O que tem de honesto – ou falso – no comunicado da Cármen Lúcia sobre o HC do Lula?

Cármen Lúcia sempre foi uma peça fundamental da engrenagem do regime de exceção, e não haveria motivo para ser diferente agora.

Jeferson Miola/Brasil 247
Publicada em 25 de junho de 2019 às 11:52
O que tem de honesto – ou falso – no comunicado da Cármen Lúcia sobre o HC do Lula?

Jeferson Miola - Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial

"Cármen Lúcia sempre foi uma peça fundamental da engrenagem do regime de exceção, e não haveria motivo para ser diferente agora", diz o colunista Jeferson Miola; "Cármen Lúcia, agora, tem 2 opções para mostrar que não está blefando: ou [i] ela mantém o HC do Lula na pauta da 2ª Turma do STF desta 3ª feira, 25/6, ou [ii] ela se desmoraliza totalmente se ficar claro que soltou o comunicado só para jogar uma casca de banana para o Gilmar Mendes escorregar"

Um jogo oculto e ardiloso está em andamento no STF neste exato momento. A figura central e que causa tanto reboliço é o Lula.

Um dos operadores subterrâneos desse jogo, sabe-se bem, está lotado na assessoria militar da presidência do STF. O general Ajax Porto Pinheiro, que é teleguiado por tweets disparados pelo general Villas Bôas diretamente do Gabinete de Segurança Institucional do Bolsonaro.

Como é sabido os militares, que tutelam o STF, têm verdadeira ojeriza à hipótese de verem Lula livre.

Em menos de 24 horas descobriremos a verdade sobre esse jogo sujo que conspurca ainda mais a Constituição e a democracia brasileira.

A jornalista Mônica Bergamo noticiou na Folha de hoje que “O julgamento da suspeição de Sergio Moro no caso do tríplex de Lula será adiado pelo STF”.

Mônica informou que

A presidente da Segunda Turma do STF, Cármen Lúcia, colocou o caso, no entanto, no último lugar da fila. Antes dele, 11 processos teriam que ser apreciados. O ministro Gilmar Mendes concluiu que não haverá tempo de debater o caso de Moro. Só o voto dele tem mais de 40 páginas. Mendes decidiu, então, indicar o adiamento da discussão. O caso deverá voltar à pauta no segundo semestre”.

Cármen Lúcia sempre foi uma peça fundamental da engrenagem do regime de exceção, e não haveria motivo para ser diferente agora.

A ministra sempre atuou com genuína e canina fidelidade ao golpe e à conspiração Globo-Lava Jato, manipulando a pauta do STF para prejudicar o acesso do Lula à justiça [aqui].

Diante, contudo, da forte reação ao novo adiamento do julgamento do HC do ex-presidente Lula, Cármen Lúcia divulgou nota oficial na noite de hoje assegurando que o HC continua na pauta da 2ª Turma do STF.

Ela se explicou que “1) não incluí nem excluí processos para a sessão de amanhã, sequer tendo assumido, ainda, o exercício da Presidência, nos termos regimentais”.

E justificou-se dizendo que “2) em todas as sessões, é dada preferência e a prioridade aos habeas corpus determinada pelo Ministro Relator ou pelo Ministro Vistor;”.

Um dos argumentos dela na nota é que “4) todo processo com paciente preso tem prioridade legal e regimental, especialmente quando já iniciado o julgamento, como nos casos de vista, independente da ordem divulgada”.

O “Ministro Vistor” do pedido de HC do Lula, como se sabe, é Gilmar Mendes. Cármen Lúcia insinuou, com isso, que foi Gilmar Mendes quem retirou o HC da pauta da 2ª Turma.

Quantas horas vai durar esse súbito e inusitado compromisso da Cármen Lúcia com a Constituição e com a legalidade? É de se pagar para ver.

Por quantas horas Cármen Lúcia vai observar o critério de que “todo processo com paciente preso tem prioridade legal e regimental”? Nem o deus que ela tanto invoca consegue prever.

Cármen Lúcia, agora, tem 2 opções para mostrar que não está blefando: ou [i] ela mantém o HC do Lula na pauta da 2ª Turma do STF desta 3ª feira, 25/6, ou [ii] ela se desmoraliza totalmente se ficar claro que soltou o comunicado só para jogar uma casca de banana para o Gilmar Mendes escorregar.

Algo de muito sinistro está acontecendo no STF. E parece ser nada alvissareiro para a democracia e para o Estado de Direito.

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