Partido da família Bolsonaro quer ser a nova Arena, o partido da ditadura

Para Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia, "deveria se chamar PFB (Partido da Família Bolsonaro) esse novo ajuntamento que estão parindo em laboratório no Palácio do Planalto para botar a mão na grana do Fundo Partidário"

Ricardo Kotsch
Publicada em 14 de novembro de 2019 às 17:16
Partido da família Bolsonaro quer ser a nova Arena, o partido da ditadura

Deveria se chamar PFB (Partido da Família Bolsonaro) esse novo ajuntamento que estão parindo em laboratório no Palácio do Planalto para botar a mão na grana do Fundo Partidário.

Como tantas outras das 32 siglas existentes, esta “Aliança pelo Brasil”, o nome de fantasia criado pela famílícia, não quer dizer absolutamente nada.

O nome lembra a Aliança Renovadora Nacional, alcunhada de Arena, o partido criado pelos militares para defender a ditadura de 1964 no Congresso Nacional.

Tudo é fake nesta operação tabajara do capitão, capitaneada pelos filhos no zap-zap, para “libertar a população da destruição de valores cristãos e morais”.

O fundamentalismo religioso do bando miliciano-militar que assumiu a República é tão tosco e falso como uma nota de sete reais: “Fé, honestidade e família”.

Sim, e daí?

E daí é que o Brasil terá pela primeira vez na vida um partido da ultradireita legalizado, que já tem até um bloco de jornalistas saídos das tumbas para defender os seus “princípios”.

Seria cômico, se não fosse tão trágico, o que está acontecendo no Brasil.

“A legenda que o presidente quer criar surge ancorada em valores reacionários, no populismo e no personalismo puro”, resume Bruno Boghossian, em sua coluna na Folha.

É tudo tão maluco, que um desconhecido político do Amapá, chamado Davi Alcolumbre, catapultado à presidência do Senado pela “nova política” bolsonarista, sai por aí, sem mais nem menos, pregando uma nova Constituinte.

Daqui a pouco algum outro alucinado vai propor a volta à Monarquia já que a República não deu certo. Por que não?

Na reunião com os deputados em que “apresentou” seu novo partido à clientela, Bolsonaro cobriu de mesuras o “príncipe” Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), como relata Monica Bergamo:

“Príncipe, estou te devendo eternamente. Você deveria ter sido meu vice, e não esse Mourão aí. Eu casei, casei errado. E agora não tem mais como voltar atrás”.

Como a fidelidade conjugal e partidária não é o forte do presidente, no mesmo dia ele plantou também na imprensa o nome de Sergio Moro para ser seu vice em 2022.

Ainda não se sabe o que o atual vice, general Mourão, está achando destas confidências presidenciais.

Se ainda estivessem num quartel e não no Palácio do Planalto, o general certamente daria uma tranca no capitão…

Vou relatando estes fatos como se fossem as coisas mais naturais do mundo, mas é assustador o grau de degradação do cenário político nas últimas horas.

Enquanto isso, longe desse barulho e do pega pra capar em Brasília, e sem entrar em divididas, Lula embarca à tarde para Salvador, onde participará da primeira reunião do PT depois de sair da prisão.

E faz bem em ficar pelo nordeste até domingo, quando uma grande festa popular o aguarda em Pernambuco, sua terra natal, de onde saiu com 7 anos, num pau-de-arara para São Paulo, em viagem que durou 13 dias e ainda não terminou…

Vida que segue.

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