O governo Lula precisa agir para deter a escalada da matança de pobres, negros e periféricos pelas PMs

'É preciso responsabilizar comandos militares envolvidos em chacinas', escreve o colunista Milton Alves

Milton Alves
Publicada em 07 de agosto de 2023 às 16:20
O governo Lula precisa agir para deter a escalada da matança de pobres, negros e periféricos pelas PMs

Luiz Inácio Lula da Silva e um ato contra a chacina policial no Guarujá (SP) (Foto: Reuters I Agência Brasil)

Os últimos dias foram marcados por uma escalada de chacinas praticadas pelas Polícias Militares(PMs), que começou na Baixada Santista (Guarujá), com a morte de 19 pessoas pelas tropas da Rota; no Rio, no Complexo da Penha, em operação de cerco e aniquilamento do Bope em ação conjunta com a Polícia Civil, que resultou, na última quarta-feira (2), na morte de 10 moradores da comunidade. Na Bahia, em Salvador, Camaçari e Itatim, na última semana, foram 20 mortos pelas forças policiais.

Trata-se de uma verdadeira escalada de matança da população pobre e preta que habita as favelas e bairros nas periferias das regiões metropolitanas do país: 49 mortos e dezenas de feridos e um clima de terror vigora nessas comunidades, com permanente ameaças de retaliações por parte das forças de segurança.

O continuado ciclo de mortes que atinge a população pobre, preta – e seletivamente localizada – é uma marca do modus operandi do estado brasileiro. Vale lembrar ainda que a chacina de Paraisópolis, Zona Sul paulistana, ocorrida em dezembro de 2019, segue sem punição para o comando da PM, que foi protegido pelo então governo de João Doria (PSDB).

Nos últimos anos, a política de criminalização da pobreza e do extermínio em nome de um pretenso combate à criminalidade foi o discurso oficial das forças de segurança e do governo bolsonarista. A "política do abate" rende votos para os políticos da extrema direita e um amplo setor da população foi contaminado pelo falso discurso do combate ao crime.

Um sistema policial repressivo, em aliança com a milícia paramilitar, é o modelo que vem sendo instituído na prática no país – e que opera a sua legitimação institucional com o aparelhamento político das forças de segurança pela extrema direita e políticos reacionários e oportunistas.

A questão da segurança pública é complexa, de difícil resolução, e tem uma relação direta com a própria natureza do regime capitalista, gerador de exclusão estrutural e concentração de riqueza -, mas a esquerda precisa enfrentar o tema com coragem, propor medidas e disputar politicamente com a narrativa da extrema direita bolsonarista, lavajatista e políticos oportunistas de diversos matizes.

Temas como a defesa intransigente dos direitos humanos, a reforma urgente do sistema penal, o fim da política de encarceramento em massa, a ampla descriminalização das drogas, o combate duro aos bandos milicianos, mais investimentos sociais nas comunidades pobres e a reformulação da doutrina das forças de segurança são alguns dos desafios para a construção de uma política de segurança pública nacionalmente estruturada, humanista e integral – a criação de um Sistema Único de Segurança Pública – SUSP- seria um avanço democrático.

A reação do governo federal foi tímida e claudicante. As falas dos ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos) e Flávio Dino (Justiça) sobre as matanças das PMs apenas reafirmaram as dificuldades do governo em tratar da questão da segurança pública e da violência policial, adotando um confronto aberto, franco, com as teses que criminalizam os mais pobres e as narrativas que justificam o extermínio.

Flávio Dino chegou a falar que faltou senso de “proporcionalidade” na ação criminosa da PM no Guarujá. Talvez o ministro avaliou que a Rota exagerou no número de mortos, 1 PM para 19 mortos na sangrenta represália. Um número menor de mortos seria proporcional e aceitável, Sr. ministro?

O governo do presidente Lula precisa agir para deter a escalada da matança das PMs e demandar dos governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia medidas concretas para responsabilizar e punir os comandos militares e da segurança pública envolvidos nas atuais chacinas.

Além disso, garantir a proteção das comunidades ameaçadas — uma medida necessária e básica para garantir, minimamente, os direitos humanos diante da sanha criminosa das forças policiais.

Milton Alves

Jornalista e sociólogo

Comentários

  • 1
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    AGACIR PAULO BETTANIN 09/08/2023

    Caro jornalista, jornalista de meia pataca e desinformado, a escalada de matança da população pobre, branca, preta, indígena e o quilombolas que habita o Brasil, começou com a pobreza que o PT na gestão Lula presidiário e a Dilma estoca vento, que deixou o nosso país, 13 milhões de desempregados e 26 milhões na informalidade!

  • 2
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    edgard alves feitosa 08/08/2023

    todo confronto entre policia e bandidos, terá inapelavelmente mortes; os bandidos sempre vão "recepcionar" os policiais a bala, haverá confronto...... nunca constou que os bandidos se entregam pacificamente; porém, sempre os policiais são detestados, são sempre os culpados....é fácil criticar....... por que estes que tanto defendem os bandidos não vão também, junto com os policiais, nas missões, quem sabe poderiam convencer os bandidos a se entregarem; interessante que a maior gritaria foi com relação a são paulo, com 16 mortes, governado por um possível adversário do pt; na bahia, governado pelo pt, com 30 mortes, nada se noticiou......tudo ficou calado.....nada aconteceu......

  • 3
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    sebastian 07/08/2023

    Seu colunista você não falar da situação na Bahia, por lá a situação também tá feia. Segundo dados, o número de mortos já ultrapassou os de São Paulo, mas lá quem governa é a turminha, por isso deve ser normal, já em São Paulo o governador não é da turminha.

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