídica, e postei no grupo. Após esta informação, ainda postaram no grupo: “mas podia ser verdade”. Tal situação só corrobora minha teoria da empatia.

As pessoas compartilham mensagens na internet que sabem conscientemente ser falsas, mas que possuem empatia. Não há qualquer interesse na verdade. Portanto, não há ingênuos na internet, mas certamente há algumas vítimas.

Viva a “festa da democracia” do “fake News” consciente 2018!

*Cíntia Paganotto, Advogada

Winz

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Comentários

  • 1
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    Antonio Tavernard 16/08/2018

    Excelente texto. Parabens Cintia.

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