O líder ficou milionário e pode fugir sem distribuir dividendos aos sócios pobres do golpe
A fortuna de Bolsonaro tem altos rendimentos, mas nada é compartilhado com quem acreditou nele e se deu mal, escreve o colunista Moisés Mendes
Mauro Cid e Jair Bolsonaro (Foto: Adriano Machado/Reuters)
Mauro Cid virou a esponja de todas as desgraceiras causadas pela tentativa de golpe. Nunca mais será promovido a general. Engordou 10 quilos. A mulher teve um celular apreendido pela Polícia Federal. Está de volta à prisão e tem problemas financeiros.
Colegas de farda estão fazendo vaquinhas para socorrê-lo. É nesse ponto, dos problemas financeiros, que se revela um dos dramas da turma pobre ou remediada do coronel, que acreditou em Bolsonaro e no golpe, viu o chefe fugir para os Estados Unidos e acompanha agora seu novo plano de fuga.
No áudio que divulgou com ataques à PF e a Moraes, Cid refere-se aos colegas de golpe que estão escapando e com a carreira militar preservada. E lembra que Bolsonaro ficou milionário com a arrecadação de R$ 17 milhões via PIX.
Mauro Cid voltou a falar do PIX de Bolsonaro também no depoimento à PF. Da lista de problemas que enfrenta, poucos terão solução. Mas nada impede que tenha o suporte de um PIX do ex-chefe para pelo menos pagar os advogados. Porque a sua vaquinha não terá 1% da vacona gorda de Bolsonaro.
Bolsonaro deveria dividir parte da fortuna não só com Mauro Cid, mas com todos os outros, próximos ou distantes, que acreditaram no seu golpe e tiveram as vidas destruídas.
São muitos os que estiveram no seu entorno auxiliar no governo e são centenas entre manés, patriotas e terroristas presos, processados e alguns já condenados a 17 anos de cadeia.
Bolsonaro tem muito dinheiro para que se negue a ajudar esse pessoal. Na maioria, é uma ralé de extrema direita sem o perfil que muitos, inclusive das esquerdas, pretendem que tenham. São quadros irrelevantes do bolsonarismo. Quase todos necessitados, com exceção dos financiadores do golpe.
Mauro Cid, agora obeso e sem dinheiro, com a possiblidade de ver a mulher envolvida na trama golpista e sem novas estrelas no ombro, é um homem sem futuro.
Transformou o pai general em muambeiro de bagulhos das arábias, arrastou colegas para a cena dos crimes e está preso de novo pensando que, durante quatro anos, foi mandalete de Michelle.
Foi abandonado, enquanto Michelle recebe honrarias em São Paulo e Bolsonaro se prepara, se não fugir para a Hungria, para sair pelo Brasil em campanha pelos seus candidatos nas eleições municipais. Com mais de R$ 18 milhões no banco, considerando-se as correções.
Bolsonaro dá tanto lucro quanto a Petrobras, mas não reparte nada, nem o básico do que lucrou até agora com os juros de Roberto Campos Neto.
Jornalistas amigos dessa gente, que reclamam a partilha de bônus dos ganhos da Petrobras com as hienas do mercado financeiro, poderiam cobrar o mesmo de Bolsonaro. A Globo e a Faria Lima devem reclamar a distribuição de dividendos do PIX milionário.
Antes de fugir, Bolsonaro precisa socorrer quem acreditou no seu golpe e acabou preso, enquanto ele passeava nos Estados Unidos. É uma questão moral, se é que as facções do fascismo lidam com dilemas nessa área.
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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