O projeto neoliberal no mundo e no Brasil é anti-vida e inimigo da natureza

“Esse projeto de sociedade é chamado, frequentes vezes, pelo Papa Francisco de “anti-vida”, “assassino dos pobres e da natureza”

Leonardo Boff
Publicada em 31 de julho de 2019 às 09:38
O projeto neoliberal no mundo e no Brasil é anti-vida e inimigo da natureza

Militares entreguistas e mercado de terras

Leonardo Boff é filósofo, teólogo e professor aposentado de Ética da UERJ

Se Bolsonaro e Guedes assumirem este projeto ultra neoliberal farão surgir um país com milhões de pobres e até párias, com poucos ricos e um punhado de multi-milionários, um país não só pobre mas também injusto

Aproveito as reflexões de um de nossos melhores filósofos, da Universidade Federal do Ceará, Manfredo de Oliveira, especializado na relação entre economia, sociedade e ética. Sua obra sobre o tema é vasta. Aqui resumimos um estudo mais longo sobre o projeto implementado no mundo e agora no Brasil: o neoliberalismo ultra radical. Escreve ele:

“Este projeto fundamentalmente consiste na implementação radical do que se denomina “Liberalismo Econômico”. Esta corrente de teoria econômica é conhecida como a Escola de Chicago que tem, contudo, seus fundamentos filosóficos nas teses da assim chamada Escola Austríaca, cujo principal expoente é Ludwig von Mises. Eis as teses básicas: o direito de propriedade é o único direito universal, fundamental e absoluto que começa com o direito absoluto do próprio corpo e inclui todos os bens que se possa adquirir. Deste direto se derivam o direito absoluto de não agressão à propriedade e o direito de defender a propriedade”.

“O Estado é visto como o grande usurpador da propriedade e a única instituição eticamente aceitável na esfera da atividade econômica é o “Mercado Livre”. Todos no mercado livre têm os mesmos direitos. Cada indivíduo é o único responsável por seus objetivos. Suas regras constituem um mecanismo semelhante às leis da natureza: elas são algo objetivo que o ser humano não tem condições de modificar. Devemos estudar a ação humana como um físico estuda as leis da natureza”.

“Assim como não podemos julgar boa ou má a lei da gravidade, do mesmo modo não podemos julgar as leis do mercado. Não tem sentido aqui levantar questões éticas que pertencem a outro nível. A única questão aqui é sua eficiência técnica. O mercado é compreendido como um mecanismo auto-organizador e enquanto tal sua avaliação tem como critério a eficiência e não a valoração ética”.

“Não há direitos fora das leis do mercado. Portanto, a desigualdade e a exclusão nada têm a ver com injustiça social. Assim, a pobreza não é um problema ético, mas uma incompetência técnica. O maior erro dos opositores do capitalismo é a acusação de injustiça social baseada na
ideia de que a “natureza” concedeu a todas as pessoas certos direitos só pelo fato de terem nascido”. Por esta razão, no que toca à distribuição da riqueza...”não tem sentido referir-se a um suposto princípio natural ou divino de justiça”(Cf. MISES L. von, The Anti-Capitalist Mentality, Auburn, 2008, p. 80, 81).”

“O imposto é uma forma de confisco da propriedade. Portanto, nem aúde, nem educação, nem previdência, nem segurança pública, nem justiça se legitimam enquanto financiados pelo Estado. Os pobres são indivíduos que por culpa própria perderam a competição com outros. Assim, o mérito emerge como único critério de ascensão social.”

“Esse projeto de sociedade é chamado, frequentes vezes, pelo Papa Francisco de “anti-vida”, “assassino dos pobres e da natureza”. Ele visa se opor ao Estado de Bem Estar Social (no Brasil, Estado democrático de Direito). Este orienta-se pelos seguintes elementos na inha de J.M.Keynes: 1) Intervenção do Estado nos mecanismos de mercado; 2) Política de pleno emprego (melhoria dos rendimentos dos cidadãos); 3) Institucionalização do sistema de proteção; 4) Institucionalização de ajudas para os que não conseguem estar no mercado de trabalho”.

“O resultado deste processo foi o aumento da capacidade de consumo das classes menos favorecidas”.

“O objetivo fundamental agora,no novo modelo de sociedade neoliberal, é maximizar o lucro do capital, o que faz com que os direitos sociais tendam a desaparecer e que aumentem as riquezas para os mais ricos, junto com a desregulação dos mercados de trabalho. Daí a cruzada global contra a intervenção estatal e os direitos sociais e econômicos criados pelas políticas do Estado Social, pois constituem um obstáculo à operação das leis de concorrência e por isto são políticas irracionais e populistas. Desta forma, os defensores do “mercado
totalmente livre” se contrapõem às políticas sociais, consideradas
ineficientes e perturbadoras do processo produtivo”.

“O caminho agora é confiar plenamente no mercado enquanto sistema auto-organizador que, uma vez libertado de regulações e intervenções indevidas, soluciona por si os problemas econômicos e sociais”.

“Neste contexto se mostra que agora o eixo básico do projeto de
civilização é a subordinação da qualidade de vida dos seres humanos à acumulação do capital”.

“Importa, entretanto, reconhecer que os resultados deste processo ameaçam a vida humana e toda vida no planeta. A exploração ilimitada da natureza se mostra nas catástrofes socioambientais. Cientistas,dos mais notáveis, alertam-nos para o fato de que o modelo econômico vigente pode encaminhar a humanidade a um colapso ecológico-social”.

Se Bolsonaro e Guedes assumirem este projeto ultra neoliberal farão surgir um país com milhões de pobres e até párias, com poucos ricos e um punhado de multi-milionários, um país não só pobre mas também injusto.

Brasil247

Comentários

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    Sebastião Farias 17/08/2019

    Gente, vamos todos a partir de agora, para o bem do Brasil e de instrução de seu povo, levarmos aos cidadãos, em quaisquer locais públicos como: praças públicas, em shows musicais de quaisquer espécies, nos teatros, nos cinemas, nos eventos sociais e esportivos diversos, nas escolas, nos colégios, nas universidades, etc, estímulo à leitura pública de rotina, de pelo menos, dos 07 primeiros Artigos da Constituição Federal, da Constituição Estadual e da Lei Orgânica do Município, aliados ao Artigo 70 da Constituição Federal, dentre outros. Esses conhecimentos, serão essenciais para preparar os cidadãos para votar bem e, para conscientizá-los de que, todos os cidadãos brasileiros e, principalmente, aos que nunca ouviram alguém dizer-lhes ou, foram ensinados que, sim! é o povo que detém o Poder e autoridade constitucional e não, os parlamentares e as autoridades por ele eleitas, assim como, os membros do Poder Judiciário nomeados nos termos da CF. O parâmetro de justiça imparcial para ser observado por todos, homens e mulheres públicas do Brasil, seria esse: “Tudo o que vocês desejam que os outros façam com vocês, façam vocês também a eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas” ( São Mateus 7,12). Oportuno se faz que, dentro do possível, que professores, estudantes, pastores, padres, formadores de opiniões, sindicalistas, lideranças comunitárias e associativas, líderes políticos, etc, conscientes dessa necessidade cívica da nação brasileira, quebrem a inércia e iniciem todos já, nos meios de comunicações de massas, que aceitarem o desafio de ajudarem a instruir os cidadãos e nas redes sociais do país, uma Campanha Nacional de Conscientização Política e Cidadania. Essa iniciativa, fará com que os cidadãos brasileiros sejam estimulados, para seu bem e maior preparo cívico, a lê mais, consultar e dividir com os nossos patrícios menos informados, o nosso aprendizado constitucional. Oportuno lembrarmos também que, este ano, a Igreja Católica definiu para a Campanha da Fraternidade 2019, o Tema : Fraternidade e Políticas Públicas e como Lema: “Sereis libertos pelo direito e pela justiça”(Is.1,27). Por isso, como cristãos, participem, se conscientizem e tomem uma atitude pelo bem do Brasil. Da mesma forma, incentivemos nossos irmãos, a fazerem o mesmo, lendo e consultando mais a Constituição Federal, a Constituição de seu Estado e, a Lei Orgânica de nosso Município, para nos conscientizarmos mais de nosso poder constitucional e assim, podermos realmente, capacitados e informados, mudarmos este Brasil que temos, num Brasil do povo e para o povo, verdadeiramente, mais cristão, mais justo, mais igual e fraterno e mais feliz, como dispõe e recomenda, a nossa Constituição Federal. Um lembrete aos homens públicos que se dizem cristãos e que, mesmo assim, fazem descaso e desrespeitam a CF, que não esqueçam que, no Preâmbulo dela, está gravado em seu final: “promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”. Isto quer dizer que falar da nossa CF e à ela, fazermos correções de textos sagrados, só é feio para os que negam a Deus, donde todo o poder, autoridade e justiça provêm e, é dado por Ele, ao povo, para garantia de seus direitos e liberdade, de sua soberania, de sua justiça e de seu bem-estar comum. Lembrem, muitos falam nos momentos difíceis em anticristo mas, ele pode ser conhecido como a Bíblia ensina e diz: “Filhinhos, esta é a última hora; e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido. Por isso sabemos que esta é a última hora. Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos. (1 João 2,18-19). Somente com uma educação cidadã e com uma conscientização política de nossa condição de cidadão brasileiro, que compõem o POVO e a Nação, mudaremos juntos, este país que é nosso, de nossos filhos, netos e das gerações futuras. São esses, o nosso comentário, observação e contribuição à matéria e ao nosso povo. Que cada um faça, conforme suas possibilidades, a sua parte. Paz e bem. Sebastião Farias Um brasileiro Nordestinamazônida Links onde se encontram assuntos afins a esse texto acima : https://alemdarena.blogspot.com/2019/03/links-para-historia-do-brasil-de-1894.html?spref=bl ; https://www.brasil247.com/poder/um-juiz-parcial-destroi-o-processo-nao-ha-como-se-defender-diz-desembargador ;

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    Sebastião Farias 17/08/2019

    Acho que tudo isso, que experimentamos, decorre menos de culpa do Poder Executivo, que envia suas demandas ao Congresso nacional e mais, da falta de preparo, consciência, compromisso e respeito do Congresso Nacional, que recebe as demandas do Executivo e termina aprovando como ele quer. Ora, as responsabilidades constitucionais do CN para com o povo e com o Estado brasileiro, que representam, é seus legisladores, fiscais e auditores (Art. 70 da CF) e, também, co-autor de cada Projeto aprovado pois, é ele, o CN, que ao receber, analisar, debater, emendar e aprovar cada demanda, que no mínimo, tais demandas deveriam sim, serem pelo menos confrontadas com os Fundamentos da República Federativa do Brasil (Art. 3º da CF) e, seus pareceres, dentre outros, deveriam registrar o status de atendimento ou não, a esses Fundamentos, com foco sempre, de servir o povo e a nação. De tudo isso, infelizmente, nos vem uma constatação prática no nosso dia-a-dia de cidadãos, quem se preocupa com a CF? Quem sabe o que diz o Art. 3º e outros importantes, da CF? Quem sabe ou se preocupa se a CF é desrespeitada ou não? Ora, os responsáveis do que taí, somos todos nós, que escolhemos essas pessoas mas, não nos interessa fiscalizar e procurar saber o que fazem, onde fazem, por que fazem, como fazem. Aproveito e dou uma sugestão: quando tiverem alguma demanda, sugestão, reclamação, elogio, etc, e não conhecem o responsável, procurem uma Ouvidoria Pública, peçam informações como proceder e, encaminhe através delas, suas demandas, pois assim, estará dando um grande salto na sua prática cidadã. É o início para tudo ser corrigido.

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